sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Asas à Imaginação

Os seres humanos não possuem asas como as aves e as borboletas; mas, nem por isso seus pensamentos deixam de proceder como se as tivessem. Com elas, a capacidade imaginativa do homem é capaz de voar como os pássaros que, em bando, cruzam velozmente o céu indo ao chão, a um telhado, escondendo-se entre as folhas verdes de uma árvore qualquer ou como borboletas que, num piscar de olhos, passam de flor em flor.

O destino humano não poderia se prender apenas a ciscar o chão como as galinhas. Santos Dumont perseguiu seu sonho de voar até conseguir realizá-lo. A insatisfação serviu-lhe como estímulo à sua criatividade e inventividade. Por não ser completo, o ser humano tende sempre a buscar mais, a superar-se. Esta tem sido a força motriz do progresso, caminho irreversível trilhado pela humanidade, em todas as áreas do conhecimento.

Os desafios que se apresentam todos os dias precisam de muita imaginação para que possam ser superados. A valorização da capacidade de imaginar, de dar asas ao pensamento, num sentido construtivo, é imprescindível nos dias de hoje, tão cheios de impasses frente aos graves problemas que indivíduos e sociedade enfrentam.

Da imaginação é preciso se passar à ação. Da liberdade é preciso se passar à realidade. O direito de um termina quando se confronta com o direito de outro. Até os pássaros possuem um sistema de controle ao qual cada um deles responde imediatamente. Em seus vôos, eles se mantêm equidistantes uns dos outros, ao fazerem curvas e ao controlarem a própria velocidade. Com os cidadãos e cidadãs acontece de maneira semelhante. Quanto maiores os avanços, mais complexas e exigentes serão as relações humanas. Com a imaginação, dotada de potentes asas, indivíduo e sociedade podem expandir seus repertórios de respostas, a fim de atenderem às demandas de cada novo momento.

Postado por José Morelli

Encontro de gerações

Naquela foto, tirada em 1.911, estavam retratados: o casal, acompanhados de suas primeiras quatro filhas, nascidas até aquela data. Sabe-se que, depois, vieram ainda mais sete filhos homens e mais duas mulheres. O primeiro dos homens já se encontrava em gestação. No retrato, em branco e preto, adultos e crianças vestem-se com discrição e elegância, de acordo com o costume da época.

Maria Cruvinel é o nome da menininha, que se encontra de pé com a mãozinha apoiada no joelho da mãe. Hoje, ela está com 95 anos (quando da feitura deste texto). Sua cabeça está ótima, podendo contar histórias que ouviu ainda em sua infância sobre seus pais e seus avós. As feições dela, na foto, se assemelham a de uma de suas bisnetas que, no momento, se distrai jogando baralho com sua irmã mais velha. Na sala, além das visitas, se encontram ainda a filha e a neta de dona Maria, respectivamente, avó e mãe das meninas que se distraem brincando.

Dona Maria é incentivada pelas visitas a relatar algumas de suas histórias. Mesmo com o pouco volume de sua voz, todos os que se encontram na sala conseguem escutá-la. Conta de sua avó, falando de sua coragem e de como enfrentava os problemas daqueles tempos difíceis... quando seu marido trabalhava em garimpos no estado de Goiás, quando os índios invadiam as terras onde moravam, tendo que irem se refugiar numa fazenda, cujo proprietário e outros que tentaram morar nela diziam ser a casa assombrada, quando, anos depois, vieram morar em São Sebastião do Paraíso, tendo ficado viúva e enfrentado muitas dificuldades.

Relatou que, antes de irem para a fazenda em Goiás, seu avô perguntou à sua avó se ela não tinha medo de ir morar numa casa que diziam ser assombrada, ela respondeu: “não tenho medo de nada, por que para me defender de meus inimigos invisíveis, tenho minhas boas orações e, para me defender de meus inimigos visíveis, tenho minha arma de fogo” (uma velha espingarda). Contou como ela desvendou o segredo do que todos diziam ser assombração. Tratava-se de um negro fugitivo que vinha buscar alimento dentro da casa. Sem que chegasse a conhecê-lo, alimentou-o durante 15 anos. Quando ele deixou de vir, sentiu-se liberada para mudar-se para outro lugar onde os filhos, já em idade escolar, pudessem estudar. Histórias de índios e de escravos fugitivos fazem com que se possa voltar para outros tempos, com características muito diferentes das de hoje. As bisnetas também ouvem e guardam as lembranças dessas histórias, projetando-as para o futuro. Talvez, um dia, poderão contá-las para seus filhos, netos e até bisnetos, estabelecendo sempre novos reencontros, geração a geração.     

