sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A VIDA da Vida

Refiro-me à VIDA (maior): Aquela da qual provieram todas as demais vidas (incluindo, é claro, esta nossa que estamos vivendo no presente momento). VIDA (primeira): que a natureza inteira necessita para que se mantenha viva e atuante, transformando-se a cada novo ciclo e renascendo a cada nova geração.

Os cientistas falam de um chamado “Big-Bang”, uma espécie de explosão que, de acordo com cálculos presumidos, teria acontecido a uns 13 bilhões de anos atrás, dando origem à formação do Universo e ao início daquilo que convencionamos chamar de “tempo”.

Da referida explosão, também conhecida pelo nome de “energia primordial”, teriam sido formadas as grandes estrelas. Destas, por sua vez, teriam surgido estrelas menores e nebulosas.

Já as substâncias químicas teriam sido formadas da aglomeração de moléculas. Como desdobramento dessas transformações, do agrupamento de vários tipos de moléculas em estruturas complexas, desenvolveram-se outros modos especiais de vida tais como: os minerais; os vegetais e os animais desde os menores (microscópicos) até os maiores (os dinossauros, por exemplo), culminando com o surgimento dos seres humanos com capacidade de desenvolver a racionalidade e a consciência de sua própria existência e maneira de se reconhecer existindo.

Os caminhos percorridos pelos cientistas e os caminhos percorridos pela fé não precisam necessariamente se contrariar nem se contradizer. Na medida em que ambas as visões se clarificam em seus caminhos, estas podem também convergir ajudando-se mutuamente em suas constatações e compreensões.

Na linguagem bíblica do livro do Gênesis, a criação do homem é descrita como se Deus fosse um oleiro que confeccionasse Adão (nome que significa: feito do barro), utilizando-se da terra (natureza: matéria pré-existente) e de suas próprias mãos. Concluída a edificação da imagem, Deus sopra sobre ela, transmitindo-lhe a vida saída de si: “criou-o à sua imagem e semelhança” diz a Bíblia.

No capítulo 3 do livro do Êxodo, o texto relata que, tendo Deus falado a Moisés numa sarça (planta) ardente (sem que se consumisse com o fogo), ao perguntar-Lhe com qual nome deveria chamá-Lo, obteve a seguinte resposta: “Eu sou Aquele que é” ou “Eu sou o existente”: JAVÉ.

VIDA da VIDA foi o tema escolhido para o presente texto. VIDA que se manifesta (que se mostra). VIDA que se dá às demais VIDAS. No 3º. Capítulo, versículos de 16 a 18, de seu Evangelho, São João diz: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a VIDA ETERNA”. Pelo sangue de Jesus derramado até a última gota e por sua Ressurreição, a VIDA, antes transmitida pelo sopro de Deus, é agora enriquecida com seu Amor, que permeia a alma humana e toda a natureza criada por DEUS: EXISTIR (em maiúsculo), que ultrapassa (transcende) a tudo e a todos.

Postado por José Morelli

domingo, 16 de dezembro de 2018

Utopia

Nas antigas barracas de tiro ao alvo dos parques de diversões, onde se fazia uso de velhas espingardas de chumbinhos, sempre era preciso mirar um pouco mais acima do alvo, a fim de que o projétil pudesse atingi-lo mais abaixo, na altura em que este se encontrava efetivamente. Assim, também, as pessoas, tanto individual como coletivamente, precisam fantasiar (mirar mais alto) suas próprias aspirações de maneira idealizada, armazenando uma quantidade maior de energia, em seu próprio pensamento e em suas próprias forças físicas.

Utopia é esse sonho de vida melhor que impulsiona as pessoas para frente ou para cima. A utopia funciona como a cenoura pendurada na ponta de uma vara e segura pelo cavaleiro, mantendo-a a frente dos olhos de um cavalo. Na ânsia de conseguir pegar a cenoura, o cavalo corre ao seu encalço sem, porém, nunca conseguir alcançá-la. Da mesma forma como a cenoura para o cavalo, as utopias têm o mérito de fazerem as pessoas se movimentarem, não se deixando acomodar frente às dificuldades.

A palavra utopia provém do grego e, por sua etimologia, significa lugar inexistente. De acordo com o Google, ainda, utopia tem como significado mais comum a idéia de civilização ideal, imaginária, fantástica. Pode referir-se a um sonho ainda não realizado, uma fantasia, uma esperança muito forte.

Utopias podem ser constituídas de valores materiais ou imateriais. Mais comumente do que se pode pensar, as utopias fazem parte da vida das pessoas e das coletividades. Muito do que se pode perceber acontecendo, no presente, teve seu começo em utopias, criadas em pensamentos e corações de muita gente. A vida pessoal de cada indivíduo, também, pode receber grandes impulsos a partir de utopias (sonhos) que, sucessivamente, vão servindo a consecução de novos ideais. A transformação, em realidade, de cada um deles, suscita o surgimento de nova utopia, novo sonho. A necessidade de preencher os vazios abertos por essas realizações estimula a imaginação em seu papel de arquitetar sempre novas utopias.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Ariano Suassuna

Um dos nomes mais importantes da literatura brasileira da atualidade ainda é o do romancista, dramaturgo e poeta Ariano Suassuna, falecido no ano de 2014 aos 87 anos de idade. Nascido em João Pessoa, na Paraíba, residiu a maior parte de sua vida em Recife, Pernambuco. Dentre suas obras, merece destaque o “Auto da Compadecida”, escrita em 1955, traduzida e representada em nove idiomas, além de também ter sido adaptada para o cinema, obtendo grande sucesso.

Ariano Suassuna se dedicou em pesquisar a cultura popular brasileira. Suas constatações quanto ao assunto merecem ser acatadas com credibilidade, uma vez que se fundamentam em considerações pertinentes e objetivas.  O jeito simples de se vestir e de se posturar, aliado à sua espontaneidade, são uma demonstração de como Ariano Suassuna encarna a importância que atribui às populações das zonas rurais mais pobres e humildes. Entende que, ao contrário destas terem obstruídos os próprios pensamentos, são capazes de torná-los ainda mais límpidos e reluzentes.

O juízo que Ariano Suassuna adota relativamente à origem do teatro no Brasil é de que este já existia mesmo antes da presença e da influência dos jesuítas; uma vez que os indígenas, subdivididos em nações e tribos, tinham em comum expressões de natureza poética e teatral muito fortes: na dança, na música, nas máscaras que usavam, nas plumagens e pinturas com que adornavam os próprios  corpos.

O ensino oficial das escolas costuma reconhecer como evoluídas e dignas de valorização apenas culturas originadas na Europa, no Oriente Médio e na Ásia, deixando de valorizar culturas das Américas, bem como aquelas advindas da África ou da Oceania, consideradas rudimentares e pré-históricas

As manifestações culturais são como elos de uma corrente. O presente e o passado obedecem a uma razão de continuidade. A falta de qualquer elo dessa cadeia impede a melhor compreensão do desenvolvimento cultural considerado em seu todo.

Postado por José Morelli

domingo, 25 de novembro de 2018

Defesas corporais e psicológicas

O organismo humano precisa de anticorpos que lhes sirvam como defesas contra gripes, viroses e outros tipos de infecções. Na medida em que um indivíduo mantém contato com o seu meio ambiente, vão sendo estabelecidas trocas entre ambos, que tendem a adequar um ao outro, dando-lhes condições de melhor interação e convivência. A criança que, desde os seus primeiros meses de vida é exageradamente protegida nos contatos com os micro-organismos, que proliferam em seu meio externo, não consegue desenvolver defesas contra muitos desses intrusos que, de inimigos podem e devem se transformar em seres menos nocivos.

O medo exagerado de contágio que leva os pais a adotarem posições extremadas quanto à proteção da criança frente ao mais leve vento, à mínima exposição ao sol, criando-lhe aversão de mexer na terra com as mãos ou de pisar com os pés descalços no chão, essas e outras restrições impedem-na de formar, no próprio corpo, um sistema de defesas capaz de protegê-la verdadeiramente. É mediante enfrentamentos com o meio que se estabelece a dinâmica que permite a formação dos processos de desenvolvimento das defesas corporais de humanos e irracionais.

Quanto às defesas psicológicas dos seres humanos, estas também se desenvolvem a partir das interações que estes estabelecem uns com os outros, com os fenômenos naturais e com as coisas em geral, cada uma com os significados que a mente vai lhes atribuindo. Da mesma forma como acontece nas defesas corporais, toda e qualquer proteção exagerada pode ter consequências negativas. É preciso acreditar na capacidade auto-regenerativa tanto do organismo físico como da capacidade mental/emocional das pessoas, quando em suas condições normais (saudáveis) de desenvolvimento.

