quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Exatidão da matemática

Dois mais dois são iguais a quatro. Na matemática, as quantidades representadas pelos números são precisas: exatas. A quantificação é um fato inconteste da realidade, neste mundo material em que vivemos e nos relacionamentos que estabelecemos uns com os outros.

Vivemos constantemente envolvidos, queiramos ou não, com a realidade tal como ela é e não, como desejaríamos que ela fosse. O dinheiro, as medidas de peso ou de tamanho nos obrigam a condicionar-nos aos números. Nosso corpo é avaliado pelo peso, comparado à nossa altura. As dosagens de elementos, na composição do sangue, são medidas através de números de porcentagens. O momento temporal em que vivemos, também, é identificado com um número: 2017 (DC). Os meses, as horas, os minutos e segundos são quantificáveis numericamente... tudo o que nos cerca é passível de quantificação.

Pelo olhar do aspecto exato da vida é a matemática reinando e comandando. A pesquisa estatística retrata a “realidade/verdade” do momento histórico e dá manchete de primeira página nos jornais.Aprender matemática nem todos se reconhecem dotados dessa capacidade. Passar a ter afinidade com essa ciência. Conseguir entendê-la em sua maneira de ser. Descobrir lhe os mecanismos de funcionamento, sua maneira de ser lógica em suas conclusões, é algo muito gratificante e mesmo prazeroso. A matemática tem sua natureza própria. De acordo com essa natureza, ela não admite certo e errado ao mesmo tempo. Uma fração, por menor que seja, não pode ser desprezada no resultado. Se dividimos por 3 o número 100 na calculadora, veremos a fração se repetir infinitamente.

A matemática nasceu da necessidade da manipulação dos números. Essa manipulação sempre objetivou algum resultado concreto. Aprender as fórmulas abstratas da matemática, sem saber pra quê elas servem, para que fim devem ser utilizadas, é uma dificuldade a mais no seu aprendizado.
A matemática, também, por sua característica de exatidão, mostra um lado rígido da realidade. Essa rigidez nem sempre combina com o caráter da pessoa, com personalidade resistente a tudo aquilo que é demais impositivo, taxativo. Dói receber um zero por ter errado 0,1 por cento de um problema, depois de tê-lo acertado 99,90 por cento. Para abrir-nos ao aprendizado da matemática é preciso, em primeiro lugar, entende-la nessa sua rigidez e, assim, diminuir-lhe o sentimento de “bronca”, por ser dessa forma.

Reconhecendo-nos em nossa característica própria de personalidade, aceitando-nos e sentindo-nos firmes em nossa maneira de ser, podemos abrir espaço, em nós mesmos, para o aprendizado dessa ciência seja ela do jeito que é. Calmamente, procuraremos descobrir qual é a dela, como é a maneira dela ver e interpretar a realidade e em que essa sua maneira de ser contribui nos entendimentos da vida em seu todo.  

Postado por José Morelli

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Administrar conflitos

Tendo em vista a mania que temos de estabelecer competências, atribuindo-as a alguns “privilegiados da sorte”, acabamos por estabelecer incompetências para outros “não privilegiados dessa mesma sorte”. A necessidade de, pessoalmente, administrarmos conflitos se inicia antes de nascermos. Todo processo de desenvolvimento de nosso ser não deixa de obedecer à lei dos confrontos entre opostos. Somos reféns e consequência dessa contingência e nossa mente e coração (emoção) funcionam a partir desse condicionamento.

Kurt Lewin define conflito no indivíduo como “a convergência de forças de sentidos opostos e igual intensidade, que surge quando existe atração por duas valências positivas, mas opostas (desejo de assistir a uma peça de teatro e a um filme exibidos no mesmo horário e em locais diferentes); ou duas valências desagradáveis (enfrentar uma operação ou ter o estado de saúde agravado); ou uma a favor e outra contra o próprio interesse, ambas na mesma direção (desejo de pedir aumento salarial e medo de ser demitido por isso)”.

Alguns filmes tratam deste nosso tema, abordando-os de formas bastante originais e sugestivas. Um deles é “Fúria de Titãs”. Desenhos animados, destinados principalmente ao público infantil e adolescente masculino, abordam conflitos entre forças do bem e forças do mal, personificas das mais variadas formas.

De acordo com os ensinamentos de Salvatore Maddi, as forças antagônicas, com as quais todos permanentemente temos que nos envolver, podem ser exteriores a nós mesmos (conflito entre indivíduo e sociedade) ou internas a nós mesmos (forças conflitantes do interior do indivíduo que se dão, por exemplo, entre os impulsos de separação, individuação e autonomia os impulsos de integração, comunhão  e submissão)”.   

Os filmes acima citados não deixam de obedecer a uma didática. Eles não fogem do problema. Pelo contrário, colocam lente de aumento sobre eles. No entanto, sem dramatizarmos a questão, é importante que consideremos a administração de conflitos a partir do pressuposto do respeito e da consideração dos porquês: das causas que os engendram. Os conflitos fazem parte de nossa existência no mundo. Razões de um lado e de outro sempre existem e merecem ser devidamente consideradas e valorizadas.