Postado por José Morelli

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Reciclar

Reciclagem é o processo de conversão de desperdício em materiais ou produtos de potencial utilidade. Esta pode ser uma definição bem abrangente do que significa o verbo reciclar. A forma reflexiva dele também é utilizada com relativa frequência: “eu me reciclo, tu te reciclas, ele se recicla, nós nos reciclamos, vós vos reciclais, eles se reciclam”. 
Os desafios do dia a dia nos servem de matéria prima de nossas construções pessoais. Para podermos corresponder às necessidades que a vida nos impõe, precisamos nos reciclar constantemente. Na medida em que vamos vivendo, a vida mesmo vai nos dando meios para que nos transformemos, adaptando-nos às novas situações e habilitando-nos a fim de melhor gerenciá-las. A maioria das pessoas não é como pratos rasos, incapazes de conter alguma coisa. Cada pessoa precisa descobrir o dom com que a natureza a contemplou, desenvolvendo-o o quanto possível, desde que lhe seja dado oportunidade.

Colocadas essas ideias, já podemos aplica-las a uma realidade concreta que nos salta aos olhos. Um simples passeio pelas ruas que circundam as imediações do Largo do Paissandu, no centro da cidade, é suficiente para nos depararmos frente a um verdadeiro inferno dantesco. Prédios com arquiteturas mais antigas e com estruturas de incontestável qualidade, bem como outros, não tão antigos, se transformaram em imensos amontoados de sucatas. As pichações os recobrem de cima abaixo. Uns estão vazios e outros já foram ocupados por moradores de movimentos de sem teto.

É flagrante que a indústria da miséria impõe ali suas regras. Seria mesmo verdade que existe um déficit habitacional na cidade de São Paulo?... As estatísticas levam em conta esse potencial já construído a ser utilizado?... Até quando essa deterioração de áreas tão centrais vai continuar?... Aquilo que já foi bom um dia teria se transformado no mico da vez?... O que deveria vir antes: a reciclagem dos prédios ou a reciclagem das pessoas que anseiam por um teto? ... E se essas reciclagens viessem as duas ao mesmo tempo, uma ajudando a outra em suas reconstruções?...

Em princípio, o processo de reciclagem reduz o consumo de matérias-primas e de utilização de energia, diminuindo a poluição do ar e da água. O direito de propriedade motiva as pessoas. A quem é dado segurança quanto à posse de um bem cresce sua motivação de cuidar dele e de valorizá-lo cada vez mais. 

Postado por José Morelli

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O Jogo do Afeto

Afeto é um afago, um carinho, uma atenção, uma amizade, um amor. Pode ser manifestado de muitas maneiras por homens e mulheres. Existem maneiras mais masculinas de dar e receber afeto e maneiras mais femininas de manifestá-lo ao dar e ao receber. Desde os primeiros  momentos da vida, o jogo do afeto começa a ser praticado pelos bebês. Ao terem atendidas suas necessidades básicas de sobrevivência, o recém-nascido já estabelece suas primeiras trocas afetivas.

A falta de afeto, nessa fase da vida, deixará marcas profundas na pessoa, como vem sendo confirmado através de muitas pesquisas. O afeto é importante, também, na fase da adolescência, quando o jogo se amplia, expandindo-se para além dos limites domésticos, desafiando o adolescente a conquistar novos ambientes, novas aceitações. 

O sucesso, na aprendizagem escolar, não depende somente da capacidade intelectual. As relações afetivas, também, podem facilitar ou dificultar a aprendizagem. Um professor dedicado e atento pode contribuir positivamente no interesse dos alunos pela matéria que ensina. O contrário também acontece. Um professor antipático dificulta o aprendizado do que transmite. O afeto nasce dos pensamentos e dos sentimentos. Destes, como de um copo cheio, o afeto transborda para o corpo todo: para os olhos, para a boca, para os gestos,... O afeto é gratificante para quem o dá e é gratificante para quem o recebe. 

Mesmo quando é expresso através de atitudes ou palavras mais duras, desde que verdadeiras e plenas de interesse pelo bem da pessoa, a quem são dirigidas. Ainda assim, o afeto não deixa de ser gratificante, se não for no momento em que é expresso, o será em outro, algum tempo depois, quando o sentido daquilo que se fez ou se disse, poderá ser visto e compreendido melhor, com mais amplitude e objetividade.