O contato natural com o meio ambiente permite uma assimilação gradativa das condições adversas presentes no mesmo. As capacidades humanas vão, pouco a pouco, se desenvolvendo no sentido da superação, adaptando-se física e mentalmente. A visão com que cada indivíduo se percebe e ao mundo que se encontra à sua volta não pode ser apenas negativa, geradora de medo. É importante que as experiências concretas, vivenciadas no dia a dia, permita à maior parte das pessoas que essa estruturação se construa a partir de constatações que inspirem sentido positivo à própria vida, à vida dos outros e à vida do planeta que é o habitat comum de todos nós, seres humanos.  

Postado por José Morelli      
  

sábado, 17 de novembro de 2018

Manifestações inadequadas do amor (do bem querer)

É aquele lance do não dar o braço a torcer, expondo-se na própria vulnerabilidade afetiva. Não dar demonstração da importância que o outro ou outra realmente possui no pensamento e no coração; como se as manifestações afetivo-carinhosas do amor denunciassem fraqueza ou ingenuidade e, por isso, fossem incompatíveis com a realidade dura e “sem frescuras” da vida adulta, com senso de responsabilidade frente às imperiosas necessidades da vida em sociedade.

Pouco a pouco, o dia a dia dos casais tende confrontá-los com realidades sem disfarces. No imperativo de darem respostas a essas realidades, criam sistemáticas que lhes permitam respostas eficazes às demandas das mesmas. As atenções a serem prestadas são muitas: a manutenção da casa, o trabalho de cada um, os negócios, os filhos, os parentes de um lado e de outro, a vida social... Essas e outras necessidades competem com a da atenção do casal, através do afeto mútuo, que é, sem dúvida, uma das manifestações adequadas do amor, embora não seja a única.

Quando não deixam espaço a essa dedicação, as atitudes tendem a se transformarem. Tornam-se mais frias e ríspidas, aparecem as críticas que se expressão em queixas e censuras. O egoísmo cresce e, com ele, o individualismo de um para um canto e outro para outro canto.

O medo e o amor próprio fazem com que fiquem disfarçando o tempo todo. Embora exista nos mesmos o propósito de viverem juntos até o fim da vida, vão deixando o tempo passar, tempo único e precioso que não tem retorno. Perdem-se, assim, na competição entre o amor próprio e a manifestação do amor para com o outro, sem se darem conta de que esta forma de agir é mesmo um “feitiço que se volta contra i o próprio feiticeiro”.

Não fazendo uso de manifestações de afeto positivo, o amor não cresce nem se desenvolve a contento. Medíocre e atrofiado, ele não permite correr riscos: mas, por outro lado, também, não traz nem satisfação nem alegria de viver. É a vitória do medo, com suas fugas estratégicas, sobre a coragem de assumir e assumir-se.  

Postado por José Morelli

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Projeções

Eu me projeto, tu te projetas, ele se projeta, nós nos projetamos, vós vos projetais, eles se projetam. Projetar-se é o mesmo que mostrar-se, revelar-se, exteriorizar-se ou, de acordo com a etimologia da palavra projeção, lançar-se para fora. Mostramo-nos através daquilo que dizemos ou fazemos. Através de nossos gestos e expressões faciais, manifestamos e mostramos os sentimentos que se encontram presentes em nosso íntimo. Projeções são exteriorizações. “A boca fala daquilo que o coração está cheio”, assim adverte a Bíblia Sagrada em um de seus ensinamentos.

O detector de mentiras é um equipamento utilizado pela polícia investigativa para descobrir, mediante aquelas projeções que fogem do controle do suspeito, se ele, ao responder às perguntas que lhes são feitas, está ou não mentindo. Mesmo quem mente com convicção, não consegue controlar todas as suas mínimas manifestações.

Por mais seguro que o jovem procure aparecer diante da garota por quem está apaixonado, é normal que algum pequeno deslize de seu comportamento, o denuncie de que não se encontra tão seguro e tranquilo como tenta transparecer.

Não só as ações projetam o que se passa no interior de cada pessoa, as omissões também, talvez com menos clareza e mais ambiguidade, isto é, deixando mais margem de dúvidas quanto às verdadeiras razões, que se escondem no coração. Geralmente, a contenção da comunicação, revela o lado que o indivíduo menos gosta de si e em si: sua timidez, seu orgulho e sua falta de aceitação pessoal, comprometendo-se em sua auto-estima e realização.

A repetição dos mesmos assuntos nas conversas é uma forma de projeção. Quem fala só de si mesmo ou do próprio trabalho, só de dinheiro, só de futebol ou só de religião, fecha-se nos assuntos de sua convergência. Não vê e nem ouve o mundo e os outros que estão à sua volta, reconhecendo-os e valorizando-os em suas importâncias. Com isso, impede-se de aumentar e desenvolver o alcance de suas capacidades.

Postado por José Morelli




terça-feira, 30 de outubro de 2018

Afeição e medo da rejeição

Karen Horney era doutora em medicina. Em seu livro: “A Personalidade Neurótica de Nosso Tempo”, ela traz o exemplo de como se sente a pessoa que é dominada por uma necessidade neurótica de atenção. Em vista de seu sentimento, essa pessoa, interiormente, diz assim: “Os outros não gostam de mim, de modo que é melhor ficar num canto e assim proteger-me contra qualquer possibilidade de rejeição”.

Quando a necessidade de afeição é muito intensa, o medo de não satisfazê-la e de sentir-se rejeitado passa também a ser intenso. Esse medo é o maior obstáculo da pessoa na busca da afeição. Entendendo dessa forma, fica mais fácil compreender o fato de pessoas, com grande necessidade de afeição, serem mais agressivas, justamente com aqueles (as) de quem recebem ou poderiam receber atenção ou afeto.  

O simples desejo de afeição já pode representar ameaça, uma vez que, do desejo, poderá advir alguma repulsa. Assim, a pessoa se reprime naqueles desejos que, mesmo de longe, possam levá-la ao envolvimento afetivo. A timidez, nesses casos, não passa de um mecanismo de defesa. Da mesma forma, a convicção assumida de não ser digno ou digna de amor é também outra maneira de se criar uma proteção contra possíveis desilusões.

O indivíduo com necessidade neurótica de afeição prepara armadilhas para si mesmo. Consegue “estragar” o que de melhor poderia lhe acontecer. Muitas vezes, no momento em que tudo parecia que ia dar certo, adota atitudes que, simplesmente, destroem a possibilidade de o envolvimento afetivo se consolidar.

Nasce, então, o desespero. O indivíduo não se dá conta de que foi ele próprio que preparou as armadilhas, nas quais se enredou. Não consegue desvendar as confusões por ele mesmo preparadas. O desespero é a resposta que tem a dar a tudo isso. O relacionamento afetivo termina na esperança de que outro o venha substituir, na esperança de que não lhe aconteça ter de reviver novamente todo esse doloroso processo. Esse círculo vicioso só pode ser minorado, caso o indivíduo, através de uma terapia de autoconhecimento, desvende para si os segredos que dão origem às suas reais  dificuldades.  
Postado por José Morelli

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

"Fio da meada"

Encontrar o “fio da meada” é uma expressão de nossa língua portuguesa. Vi, no dicionário, que “meada” significa “porção de fios dobrados, emaranhados”. Quem já passou pela experiência de ter de desmanchar um emaranhado de fios, sentiu a importância de encontrar a ponta, a fim de tornar a tarefa menos demorada. Desde que a tenha identificado, não que o trabalho deixe de apresentar dificuldade, mas passa a render e a ter uma razão de continuidade e de progressão: com princípio, meio e fim.

Desmanchar um emaranhado de fios é um processo a ser realizado em etapas. Respeitar a sequência natural dessas etapas, contendo-se na própria ansiedade, é um fator indispensável para que a ação seja realizada de maneira mais eficaz. A voz do povo alerta que “a pressa é inimiga da perfeição”. De fato, a pressa dificulta os indivíduos de entrarem em contato com aquilo que estão fazendo. A sintonia do olhar com o objeto de sua ação, a boa coordenação dos movimentos das mãos... Essas e outras condições se tornam mais difíceis pela falta de certo controle da emoção.

Um emaranhado de fios pode muito bem servir de comparação para muitas situações da vida, no dia a dia. Embora nenhuma comparação seja perfeita em sua capacidade de esgotar toda a realidade, ainda assim não deixa de ajudar tanto na expressão das ideias, através da linguagem, como no exercício dos próprios desempenhos, mediante atitudes concretas, que envolvam o corpo, forçando-o a mobilizar-se e a mexer-se adequadamente.

Pensando no que foi exposto até aqui, talvez se possa dizer que o corpo é a ponta do fio da meada. Encontrando-a no corpo, fica mais fácil “desenrolar” o problema, no que ele tem de mais oculto ou profundo. Neste caso, as partes do corpo envolvidas poderiam ser entendidas como “terminais”, assim como os dos computadores, ligados às centrais de informações e de dados.