Postado por José Morelli


terça-feira, 17 de outubro de 2017

Depositário

Depositário é aquele lugar onde colocamos nossas coisas: bolsa, casa, armário,... Pode ser, também, o lugar onde depositamos nossas ideias, fantasias e sentimentos. O papel em branco, por exemplo, no qual escrevemos ou desenhamos, pode ser o depositário de nossas inspirações e desabafos. Este, porém, apenas recebe o que nele colocamos, sem acrescentar nada, além daquilo que nele foi escrito ou desenhado. Ao olhá-lo depois, ele gentilmente nos devolve da mesma forma como nele nos expressamos.

Há momentos em que temos necessidade de encontrar uma pessoa, alguém que nos ouça, servindo-nos como depositário/a de tudo aquilo que está nos perturbando, alguém que nos acolha e àquilo que queremos confidenciar-lhe, dando-nos atenção e respeitando o que lhe dizemos, alguém que nos ouça sem pressa, não nos interrompendo, nem se precipitando em tecer comentários sobre aquilo que ainda não conseguimos dizer completamente e, menos ainda, em nos julgar e criticar, alguém que se mostre interessado em nos entender, fazendo-nos perguntas, se necessário, para que possamos nos explicar melhor.

Com isso, vamos nos organizando e conseguindo elaborar melhor nossas ideias. Percebemos que estamos sendo ouvido. Ficamos mais tranquilos. A tensão diminui. O emocional se apazigua. Vamos nos soltando. Conseguimos fazer fluir pensamentos e palavras com mais desenvoltura e facilidade. Recordamo-nos de coisas importantes, que nos ajudam a entender melhor nossos problemas atuais e passados. Vamos nos predispondo a ouvir o que vem do outro/a que se predispôs ouvir-nos com atenção e abertura.  

Nossa necessidade de contar e falar não precisa ser só de coisas desagradáveis e que nos incomodam. Existem coisas boas que precisamos dividir com quem consiga valorizá-las e reconhecer-lhes a importância que têm para nós, acolhendo-as como bons depositários destas. A boa aceitação destas coisas é, também, a aceitação da própria pessoa que as divide.

Recuperamos nossa autoconfiança a partir da confiança que depositamos em quem nos ouve. Precisamos do outro/a. Nele ou nela fazemos refletir a nós mesmos. Ficamos atentos para ver como é que ele/a nos é capaz de acolher e aceitar como somos ou nos encontramos. Se for capaz de aceitar-nos e de devolver-nos sem assustar-se conosco, reconhecendo-nos no que somos, no que pensamos e sentimos, sem fazer drama nem tragédia, ótimo!... A partir dele/a, conseguiremos somar algo muito bom, que nos sirva ao nosso crescimento em autoconfiança e em autoestima. 

Postado por José Morelli

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Contra fatos não há argumentos

Desde que um fato qualquer se concretize, tornando-se tangível às mãos e perceptível aos olhos humanos, fica difícil negá-lo de que tenha ocorrido e passado a fazer parte da história maior de uma coletividade.  O que resta possível é de que, por força da prerrogativa do livre arbítrio de que todos foram dotados pelo Criador, tal fato possa merecer uns cem números de interpretações, de acordo com os referenciais, contidos nos pensamentos e na consciência de cada cidadão ou cidadã em sua individualidade e pessoalidade.   

Uma sequência de acontecimentos se deram nestes últimos 300 anos: desde o dia 12 de outubro do ano de 1717 até os dias de hoje. Todos eles ocorridos numa mesma localidade pertencente à Vila de Guaratinguetá, na região do Vale do Rio Paraíba do Sul. O porto próximo em que os três pescadores se encontravam era chamado pelo nome de Itaguaçu, palavra indígena que significa Pedra Grande.

No caso do encontro da imagem de Aparecida, representativa de Maria, Mãe de Jesus dos Evangelhos, os pescadores que protagonizaram o acontecido chamavam-se: Domingos Garcia; Felipe Pedroso e João Alves. Deles foi o testemunho de que, depois de terem tentado pescar durante toda a noite, aconteceu-lhes algo inesperado: ao recolherem a rede encontraram o corpo de uma imagem, sem a cabeça.  Ao lançarem-na mais uma vez, veio a cabeça que faltava. A pesca que se seguiu a esse fato foi surpreendentemente abundante.

Num tempo em que as notícias só chegavam através do boca à boca, ainda assim elas não demoraram tanto para se espalharem até os mais recônditos lugares. Relatos de acontecimentos significativos serviram de alento ao povo simples e carente de ajuda. Muitos, ao ouvirem tais relatos, passaram a considera-los expressão de um cuidado especial de Deus junto aos mais desprotegidos da sociedade.