O afeto está na vida das pessoas e na natureza. Esta última foi constituída para brindar as pessoas com carinho. Dela provém além do necessário, para que homens e mulheres possam viver com saúde e felicidade. Uma roseira, com a beleza de sua flor e a agudeza de seus espinhos, resume a autenticidade da natureza, na forma como ela costuma se apresentar: dando-nos a flor, mas cuidando de se proteger, espetando com seus espinhos, as mãos de quem se aproxima sem o devido cuidado e atenção.

Postado por José Morelli


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O Emergir do Inconsciente

Freud comparou o consciente e o inconsciente, respectivamente, à parte visível e à parte submersa de um iceberg, uma vez que, como se sabe, o tamanho da parte submersa é muitas vezes maior do que o da parte visível, fora d’água. Nada impede, portanto, de que se possa utilizar a expressão “emergir do inconsciente”, quando se deseja dizer que este vem à tona, elevando-se até o plano do consciente. O inconsciente está mergulhado em camadas profundas do psiquismo humano; não podendo se transformar em consciente, por força de algum ato deliberado da vontade.

O fato de certos conteúdos, objetos de desejos ou de medos, estarem de forma inconsciente, na mente, não implica de que não exerçam grandes influências na conduta dos indivíduos. Por terem “presenças desconhecidas ou camufladas”, exercem seus poderes, sem que se possa ter qualquer controle, podendo dispor de certa liberdade, de acordo com os meios que dispõem para virem à tona e intervirem nas condutas das pessoas. Dentre esses meios, merece destaque, os sonhos, por terem sido muitíssimo estudados.

Alguns sonhos revelam que pessoas comuns podem ser equiparadas a “exímios diretores cinematográficos”. Ao sonhar, a mente humana é capaz de construir cenas incríveis, inventar histórias, criar personagens, roteiros, cenários, iluminação, sons e símbolos, capazes de mobilizar sentimentos e sensações, dando-lhes, assim, oportunidade de se integrarem ao consciente. Os sonhos podem expressar mensagens e segredos íntimos, reveladores de desejos ocultos e de medos, burlando toda censura existente em estados de vigília.

Além dos sonhos, atos falhos, trocas de nomes de pessoas, palavras ditas aparentemente sem nexo algum, certos “esquecimentos” de compromissos revelam o inconsciente: aquelas verdades difíceis de encarar e que não se desejaria, em hipótese alguma, que viessem a ser reveladas.

Através da livre-associação, ligando idéias umas às outras, mediante palavras especialmente escolhidas, sem que se deixe tempo para pensar, é possível se chegar a descobertas profundas do que povoa o inconsciente. Nada é à toa. Tudo tem sua razão de ser. O acesso ao inconsciente pode ajudar a desvendar segredos importantes, peças que faltam para completar a montagem desse “quebra-cabeças”, de que é feito a vida humana.

Postado por José Morelli


terça-feira, 12 de setembro de 2017

“Não-diretividade”

Dependendo das circunstâncias e da condição emocional em que se encontram, os pais poderão adotar para com o filho ou filha, que se encontra em alguma dificuldade, não uma postura diretiva, mas um posicionamento não-diretivo. Atuam não-diretivamente os pais quando, no lugar de raciocinar e decidir pelo filho, ajudam-no a pensar e a concluir o raciocínio por si mesmo. Fazem isto através de uma atitude de quem não tem respostas prontas e mediante formulação de perguntas, que permitam ao filho a utilização dos próprios referenciais, assumindo responsabilidade sobre os caminhos que deseja seguir. Em vez de os pais se apressarem em oferecer fórmulas feitas, a não-diretividade recomenda-lhes que acreditem nas capacidades do filho. É diretivo o pai ou mãe que pensa que só ele (a) sabe o que é bom e o que é ruim. Não explica ao filho o porquê de seus princípios e valores. 
Não contribui, assim, para que o filho tire conclusões a partir do que lhe já traz em si.

O medo, a ansiedade, a falta de confiança em si e no filho são empecilhos a uma atitude facilitadora para que o mesmo adquira autonomia de pensamento e de decisão. Quem tem sempre muita pressa, quem vive com medo de que o erro não tem remédio, não o aceitando como instrumento do saber, não consegue permitir o desenvolvimento do filho, de uma forma gradativa, a partir de suas próprias vivências e experiências.