A profundidade ou complexidade da vida humana, no entanto, não pode resumir-se a noções mecanicistas. Embora certas ideias e metodologias possam ajudar na solução de problemas de ordem psicológica, não conseguem esgotar o que é necessário para o desvendamento mais completo de suas causas e natureza. Na mão dupla dos caminhos, o sentido oposto representado pelo inconsciente e seus meandros completa os recursos disponíveis, constituindo-se num imenso arsenal, dinâmico e incomensurável, a disposição dos profissionais, que se dedicam a esse estudo e à busca de solução de problemas existenciais dos seres humanos.  

Postado por José Morelli

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Pano de fundo do palco interior

O pano de fundo do palco, nos teatros, se complementa com os bastidores, cujos espaços intermediários servem à entrada e saída de cena dos personagens. Desde que nossos olhos passaram a captar imagens, nossos ouvidos a perceber a diferenciação dos sons, nosso nariz e boca a se darem conta, respectivamente, dos cheiros e dos sabores, nosso tato passou a atinar para as diferenciações entre as sensações percebidas na pele, passamos a armazenar referências que povoam nosso imaginário, subsidiando a tudo aquilo que pensamos e entendemos.   

Através de nosso palco interior antecipamo-nos aos acontecimentos. Nele representamos a nós mesmos, juntamente com os demais personagens, com os quais imaginamos que iremos contracenar nos múltiplos papéis que desempenhamos em nosso dia a dia. Preparamo-nos para o que vamos fazer dispondo-nos interiormente. O professor, ao preparar suas aulas, já imagina como seus alunos irão responder aos estímulos que deseja utilizar em suas estratégias de ensinamento. O pano de fundo desse palco interior do professor pode ser permeado de otimismo ou de pessimismo. A coloração e a luminosidade das imagens impressas no fundo desse palco podem servir ao encorajamento ou ao desânimo do professor. As consequências desse pano de fundo se refletem no aprendizado dos alunos.

Cada profissão sobrevive a partir do palco interior que cada profissional carrega em seus referenciais. Quando a mídia faz uso excessivo das notícias policiais para ganhar audiência, os referenciais dos profissionais dessa área transparecem nas notícias. O olhar aguçado para discernimento de quem é mocinho e de quem é bandido vai sendo repassado aos destinatários das notícias, contaminando suas mentes. Da mesma forma, os agentes religiosos que se utilizam dos canais de televisão para, ininterruptamente, transmitirem suas mensagens, repassam subliminarmente o pano de fundo de seus juízos e julgamentos.

O pano de fundo de nosso palco interior se reflete em nosso modo de falar, de olhar, de nos posicionarmos frente às situações. Ele pode ser pleno da luz do sol, como pode ser carregado de nuvens escuras e ameaçadoras. Ele pode ser alegre como uma paisagem florida ou tristonho como um muro cinzento e sem vida.

Postado por José Morelli

sábado, 6 de outubro de 2018

Tese, antítese e síntese

A tese é a situação presente, o chamado “status quo”. A antítese (que se opõe à tese) é algo novo e diferente, às vezes diametralmente contrário, que vem ameaçar a estabilidade da situação presente. A tese e a antítese entram em confronto para ver qual das duas consegue se impor uma à outra. Desse confronto resulta uma Síntese, que é o resultado final com o surgimento de uma nova ordem a ser seguida, diferente e mais completa do que a anterior.

Com relação à saúde das pessoas, acontece algo semelhante: um indivíduo pode se encontrar saudável; porém, não totalmente resistente a ataques viróticos, uma situação presente que pode ser entendida como de uma tese. Acontece de esse indivíduo entrar em contato com ambientes infectados de algum vírus de gripe, situação esta que se apresenta como de uma antítese. Inicia-se, então, uma luta entre o organismo indefeso e o vírus; mas, num segundo momento, o primeiro se recompõe, ganhando nova resistência imunológica. O “veneno” do vírus transforma-se em força a ser utilizada pelo organismo, em futuros embates.

Nos dois exemplos citados existe uma lógica. Um provérbio popular costuma dizer que “o que não mata... engorda”! Existe sempre certo medo de que a antítese possa vir a matar. Para que isso não aconteça é necessário que o organismo seja mais forte que a virose e não se deixe vencer por ela.
Com relação à força psicológica ou mental/emocional, dos pensamentos e dos sentimentos, essa mesma lógica também funciona. Toda pessoa se constitui como personalidade, uma maneira de ser e de agir, que é como uma marca registrada, servindo-lhe como base em sua autoafirmação. Esta base é como uma tese. Na vida de qualquer pessoa, no entanto, é inevitável que tenha que checar a força de sua personalidade, confrontando-a com a de outra ou de outras pessoas.

Egos se confrontam. Tese e antítese passam pelo processo de terem que se desgastar em árduas luta. Pessoas que se mostram como “de estopins curtos” são um perigo. Dependendo da maneira como se entendem e entendem o processo pelos quais passam, será o resultado final. A síntese poderá ou não ser proveitosa tanto para uma como para outra das pessoas envolvidas. O mesmo vale com relação às coletividades que representam posicionamentos antagônicos.

Postado por José Morelli

sábado, 29 de setembro de 2018

Papel da psicoterapia

Quem procura um psicólogo ou psicóloga espera ser ajudado na superação ou diminuição de intensidade de problemas, que dificultam ou impedem seu bom desempenho humano, mental e emocional. Mesmo que, historicamente, a psicologia terapêutica tenha se institucionalizado a menos de dois séculos, esta tem sido aprofundada em seus estudos, contando com os grandes avanços das metodologias científicas desenvolvidas nos últimos anos. A medicina convencional seguiu caminhos diferenciados no Ocidente e no Oriente. 

As tradições criadas por esses dois modelos marcaram os modos de pensar e de se comportar das pessoas no mundo todo. O diálogo científico tem permitido avanços de conhecimentos em vários sentidos. A facilidade dos meios de comunicação tem ajudado a romper as barreiras impostas pelas distâncias, permitindo aprofundados intercâmbios de informações. As culturas estão se misturando e recriando novos entendimentos e modos de sentir, modificando comportamentos nas pessoas. 

Os chamados distúrbios psicológicos costumam se manifestar através de sintomas, alguns deles diretamente relacionados a conflitos mal resolvidos, outros a manifestações corporais chamadas de somatizações. Conflitos existenciais podem dar origem a sintomas físicos que funcionam ou não como “pistas” para o desvendamento de suas causas, dependendo da resistência que cada indivíduo mobiliza no sentido de se proteger e de se preservar na própria imagem. 

O papel da psicoterapia é mediar o relacionamento entre o psicólogo e o paciente. O contato deve ser pessoal. O empenho precisa se revestir de boa vontade e de coragem no enfrentamento da realidade. Como acontece no dia a dia de qualquer pessoa ou sociedade, o medo é mal conselheiro e não ajuda no desenvolvimento quer individual, quer coletivo. Deixar-se dominar por ele, apenas retarda a solução dos problemas que dificultam a expansão da alma e do corpo. 

O psicólogo e escritor americano Carl Roger dizia que “todo relacionamento autêntico é terapêutico”. Sem dúvida, que ele entendia que essa autenticidade se iniciava no relacionamento de cada indivíduo consigo mesmo. Perder o medo de se ver na própria história e em seus desdobramentos é o que dá firmeza na construção, em que nos constituímos. 

Postado por José Morelli

domingo, 23 de setembro de 2018

Empatia

“Tendência para sentir o que se sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa”. Assim define o Dicionário “AURÉLIO” a palavra empatia. Acontece de algumas pessoas confundirem essa palavra por outra parecida com ela: simpatia. Os sentidos dessas duas palavras são diferentes e não se confundem. Outra explicação do que é empatia é dizer que se trata de uma capacidade de ver através dos olhos da outra pessoa. A sintonia de sentimentos é que permite essa percepção, em que a intuição se torna extremamente aguda e penetrante envolvendo a realidade do outro em grande abrangência.

A empatia pode ser recíproca. Duas pessoas podem manter um relacionamento tão intenso, que lhes permite o desenvolvimento desse tipo de percepção mútua. Não é preciso que expressem através de palavras seus pensamentos e sentimentos. Uma entende a outra apenas pela observação do olhar ou do tom da voz ao telefone.

Quando ouvimos a respeito de algum acidente, acontecido do outro lado do mundo, envolvendo pessoas das quais pouca ou nenhuma afinidade temos quase não nos impressionamos. Porém, quando acidente semelhante acontece com pessoas que nos são próximas ou conhecidas, imediatamente nos colocamos no lugar delas, sentindo o acontecimento com maior intensidade.

A sensibilidade para com problemas sociais da comunidade ou do país em que vivemos pode, também, ser entendida como uma espécie de empatia (social ou cidadã). O país, na verdade, é tão grande em seu tamanho e possui necessidades tão imensas e de inúmeros aspectos. Contribuir, na medida da própria capacidade, a essas necessidades é uma tarefa que exige vontade firme, coragem, conhecimento e informação confiável, bem como intenções políticas da parte dos governantes e das elites poderosas.