Em 16 de maio de 1978 essa mesma imagem sofreu um atentado, ficando despedaçada em 165 pedaços sendo que a cabeça foi reduzida a fragmentos milimétricos. Os fragmentos quase em pó foram juntados com uma cola, à base de epóxi. A imagem resultante desse restauro já não é exatamente a mesma de quando foi trazida na rede pelos pescadores. Ela agregou mais um dado histórico, susceptível de novos entendimentos sobre seus possíveis e impossíveis significados. 

Postado por José Morell

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Alegria expressa na cultura de um povo

Desde os tempos da Grécia antiga, já havia uma palavra especial que servia para se referir à alegria. Trata-se da palavra eutrapelia, que significa virtude da alegria. De acordo com o pensamento grego, a alegria é uma virtude, um valor, uma importante qualidade da alma humana.

Das principais culturas que formaram historicamente o povo brasileiro (indígena, européia e africana), as três expressam alegria; porém a que mais se sobressai nesse quesito é, sem dúvida, a cultura que nos foi trazida pelos africanos, que aqui aportaram como escravizados. Não que muitos deles não tenham morrido de tristeza, exatamente em consequência da violência e da desumanidade com que foram tratados. No entanto, os que sobreviveram e deixaram aqui descendentes conseguiram manter a altivez, mesmo frente aos trabalhos mais pesados. São conhecidas canções que costumavam cantar enquanto se dedicavam aos serviços mais duros: plantios e colheitas da cana de açúcar ou do café, socar o pilão e peneirar a farinha, além de outras.

O gosto pelas festas populares e públicas, pelos ritmos candentes, pelas danças, pelos coloridos vivos das roupas impregnou e, ainda hoje, consegue impregnar o sentimento brasileiro e de todos os que escolheram este nosso chão para nele trabalhar e viver.  

Essa alegria cultural não se restringe ao profano; mas envolve também o religioso. As festividades do catolicismo, transmitido pelos colonizadores portugueses, foram enriquecidas com manifestações; nas quais, a criatividade do povo simples conseguiu expressar sua maneira de entender e de sentir a própria fé. Grupos de congadas, folias, moçambiques, marujadas, maracatus possuem origem religiosa.

Há dezesseis anos, as festas do Rosário da Penha têm sido a expressão dessa cultura popular religiosa. O bairro da Penha, na cidade de São Paulo, tem se tornado referência. O bom êxito, aqui, anima outras comunidades da região e de toda a cidade. A comunidade promotora dos festejos vem realizando celebrações na igreja do Rosário em todo primeiro domingo de cada mês.

Postado por José Morelli 

Medo da cura

Por absurdo que possa parecer, a hipótese de que uma pessoa permaneça tomada pelo medo de curar-se não é tão improvável que se confirme na prática. Na verdade, tal fato pode até servir como excelente álibi.  Um problema de saúde cairia, sob medida, adequado para representar um impedimento justificado ao uso normal das próprias capacidades, tanto perante aos outros como perante a si própria, uma vez que, caso se obrigasse a um trabalho ou ocupação mais exigente, se sentiria imensamente sobrecarregada, bem além das próprias forças sejam estas físicas e/ou mentais/emocionais.

Colocando em dois pratos da balança: num, a doença e, noutro, o fantasma que representaria o enfrentamento de um trabalho formal, não é tão difícil entender o porquê de a pessoa preferir escolher o que estaria depositado no primeiro prato e não no segundo. Este seria mais condizente com a imagem que possui de si mesma e que traz em seu pensamento e em seu sentimento.

É evidente que ninguém, em sã consciência, declararia explicitamente de que é o medo que a está impedindo de curar-se. Socialmente, é inaceitável que alguém possa utilizar-se desse tipo de “malandragem”, apenas para ser poupado de um sofrimento que se lhe apresenta mais incômodo do que a própria doença.

O que foi dito até aqui, pensando a questão do medo da cura num indivíduo qualquer, pode também ser ampliado para o que acontece ou pode acontecer com os cidadãos, entendidos como coletivos: famílias; escolas; grupos sociais; pessoas de determinadas regiões de um país; um país em seu conjunto. Se a imagem que esses coletivos constroem em seus imaginários forem negativas: de não competência para o exercício profissional, dificilmente não serão vítimas de seu próprio medo de enfrentarem os desafios do mundo do trabalho. 

A dificuldade que se apresenta neste nosso momento histórico de escassez de ofertas de trabalho, a demora de se poder conseguir algum emprego, a não possibilidade de encontrar outra colocação no mesmo nível salarial da que tinha antes, isso tudo pode gerar tanto constrangimento que não é tão difícil de a mente não criar um mecanismo de defesa no sentido de blindar o sujeito. O preço de uma situação como esta pode ser bem caro. As defesas caem e a possibilidade de se contrair alguma doença se torna ainda mais fácil. 

Postado por José Morelli