A empatia é sensível à felicidade e à tristeza. A empatia é um contágio, passando de um para outro, podendo se transformar em um sentimento social generalizado. Se não conseguimos escapar de sofrermos com os que sofrem, praticaríamos uma injustiça conosco mesmos, se não nos deixássemos influenciar, também, pela felicidade e alegria daqueles e daquelas que se encontram felizes e se alegram com a própria vida.  

Postado por José Morelli

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Dinâmica pessoal

Pessoal (personalizada), que traz nossa própria assinatura ou nossa própria marca registrada (DNA). Reconhecemo-nos e devemos ser reconhecidos no que somos e na maneira como funcionamos, isto é, em nossa dinâmica pessoal, na energia que flui e impulsiona nosso ser físico e mental.  Dinâmica que se constrói constantemente, emergindo a partir das demandas internas e externas. Assistimo-nos vivendo nossa própria dinâmica e assistimos à dinâmica dos que conosco vivem e convivem.
À semelhança dos astros e estrelas que perfazem suas trajetórias no espaço sideral; assim também nós nos influenciamos uns aos outros, ao mesmo tempo em que cumprimos nosso papel pessoal na grande sinfonia da existência humana: terráquea e cósmica.

As dinâmicas pessoais de cada um de nós dialogam umas com as outras. No âmbito interno de nosso próprio organismo, as dinâmicas das diversas partes em que nos constituímos também estabelecem diálogos que impulsionam trocas recíprocas entre as mesmas.   O que nossos olhos veem estimula o funcionamento de nosso cérebro que, por sua vez, completa o circuito promovendo o comando à movimentação daqueles para outras direções.  De modo parecido, esse mesmo diálogo acontece entre nossas fantasias, sensações e sentimentos.

Vivemos um momento histórico incrível em todos os sentidos: do máximo ao mínimo. A certa parcela da população mundial é dada a possibilidade de usufruir os mais sofisticados avanços tecnológicos e de confortos que podem proporcionar-lhe grande bem estar, enquanto que a outras parcelas nem o necessário lhes é possibilitado ter. A consequência disso implica em dinâmicas pessoais extremamente diferenciadas. Embora continuemos humanos por natureza, precisando comer, beber, vestir e manter-nos higienizados e protegidos minimamente isso não significa que tais necessidades venham sendo atendidas da forma como o deveriam ser. Cem milhões de brasileiros ainda não podem contar nem com uma infraestrutura básica de saneamento em suas casas.  

O planeta Terra possuiu estruturalmente as condições necessárias de proporcionar a cada nova geração o necessário à sua permanência e desenvolvimento. Com inteligência, criatividade, capacidade artística e outros dons os humanos construíram obras admiráveis que atraem milhões de turistas a diversas partes do mundo. A boa convivência entre indivíduos e coletivos, no entanto, é o teste mais desafiador de todas as gerações, da que estamos fazendo parte, especialmente.

Postado por José Morelli                              


quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Natalício de Maria

Da palavra “natal” deriva o termo “natalício” que é o mesmo que “aniversário”: comemoração do término de um ano a mais de vida e início de um novo ano.  No dia 15 de agosto passado a tradição católica recordou a Assunção de Maria (final de sua vida terrena). Com leituras bíblicas do Antigo e do Novo Testamento, a liturgia mostrou a importância desta mulher, cuja missão foi a de ser o elo humano que uniu e une Jesus à humanidade e a toda obra criada em sua grandiosidade temporal e espacial. No livro do Apocalipse de São João, Ela é descrita trajando um manto brilhante como o sol, tendo na cabeça uma coroa com dozes estrelas e sob os pés a lua. Um dragão em fúria ameaçava-lhe subtrair o filho recém-nascido. Coube-lhe o papel de protege-lo esmagando, com seus pés, a cabeça da serpente, conforme já havia sido pré-anunciado no Livro do Gênesis (Gn 3,15). 

A cada ano, no dia 8 de setembro, a liturgia reinicia a contagem da história de vida de Maria a começar pela celebração de sua natividade (natalício). Nesse dia, de seu aniversário, a Penha comemora também a festa de sua padroeira: Maria, sob o título de Nossa Senhora da Penha. O documento em que consta a existência da primitiva capela da Penha é de 11 de fevereiro de 1667. Para comemorar o aniversário do bairro deveria ser escolhido um dia que melhor o pudesse representar. No mês de setembro também a Penha foi elevada à condição de Freguesia pela rainha Dona Maria I, de Portugal. Isso se deu através do documento por ela publicado no dia 15 de setembro de 1796. A convergência de tantos acontecimentos ocorridos no mês de setembro, levou ao consenso de que o dia 8 seria o mais adequado à essa comemoração. Portanto, até que não se encontre outro documento mais antigo do que esse, a Penha está comemorando 351 anos de existência histórica. 

Quando o historiador, Dr. Sylvio Bomtempi, escolheu um título para seu livro sobre o bairro penhense entendeu que o nome “Penha Histórica” seria condizente com a condição de historicidade que o lugar possui, tendo em vista a quantidade de documentos disponíveis a seu respeito. Essa peculiaridade histórica do bairro se expressa também nos edifícios que lhe foram reconhecidos como patrimônios histórico-culturais pelos órgãos de preservação do município e do estado de São Paulo: a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França; o Colégio Santos Dumont; O Ginásio Estadual Nossa Senhora da Penha. No início de 2018, no dia 26 de fevereiro, o Compresp decretou o tombamento do Centro Histórico da Penha. A partir de então, leis especiais regem o uso desse espaço no sentido de manter-lhe sua qualidade de bem histórico a ser preservado e desenvolvido. 

A iconografia da Penha começa com a chegada da imagem de Nossa Senhora da Penha que, hoje, se encontra no altar mor da Basílica da Penha, talvez trazida para cá antes mesmo da edificação da primeira capela. Ela é entalhada na madeira e possui toda originalidade que lhe deu o artista que a confeccionou. Uma de suas características é a de trazer em seu braço esquerdo a pessoa do Menino Jesus. Essa é sua missão. Da mesma forma é a iconografia de Nossa Senhora do Rosário e da imagem de São Benedito, ambas encontradas na Igreja do Rosário. Essas três images possuem como característica comum trazerem Jesus nos braços. Os santos são a prova do Amor de Deus para com os homens e mulheres de todos os tempos e lugares. Os santos comprovam que a obra de Deus não fracassou e não irá fracassar nunca. Essa é a razão que temos para festejar, entendendo que a vida vale à pena e que, como diz o cancioneiro popular brasileiro: “desesperar jamais” (Ivan Lins).

Do livro por mim publicado “Penha de França – Expressões do Rosário”, em edição primorosa, aqueles que desejarem adquiri-lo poderão fazê-lo a preço promocional de 50,00 reais, nos seguintes pontos de venda: Basílica da Penha; Casa Morelli de Bolsas; Penhita Modas; Pop Flores e Igreja do Rosário.  

Postado por José Morelli

domingo, 26 de agosto de 2018

MEU corpo

É assim que a ele me refiro: “meu”. Ele pertence à “minha” pessoa. Sou seu dono e respondo pelas ações que o mesmo realiza ou deixa de realizar. Se minha consciência, a partir da massa corporal encefálica em que se constitui meu cérebro, constrói pensamentos e juízos bem como processa sutis percepções sensoriais e emocionais, não consigo deixar de entender-me como um ser que transcende minha condição apenas corporal: identifico-me também como um ser animado, isto é, dotado de vida consciente. Vejo-me refletido no espelho de minha própria consciência: existo e sou consciente de que existo da forma como me percebo existindo.

Não há nada mais próximo de mim mesmo do que meu corpo. Com ele convivo ininterruptamente: todos os dias, todas as horas, minutos e segundos.   Dialogo com meu corpo e ele dialoga comigo. Ele fala e minha consciência responde às suas mensagens. Os códigos que utiliza são muitos: percepções tácteis; audíveis; visuais; odoríficas; gustativas. É papel de minha mente decodificar todos esses códigos atribuindo-lhes sentidos específicos.  

Diferentemente dos computadores modernos, da união entre meu corpo e minha consciência, meu ser inteiro é dotado da capacidade de atualizar mudanças estruturais de novos e novos funcionamentos, tanto no corpo como na mente com poderes inclusive regenerativos e de redirecionamentos. Sensações corporais de confortos e de desconfortos (de prazeres e de desprazeres) podem despertar a atenção de minha consciência. Convidam-me ao diálogo e à interação mediante ações motoras e comandos de atitudes efetivas e afetivas.

Compartilhamos nossa identidade com a identidade de todos os que nos cercam e das coisas que existem e giram à nossa volta. Estimulações é que não nos faltam nessa dialética toda. A riqueza da vida é tamanha que é impossível dimensiona-la. Daí a capacidade infinita de caminhos a serem escolhidos por cada um de nós em nossa individualidade e na coletividade da qual fazemos parte. Importante mesmo é não perdermos a confiança e a esperança em nossas capacidades regenerativas e de escolhas de melhores caminhos, que atendam não só às nossas demandas pessoais como as que nos advêm do meio social do qual compartilhamos nossa conterraneidade e nossa contemporaneidade.

Postado por José Morelli

domingo, 19 de agosto de 2018

Dicotomia

Dicotomia é a separação, em duas partes e por vezes indevida, de algo que, na verdade, se constitui como um todo completo e indivisível. Um bom exemplo de dicotomia é o que é atribuído à lua em algumas de suas fases. Quando ela não se encontra em suas formas de nova ou de cheia, mas é vista como crescente ou minguante, a impressão é de que esta se encontra dividida. A parte, não recoberta com a sombra da Terra, recebe a luz solar e, por isso, se torna luzente (irradiando luz). Essa partição da lua, dividindo-a em seu todo, é chamada de dicotomia. O dia completo compreende vinte e quatro horas. Ele também sofre uma dicotomia, partindo-se como dia e como noite: claro e escuro respectivamente. O bem e o mal também são partes de um todo. Complementam-se como as duas faces de uma mesma moeda: cara e coroa.

Nossa condição humana se dá nesse contexto de dicotomias. Constituímo-nos como corpo e mente (pensamento/consciência). A tradição religiosa entende o homem como um ser dotado de corpo e alma (espírito). Nossa vida física se dá no tempo e no espaço. O momento presente, em que acontecemos no aqui/agora, mantém laços de complementariedade com o passado e com o futuro.

Todas as manhãs, a escuridão da noite vai, gradativamente, sendo substituída pela claridade do dia, na chamada aurora matinal. De forma semelhante, nos fins de tarde, a claridade do dia vai, gradativamente sendo substituída pela escuridão da noite, no chamado crepúsculo vespertino ou anoitecer.  O momento exato de quando termina o dia e se inicia a noite não pode ser definido com precisão.

Convivemos, em nosso cotidiano, com indefinições e incertezas. Essas indefinições e incertezas são um grande desafio para nossa inteligência e para nossa vontade humana, um teste que exige esforço constante de discernimento em cada nova situação. A vida não sobrevive sem criatividade nas respostas às demandas emergentes. Individual e coletivamente somos todos desafiados a posicionar-nos frente a questões importantes.

Tudo possui uma razão de bem e uma razão de mal. Dependendo da forma como é vista e entendida, uma mesma coisa pode ser construtiva ou destrutiva. Moral e ética se complementam para nos ajudar no discernimento do que nos é bom ou mal (pessoal ou socialmente), do que devemos escolher fazer ou deixar à margem de nosso caminho.

Postado por José Morelli

domingo, 12 de agosto de 2018

Jornada do Patrimônio 2018

Nos dias 18 e 19 próximos, o Núcleo de Valorização do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal da cidade de São Paulo estará promovendo a Jornada do Patrimônio do corrente ano – uma cidade, muitas mãos. Fazem parte da programação: - Roteiros de Memória; - Visitas a Imóveis históricos; - oficinas e palestras. No cartaz de divulgação, o convite lembra o conhecido samba de Adoniran Barbosa - “Se o Senhor não tá lembrado, dá licença de contar!”

O bairro da Penha também estará sendo contemplado nesse evento que acontece em toda capital paulistana. No dia 18, sábado, às 11:00 horas, no interior da Igreja do Rosário, situada no Largo do Rosário s/n, estarei proferindo uma palestra sobre o Patrimônio Histórico em que se constitui a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pela Antiga Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França. “Expressões do Rosário” é o título dado à palestra. A intenção é de discorrer tanto sobre o patrimônio material como sobre o patrimônio imaterial, além de histórias embutidas nesses dois contextos.

De tantos patrimônios existentes no passado mais remoto, poucos permanecem em suas integridades e ainda podem ser vistos e tocados nos dias atuais. Eles fizeram parte de histórias envolvendo nossos antepassados, permitindo-nos que façamos deles novas leituras sob o olhar daquilo tudo que entendemos como modernidades hoje. Oportunidade de viajarmos no tempo relendo e interpretando as marcas que ainda permanecem na materialidade do espaço físico.

Convido aos leitores e leitoras desta coluna a que venham participar desta palestra, trazendo a própria curiosidade de ampliar seus conhecimentos sobre a historicidade que nos cerca e nos é comum. Realidade que se constrói no tempo, célere e ininterruptamente, e que nos escapa pelos vãos dos dedos; porém, deixando-nos no subconsciente indeléveis sinais de sua passagem.

A divulgação do evento em seu todo pode ser encontrada no site: www.jornadadopatrimonio.prefeitura.sp.gov.br/2018

Postado por José Morelli

sábado, 4 de agosto de 2018

Saber discutir

O teatrólogo Nelson Rodrigues dizia que “toda unanimidade é burra”. Divergir nos pensamentos é próprio da condição limitada da percepção humana. Todo cidadão adulto tem sua própria cabeça e é, com ela, que deve pensar e escolher o caminho a seguir. O viés a partir do qual cada indivíduo visualiza a realidade, nunca é idêntico àqueles que têm os outros. Uma discussão, capaz de fazer evoluir o pensamento, é aquela em que as pessoas sabem se controlar em suas emoções, argumentando em favor de seus pontos de vista e sabendo reconhecer as razões que levam os outros a conclusões diferentes.

Medo, insegurança, intenções escusas, presunção de superioridade dificultam os indivíduos de tirarem melhor proveito de suas trocas de ideias. Para se levar à frente uma sadia discussão é preciso certa maturidade emocional. Assuntos sem grande importância, que não levam a nada, não merecem ser discutidos. Assuntos importantes, porém, precisam passar pelo teste de boas conversas que ajudem a um melhor discernimento de suas razões e fundamentos.

O momento atual de crise institucionalizada, que atinge não só os países em suas organizações internas e as maneiras como estabelecem suas trocas comerciais, fortemente pressionadas pelo grande capital e por poderosas instituições globalizadas, oferece importantes questões para serem discutidas pelos políticos e pelo povo em geral, elo mais vulnerável de toda a corrente social. São justamente as diferenças de pontos de vista que tornam as discussões mais ricas. A coragem de expor os próprios pensamentos com a maior clareza e honestidade e de saber ouvir e avaliar os pensamentos dos outros é o que pode garantir, a todos, escolhas mais criteriosas e que atendam às suas necessidades básicas. Querer somente falar e não ouvir é presunção e autoritarismo, indício de imaturidade e insegurança pessoal.

Que a oportunidade que nos oferece o atual momento histórico nos ajude a aprimorar-nos na arte de saber discutir. A democracia, em sua essência, parte do pressuposto da igualdade de direitos. Mesmo que tentem “jogar areia nos olhos do povo”, o cidadão ou cidadã deve se mostrar consciente do que pensa e quer, instrumentalizando-se de tudo o que pode ajudá-lo para melhor uso de sua consciência. É da justiça que provem a paz e a harmonia entre todos e todas.

Postado por José Morelli

terça-feira, 31 de julho de 2018

Poluição emocional

Em sentido literal, são mais conhecidas e comentadas as poluições da atmosfera, do solo e das águas. Com certa frequência, também, ouvimos falar das poluições visuais e sonoras (auditivas). Quanto à poluição emocional, seu sentido não é literal, mas figurativo apenas. A palavra poluição pode ser facilmente entendida por todos nós, que vivemos no atual momento histórico; uma vez que, em nenhum outro tempo, como este nosso, essa palavra foi e tem sido tão propalada em documentários e notícias.

Bem ou mal comparando, da forma como os resíduos tóxicos permeiam o ar, solo e águas; assim também alguns sentimentos ou estados emocionais incômodos se instalam em nossa mente e em nosso corpo, permeando-os e sequestrando-os de alguma forma.  Sentimo-nos desconfortáveis, sem total clareza do por que ou de onde surgiram tais sensações e fantasias. Identificamo-nos com esses sentimentos, interpretando-os como partes indissociáveis de nossa integridade mental/emocional. Vivenciamos, assim, momentos de insegurança e de angústia.

A pensamentos e a idéias se associam sentimentos e sensações; uns se originando de outros. De ideias podem surgir sentimentos e de sentimentos podem surgir ideias. Sensações fortes e desagradáveis podem ser provocadas por sonhos ou pesadelos. Sensações relacionadas à percepção de nós mesmos (quanto à nossa integridade moral e à nossa saúde física e/ou psicológica), também podem ser comparadas a resíduos poluentes que impregnam as profundezas de nossa vida (de nossa alma/espírito/ intimidade).

Que poder temos para administrar essas sensações e sentimentos negativos e incômodos? Somos capazes de distanciar-nos de nós mesmos e do que estamos sentindo, separando o “quem somos” daquilo que momentaneamente nos incomoda? Somos suficientemente fortes e seguros de nossa identidade, à semelhança de um barco em alto mar, que não sucumbi à violência dos fortes ventos e das altas ondas, desde que bem conduzido por seu experiente timoneiro? A experiência de vitórias obtidas em lutas passadas nos ajuda a termos mais tranquilidade nas ocasiões em que precisamos nos despoluir emocionalmente.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Ajustado

Nem demasiadamente apertado, ao ponto de impedir os movimentos, nem frouxo demais, ao ponto de os movimentos não obedecerem a certa precisão indispensável. Ajustado/desajustado: partindo-se das experiências com máquinas, pode-se entender melhor esses dois termos antagônicos. Uma agulha mal ajustada, na máquina de costura, pode quebrar-se, romper a linha e até causar acidentes. Em sentido psicológico, a palavra “ajustado” é atribuída ao indivíduo que consegue, sendo ele mesmo, estabelecer trocas com outras pessoas e com o meio ambiente, dando e recebendo, de acordo com sua idade, sexo e condição social. Trata-se de um ajustamento, que pode ser medido nas áreas familiar, social, afetivo-sexual e profissional.

Das máquinas, consegue-se melhores rendimentos, quando suas peças estão bem ajustadas, sem apertos nem folgas. A sociedade industrial acostumou-se tanto com as máquinas, que passou a exigir das pessoas o mesmo que exigiam delas, esquecendo-se de que pessoas, dotadas de inteligência e criatividade, são muito mais do que simples conjunto de peças, por mais engenhosas que possam parecer. Na prática psicológica, a atribuição desses conceitos não é tão simples assim. Todas as manifestações do paciente, principalmente as que o caracterizam como “desajustado”, devem ser consideradas com o maior cuidado e profundidade. Atrás de algumas dessas manifestações de desajuste do paciente podem se ocultar conflitos graves e que necessitam de que vindo à tona possam ser desvendados em seus segredos. À semelhança de nós bem apertados, alguns desses conflitos podem ser parcial ou totalmente desfeitos, outros não.

A ideia de que a sociedade é um conjunto harmonioso e organizado, capaz de se encaminhar no sentido de seus objetivos, dá validade ao conceito de ajustamento, atribuído aos indivíduos. Não podemos nos esquecer, porém, de que a sociedade não é nem perfeita nem acabada. As instituições e pessoas que as representam, também, estão bem longe de serem perfeitas. As mudanças tendem a atualizar as respostas às necessidades, que surgem a cada novo instante.

O medo de mudar, que faz as instituições e pessoas se manterem apegadas ao antigo é um entrave ao bom ajustamento da sociedade frente às suas necessidades emergentes. Atenta àqueles mais corajosos e sensíveis, a sociedade poderá encontrar seus novos caminhos. Quanto ao ajustamento psicológico, na medida em que se desenvolvem as pesquisas e estudos científicos, novos conhecimentos vão sendo conquistados, descobrindo-se novos meios para tratamentos das pessoas que necessitam se ajustarem e, com isso, possam viver com mais qualidade e/ou produtividade.

Postado por José Morelli

sábado, 7 de julho de 2018

Essência e perfume

De um frasco de essência pode-se fazer uma quantidade grande de perfume. O contrário não é possível: ninguém consegue fazer de um frasco de perfume maior quantidade de frascos de essência. Porém, na hora de presentear, é comum que as pessoas deem mais preferência ao perfume que à essência. A boa dosagem na mistura com outros agentes garante ao perfume suavidade e prazer àqueles que têm a oportunidade de sentir seu cheiro.

Essência e perfume podem representar, simbolicamente, as pessoas e suas atitudes. Nas pessoas, a essência é o núcleo de sua personalidade, a base de onde se originam todas as ações que pratica. Assim como na essência existem características que a identificam, distinguindo-a de outras essências, extraídas de outras fontes, da mesma maneira, a personalidade possui características que se traduzem em atitudes especiais e únicas.

Os momentos oferecem as misturas a serem adicionadas à essência, originando-se assim as atitudes (os perfumes). Dependendo de onde se originam, as essências possuem fragrâncias básicas inconfundíveis. As personalidades trazem consigo, também, a marca de suas fontes. A soma dos fatores que constituem essas fontes é passada à personalidade de cada novo ser.

É verdade que, no transcorrer do tempo, a personalidade recebe outras contribuições externas que, somadas aos fatores internos, a tornam única em sua forma de ser ou existir. Esta identidade original da personalidade transfere-se para as atitudes dela nascidas.

À semelhança dos perfumes, as atitudes conservam sempre a fragrância básica de sua essência. Percebe-se com capacidade de proporcionar-se a si mesmo e aos outros suavidade e prazer. Através das próprias atitudes, estimula o desenvolvimento de um lado necessário a todas as pessoas, a fim de que possam se sentir racional e afetivamente equilibradas e realizadas.

Postado por José Morelli 

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Alienação

É o mesmo que abdicar de si ou daquilo que lhe é próprio ou lhe diz respeito. É negar a si mesmo direitos e/ou obrigações inalienáveis e intransferíveis. É não reconhecer-se como sujeito de suas próprias atribuições. É desviar-se do próprio caminho, através do qual poderia chegar a uma maior realização pessoal, de acordo com o fluir de suas próprias capacidades. Alienação diz respeito à diminuição da capacidade de as pessoas pensarem e agirem a favor de si mesmas.

Existem várias alienações possíveis: a alienação mental daqueles que sofrem de doença psicopatológica e que lhes impede que tenham sintonia com a própria identidade; a alienação daqueles e daquelas do que pensam, do que sentem; da consciência que têm do que sofre o próprio corpo (com o pé cujo sapato o está apertando); da família a qual pertencem; da própria origem étnica, da cor da própria pele; do trabalho ao qual se sentem forçados a realizar; do consumo do que comem, do que bebem, vestem, ouvem, dizem; da política à qual compartilham juntamente com seus concidadãos e conterrâneos; do meio social em que vivem; da própria cultura da qual fazem parte.  

A diferença dos seres humanos dos seres irracionais está na sua criatividade em procurar soluções para seus problemas, desenvolvendo-se com descontração e espontaneidade: sinais indicativos de boa saúde mental e emocional. Os meios de comunicação de massa podem ou não contribuir para a alienação da sociedade em seu todo. A autenticidade nos relacionamentos é fundamental para que estes sejam terapêuticos, ajudando na superação das doenças e na construção de uma melhor saúde plena.

E não são somente as pessoas que ganham com os bons relacionamentos interpessoais em todos os níveis. O meio ambiente também ganha, sendo preservado em sua exploração desenfreada. Os direitos de cada povo sobre as riquezas comuns também permitem que a justiça e a equidade promovam maior igualdade entre todos, diminuindo a distância entre os que mais têm e os que menos têm: entre os que têm a faca e o queijo nas mãos e os que necessitam compartilhar de um único e mesmo queijo.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Provocações

Quem não se lembra do programa “Provocações”, na TV-Cultura, apresentado pelo ator Antonio Abujamra?... A palavra que deu título às entrevistas que fazia não foi inventada por ele e nem pelo programa, uma vez que o verbo provocar e o substantivo provocações provieram do velho latim, língua mãe de nosso idioma português: herança de nossos predecessores no tempo e no espaço.

Vocare, em latim, é o mesmo que chamar. O prefixo pro se traduz como: em favor de. Palavras ou situações provocativas possuem a força de mexer com os pensamentos e as vontades das pessoas instando-as a tomadas de atitudes. Quem tem boa cabeça para pensar e coração sensível para se emocionar não fica inerte diante de incisivas provocações.

Acontecimentos bons e maus podem se constituir como estímulos às decisões. Os primeiros no sentido de instar-nos a melhorar e os segundos no sentido de impulsionar-nos à busca de soluções aos problemas. Acredito que o momento histórico em que nos encontramos é recheado de provocações dos mais variados tipos, exigindo grande discernimento da parte dos que têm amor próprio e amor àqueles com quem convivem e formam o próprio país e nação.

À consciência de cada indivíduo cabem as respostas a serem dadas às questões pessoais. Ao consenso buscado e encontrado pelas consciências individuais cabem as respostas necessárias à superação dos problemas que atingem a todos. Quanto maiores os problemas mais necessidade de diálogo entre os interessados em superá-los.

Se as informações que chegam oficialmente são parciais e não totalmente verdadeiras é mais que necessário que as pessoas ouçam umas às outras, colocando o melhor de si mesmas na transmissão de suas percepções da realidade, sem que a presunção faça de qualquer um sentir-se como exclusivo dono da verdade.  As questões em jogo são por demais importantes para que apenas as empurremos com a barriga. As consequências de nossas indiferenças frente às provocações de nosso momento histórico podem levar a situações desastrosas para a presente geração e para gerações futuras.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Injusto agressor e vítima

Em muitas estórias estão presentes esses dois personagens. Eles possuem características bem definidas. As ações que realizam caracterizam o papel específico de cada um. São personagens cujos papéis são complementares. Um não existe sem o outro e um dá sentido ao outro.

As ações são o verso. No reverso se encontram os sentimentos e fantasias. A complementariedade fica clara, quando a análise se ocupa não apenas das ações, mas também dos sentimentos e das fantasias, que são o apoio e a razão de ser das atitudes, quer do agressor, quer da vítima.

E quais são os sentimentos e fantasias que estão subjacentes às atitudes de vítima e de agressor?... Que dificuldades especiais têm um e outro personagem?... - O agressor não receia ostentar atitudes que lhe garantam estar por cima, demonstrando não se importar do que possam pensar os outros. É muito mais tenebroso para ele estar por baixo e sentir-se humilhado do que ser visto demonstrando frieza e crueldade. - A vítima, por sua vez, ostenta atitudes que a colocam por baixo. Muitas vezes até chama a atenção dos outros para que sua condição de vítima fique bem manifesta, de forma a tornar inequívoca sua condição e de que é o agressor o responsável. Para ela é tenebroso estar por cima e sentir-se culpada por ocupar uma situação de superioridade frente a quem a agride. Um vê e reconhece no outro aquilo que tem mais dificuldade de ver e reconhecer em si mesmo.

O grau de conivência, a cumplicidade entre o agressor e sua vítima é algo muito difícil de definir. Quanto maior clareza a pessoa passa a ter com relação a si mesma e a dinâmica determinada por seus sentimentos e fantasias mais condição ela terá de conter-se e de orientar-se.

Com maior ou menor intensidade, atitudes de agressor e de vítima são tomadas por todos nós, diariamente. É só observar com um pouco mais de atenção tudo o que fazemos e perceberemos como elas estão presentes. Tentamos tirar vantagens das situações em que nos envolvemos, ora agredindo, ora permitindo que nos façam de vítima.

Postado por José Morelli

sábado, 26 de maio de 2018

Corporeidade

São dotados de corporeidade os seres humanos e os animais em geral. Também os astros e estrelas do firmamento são chamados de corpos celestes. Da mesma forma como os primeiros, estes possuem materialidade e organicidade em suas constituições físicas, apresentando dinamismos tanto internos como externos. O Planeta Terra, que é o corpo celeste no qual habitamos conhecido também pelo nome de Gaia, se apresenta como um organismo vivo, pleno de energia pulsante à semelhança de um coração de gente.

O processo evolutivo da vida não contraria a hipótese de que o Universo tenha sido criado por um Ser Superior. Se aparelhos eletrônicos podem já virem munidos, desde a fabricação, de suas respectivas programações, por que os corpos humanos e celestes não poderiam vir dotados dessa mesma capacidade?... Somente depois do desaparecimento dos dinossauros, da face da Terra, é que esta passou a ter as condições necessárias à constituição e desenvolvimento dos seres humanos.

Diferentemente dos corpos celestes, homem e mulher se apresentam dotados de inteligência e de consciência quanto a esta sua capacidade. Pode ter sido necessário milhares de anos para que esta evolução chegasse a seu pleno desenvolvimento. Assim, a natureza humana em seu todo pode muito bem ser a representação de toda a criação existente em todos os tempos.

A história humana descreve uma trajetória rica de acontecimentos surpreendentes.
Tanto no chamado Velho Mundo como no chamado Novo Mundo grandes civilizações deixaram os sinais de suas histórias. Uma linha de continuidade perpassa todas essas construções de vida, cheia de altos e baixos. Não foram poucos os que deixaram exemplos admiráveis de humanidade e mesmo de espiritualidade em suas vivências heroicas. Estes, por seus exemplos, podem servir de inspiração às mentes e aos corações de todos os que trazem, na intimidade, o pré-requisito indispensável da boa vontade.

Postado por José Morelli



sábado, 19 de maio de 2018

O fato e a versão do fato


Diz-se que “contra fatos não há argumento”. Se algo aconteceu de verdade por que então contestá-lo? Quanto à versão do fato, no entanto, já não se é possível dizer o mesmo. Muitas são as interpretações ou entendimentos que podem se depreender de um mesmo acontecido. Daí o lembrete deixado pelas expressões existentes na língua portuguesa: “Cada caso é um caso” ou de “Cada cabeça uma sentença”. No sentido de ressaltar o que não se pode nem se deve esquecer, aqui vai o axioma que assinala ser: “o essencial invisível aos olhos”. Olhares e mentes funcionam como filtros, enquanto deixam passar umas partes impedem de que outras passem. Uma notícia, pela ênfase com que são expressas as palavras que a compõe, reflete o entendimento do apresentador ou o que ele quer transmitir do fato. Se intenciona dar-lhe uma conotação positiva ou negativa basta que junte à notícia uma leve expressão da voz ou do rosto.  

Fatos acontecem a todo instante. Indivíduos e sociedade convivem com eles, sendo bombardeados por todos os lados. O tempo, a experiência de vida, tem a capacidade de ensiná-los a conviverem melhor com os acontecimentos. Cada indivíduo possui sua consciência como norma próxima que o ajuda a escolher o entendimento de tudo o que lhe acontece. A consciência de cada um precisa ser reconhecida em sua importância. O mesmo vale para a consciência coletiva. Existe certa hierarquia com relação às consciências. Quem não valoriza a própria não terá capacidade de reconhecer a consciência dos outros ou do coletivo. A verdade e o bem estão presentes nas partes e no todo. Precisam ser reconhecidas e internalizadas assim.

A história mostra que o mundo sempre apresentou divisões. Não foram poucos os que tentaram construir impérios que dominassem todos os povos, religiões que unissem a todos numa única fé. Nenhuma dessas tentativas surtiram o efeito esperado. Os seres humanos tiveram e têm que aprender a conviver com as diferenças. Tiveram e têm que evoluir na razão e na emoção.

Para consegui-lo precisam se apoiar sobre alguma base, de valor pessoal, de confiança em si e de confiança no outro também. Parece contraditório, mas não é. O aprendizado de um leva ao aprendizado do outro, numa espécie de círculo virtuoso. Só vivendo é que se pode experimentar o crescimento, o desenvolvimento, o prazer e a grandeza de viver e de conviver. O imediato, o dia a dia concorre para esse aprendizado. Os acontecimentos, os fatos com suas versões se constituem como matéria prima da construção das personalidades de cada indivíduo e dos grupos sociais em que se compõem.

Postado por José Morelli





segunda-feira, 16 de abril de 2018

Amigo Universal

Em todos os anos, há um dia especialmente dedicado ao amigo/a. Sem dúvida alguma, uma ótima oportunidade ou pretexto para se falar a respeito da Amizade num sentido mais amplo. “Amigo Universal” não é uma ideia nova. A respeito dela podem ser encontradas referências em alguns tipos especiais de literatura.

Do ponto de vista humano, para se tornar um “Amigo Universal” é preciso passar por um processo, que começa com a eleição ou escolha de um primeiro amigo/a. Desde que não se coloque obstáculos ao seu surgimento, a amizade nasce e se desenvolve espontaneamente, livremente. Pai, mãe, filho, filha, primo, prima, sobrinho, sobrinha, avô, avó não se escolhe. Amigo, ao contrário, é uma escolha mútua que se dá por deliberação de cada uma das partes.

Ter um amigo é abrir-se a um relacionamento de igual para igual. É confiar no outro a ponto de poder trocar com ele os próprios segredos e confidências. Ter um amigo é permitir-se falar coisas que não se diria a nenhuma outra pessoa. É projetar a própria realidade no outro como se este fosse um espelho, sem medo de como a própria imagem voltará, nele refletida.

Pela amizade, os amigos ganham a possibilidade de se conhecerem a si próprios, melhor e mais profundamente. Pela amizade os amigos ganham a possibilidade de conhecerem ao outro de maneira mais verdadeira e profunda.

Quem vive a experiência de ter um amigo torna-se capaz de, pelo aprofundamento que adquiriu de si mesmo e do outro, ganhar mais entendimento e compreensão quanto às demais pessoas existentes perto ou longe. ”Amigo Universal” é aquele que faz uso dos conhecimentos e experiências adquiridos em sua vivência de amizade com um ou mais amigos, construindo um conceito de ser humano positivo capaz de corresponder a uma amizade verdadeira.

Não é possível ter um número muito grande de amigos com os quais se possa ter um grau tão profundo de intimidade e de troca mútua. A “Amizade Universal” nasce de amizades abertas e não fechadas, exclusivistas. Quem tem um amigo certamente foi capaz de vencer, pelo menos em parte, o próprio egoísmo. Quem é capaz de se sentir  “Amigo Universal” compreende melhor o ser humano, não desacreditando de que, dentro de cada pessoa existe um lado bom e verdadeiro, que precisa ser reconhecido para poder se desenvolver e prosperar.   

Postado por José Morelli

                                                                                        

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Fase de latência

Na chamada fase de latência, os meninos dão preferência em estar e brincar com meninos e as meninas se agrupam, brincando e curtindo aquilo que mais lhes agrada. Latente é o mesmo que escondido. A sexualidade parece adormecida. De maneira semelhante ao que acontece com as árvores, no outono, tempo em que não crescem nos galhos, nem produzem novas folhas nem frutos, mas crescem embaixo da terra, em suas raízes, a fase de latência é rica no crescimento da estrutura básica do comportamento do menino e da menina.

Desde o momento em que se percebem diferentes no corpo, incentivados também por certos condicionamentos dos adultos, meninos e meninas vão se agrupando, formando seus “clubinhos” exclusivos de amizade e brincadeiras. Ao brincarem, aprendem uns com os outros, servindo-se mutuamente como espelhos.

Com esta convivência, iniciam um esforço concentrado de crescimento e amadurecimento. Assimilando maneiras de ser e de agir, constroem a própria personalidade, incorporando hábitos, valores e posturas adequadas aos comportamentos de suas respectivas identificações sexuais.

Na medida em que vão se sentindo firmes na própria maneira de ser, percebendo que já conseguem reproduzir, de maneira mais segura, o padrão de comportamento do próprio sexo, as crianças vão se aproximando do sexo oposto, jogando a própria imagem e medindo o efeito causado. A receptividade ou não se transforma num jogo de tentativas de erros e acertos. Os acertos reforçam os comportamentos mais adequados, enquanto que a má receptividade aos erros desestimula os comportamentos menos convenientes.

Em famílias em que o menino ou a menina é apenas cercado de outras crianças e adultos do sexo oposto, a convivência oferece poucos elementos do modelo de comportamento consonante ao próprio sexo. Para essas crianças, principalmente, é importante que tenham outras convivências, mais intensas, fora de casa, com crianças do próprio sexo e, com elas, formem seus “clubinhos” e, dessa forma, possam compensar a falta que têm dentro de casa.

Postado por José Morelli


sábado, 24 de março de 2018

Fauna e flora

O mundo animal e o mundo vegetal apresentam uma variedade incrível de formas de vida. Na condição de humanos, temos em comum com os animais e com os vegetais a vida, em suas fases de nascimento, desenvolvimento, proliferação ou procriação, maturidade e, por último, morte. Além disso, existem características nos animais e nas plantas, que servem para identificar formas de ser e de comportamento humano. Essa identificação pode explicar os inúmeros apelidos que são dados e o uso de expressões, utilizando nomes de bichos e de plantas.

Dentre os bichos, destacamos: a tartaruga, com seu casco duríssimo e seu andar vagaroso; o tamanduá, com seu focinho comprido, sem dentes e com grande habilidade para chupar as formigas de dentro dos cupins; o tatu, que faz sua toca debaixo da terra e se alimenta de raízes, frutas, insetos e mesmo carniça; a ema que, no momento do perigo, esconde a cabeça, deixando seu grande corpo à vista; a girafa, com seu pescoço comprido; a cobra, esperta, traiçoeira e fatal; a baleia, um mamífero com grandes dimensões; a lesma e sua lerdeza; o caracol, com sua casa em espiral e carregada nas costas; o urso, que mata com um abraço “mui amigo”; o veado, tímido, ligeiro e delicado no andar e saltar; o famoso chupim, que põe seus ovos nos ninhos do tico-tico que, sem saber, cria-lhe os filhotes; o caranguejo, que anda para trás; a águia, notável por seu tamanho, vigor e seus altos voos; o camelo, ruminante, com suas duas corcovas e que suporta longas caminhadas pelo deserto, sem precisar comer nem beber; o gato, preguiçoso e acomodado...

No mundo vegetal, o coqueiro, alto e elegante; o chorão, que é uma árvore ornamental, sem folhas e com ramos verdes e que tem um aspecto tristonho; o quiabo, liso como ele só; as parasitas, que se alimentam de outras árvores; o cipó, enrolado e, para finalizar esta resumida seqüência, o abacaxi, que além de ser difícil de ser descascado, faz questão de ter coroa, qualificando a coisa ou a pessoa complicada e que parece fazer questão de dificultar qualquer manuseio.

Fauna e flora fazem parte do meio em que vivemos. A preservação dos animais e do verde é base da sobrevivência do animal-homem em sentido amplo, incluindo o de sua identificação psicológica. 

Postado por José Morelli

sábado, 17 de março de 2018

Hostilidade

A palavra hostil vem do latim e significa agressivo, briguento. Hostilidade é o sentimento de estar contra, de ser inimigo; de estar sendo provocado. É lógico e compreensível que a hostilidade apareça nas atitudes agressivas, irônicas ou provocadoras. Nestes casos, ela se apresenta de forma explícita, clara e sem disfarces.

Acontece, às vezes, de a hostilidade se esconder atrás de atitudes que, aparentemente, não combinam com o espírito belicoso e guerreiro. O esmero da “dona de casa”, que exagera no cuidado pela limpeza e organização da casa, pode esconder uma hostilidade, uma raiva oculta atrás de tanta dedicação e esforço. O desenho de figuras humanas, com boca de palhaço, pode ser a expressão da presença de uma hostilidade reprimida. A dificuldade de demonstrar desagrado, quando o certo seria fazê-lo, leva a pessoa a desenvolver maneiras inadequadas de manifestar suas emoções.

Já é proverbial a história do indivíduo que, ao receber uma violenta pisada bem no lugar em que se encontra seu calo de estimação, no dedinho do pé, ainda pede desculpas a quem o pisou. A hostilidade, disfarçada ou sem disfarces, pode estar presente em casa, no trabalho ou em qualquer outro tipo de relacionamento.

O medo de demonstrar o que sente, verdadeiramente, faz aumentar o cuidado, levando a atitudes mais camufladas e falsas. Toda essa hostilidade não pode ficar represada. Precisa encontrar uma válvula, através da qual possa extravasar. Proibida de se manifestar naturalmente, a raiva vai encontrando outros meios de ter vazão, podendo se transformar numa somatização (gastrite nervosa ou qualquer outra doença), numa fobia, num descontrole nervoso, numa depressão, numa mágoa profunda, num desgosto de viver, num desleixo em se cuidar.

Quando uma criança é tratada com muito rigor, sendo exageradamente reprimida ao manifestar sua agressividade, corre o risco de desenvolver uma hostilidade contida/reprimida. Desde o ambiente familiar, a criança é obrigada a conviver com a hostilidade. Mais ainda quando tiver que enfrentar a vida na sociedade. A boa educação deve preparar a criança para que saiba fazer uso equilibrado dos meios necessários à sua defesa e proteção, para que possa se manter em paz consigo mesma, na infância e no decorrer de toda sua vida.

Postado por José Morelli

sábado, 3 de março de 2018

Amar, amar-se e ser amado (a)

Eis um tripé sobre o qual deve se apoiar a vida afetiva das pessoas. A falta de qualquer um desses apoios desiquilibra a vida, impedindo-a de manter-se em segurança. Para que o ser humano possa crescer com harmonia junto a seus pares, precisa desenvolver, em si mesmo, as capacidades de dar amor aos outros (amar), de devotar amor para consigo (amar-se) e de ter o amor de outros para si (ser amado/a).   A interdependência entre esses amores exige que, para poderem crescer e se desenvolver, eles se ajudem mutuamente, contribuindo uns com os outros.

Uma banqueta de três pés, só pode manter-se firme se tiver seus pés com tamanhos iguais. De maneira semelhante: dar, dar-se e receber amor são necessidades que devem ser satisfeitas a partir de um mínimo de equilíbrio. O empenho, para concretizar esse objetivo de vida, cabe principalmente à pessoa adulta. Na medida em que esta se dá conta da capacidade que tem, para assumir e governar a própria vida tornar-se mais responsável perante si mesma e perante aos outros.

Saber administrar o amor, em suas várias direções é de importância capital para as pessoas em suas individualidades e em suas dimensões sociais. A sociedade também se beneficia do equilíbrio afetivo/emocional de cada um de seus membros. Através de princípios éticos, o amor é proposto a todos. Negligenciar os princípios que norteiam o amor causa prejuízos à saúde física e psicológica das pessoas e dos grupos sociais.

O amor se desdobra de múltiplas formas e em várias direções, seja através de atos que exijam renúncia e abnegação seja através de atos que proporcionem puras satisfações. O saber receber a atenção de outro, por si só, já é uma forma de amar. Para exercitar-se no amor é preciso empenhar a própria inteligência e vontade, bem como os demais dotes do corpo e do espírito. Amar é colocar o melhor das próprias capacidades a serviço da pessoa amada. O exercício desse amor ajuda na superação de preconceitos e contribui para o aprimoramento da vida.

Em nome do “amor”, a humanidade já praticou atrocidades. A lição que ficou da história deveria servir de alerta para que tais injustiças não viessem a se repetir. Infelizmente, parece que o equilíbrio entre as formas de amar ainda está longe de ser alcançado entre as pessoas e os diversos segmentos sociais, mantendo o mundo em constante risco de se autodestruir. Frente a tamanho risco, não há a cada indivíduo outro caminho senão o de que, com afinco, buscar o equilíbrio em amar, amar-se e ser amado (a). 

Postado por José Morelli