A não-diretividade não é o abandono do filho a si mesmo, na hora em que este tem que enfrentar alguma dificuldade que lhe é intransferível. Os pais não-diretivos não abdicam de suas obrigações, exigidas pelo papel que desempenham junto aos filhos. Pelo contrário, através de sua coragem, realizam de uma forma mais apropriada aquilo que a palavra “educar” significa que é o de: conduzir a partir do interior do próprio educando. 

A não-diretividade deve ser uma postura profunda e constante, que exige muita observação e muita atenção. Para ajudar o filho a pensar e saber decidir é preciso estar próximo dele, percebê-lo, contribuir com ele para que saiba situar-se em seu contexto, questioná-lo quanto ao que está pensando e sentindo, permitindo-lhe, assim, que descubra quais são os múltiplos fatores que o estão condicionando. Agir não-diretivamente é interessar-se pelo que de melhor existe no filho como uma forma de querê-lo bem em sua integralidade, de reconhecê-lo em seus lados fortes. 

A não-diretividade é uma aposta nos aspectos mais positivos do filho, mesmo que estes aspectos estejam cercados e protegidos pelo medo ou pelo comodismo. Para se saborear o gosto da castanha é preciso tirá-la de sua casca, sempre protegida com muitos espinhos. De forma parecida, algumas grandezas do espírito humano só são descobertas, quando as resistências são vencidas e os espinhos retirados, mesmo correndo risco de, eventualmente, machucar-se com algum deles.

Postado por José Morelli


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Fobias

O dicionário “Aurélio” diz que fobia vem da raiz de uma palavra grega, cujo sentido é temer. O termo fobia é utilizado para designar diversas espécies de medo mórbido: horror instintivo a alguma coisa;  aversão irreprimível. O número de fobias é quase infinito. Os dicionários médicos assinalam muitas centenas. O medo de altura, por exemplo, é chamado de acrofobia; claustrofobia é o medo de estar em lugares fechados, como elevadores, casa que tem uma única porta, banheiros, etc.; agorafobia é o medo angustiante de lugares públicos e grandes espaços descobertos; é também, uma fobia a aversão por estar no meio de muita gente, o medo exagerado de chuvas fortes ou de se distanciar da própria casa e de pessoas em quem acredita dar-lhe segurança.

Muitas vezes, as próprias pessoas fóbicas percebem, que não existe proporção entre o que sentem e o que dizem provocar-lhes medo tão incontrolável. Percebem que o mesmo não acontece com a maioria das outras pessoas. Isso faz com que se sintam constrangidas, não conseguindo se justificar  perante si mesmas e perante os outros. Sentem-se envergonhadas e diminuídas, solitárias em seu sofrimento, não acreditando que possam contar com a solidariedade e compreensão sincera de ninguém.

A maior parte das fobias têm origem em experiências traumáticas vivenciadas, quase sempre, na infância. Essas experiências ficam no inconsciente, como que esquecidas. A dificuldade de lembrá-las é causada por um mecanismo de repressão e de defesa. Vergonha e culpa ficaram intimamente associadas a essas experiências, dificultando-as de tê-las de volta à consciência. Mesmo incomodando, o medo fóbico serve como defesa. É preferível conviver com ele, do que  enfrentar a conscientização da experiência traumática que lhe deu origem.

Acontece, às vezes, de o objeto da fobia mascarar outros conflitos, existentes na pessoa. Nestes casos, é preciso decifrá-lo para entendê-lo. O objeto fóbico teria alguma proximidade simbólica com o que verdadeiramente causa a fobia. O medo de facas, por exemplo, pode simbolizar o desejo inconsciente e reprimido de liberar o ódio e a agressividade contra o irmãozinho menor, que veio roubar-lhe a exclusividade do afeto, monopolizando a atenção de todos.

Postado por José Morelli


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Introversão/extroversão

Versão é o mesmo que direção, orientação. Intro indica que a direção é para dentro. Extro indica que a orientação é para fora. Cada pessoa funciona de acordo com sua tendência própria. Os chamados introvertidos se voltam mais para o próprio interior; enquanto que os extrovertidos têm mais facilidade de se voltarem para o mundo, para os outros. Estas são características inerentes à personalidade de cada indivíduo.  Maneiras diferentes e opostas destes projetarem o próprio ser, o que implica em facilidades e dificuldades para a realização de algumas coisas, de acordo com os significados que lhes são atribuídos.

O introvertido tem mais facilidade de usar sua energia em ações que o isolam, o protegem. Sua mente elabora, reflete, aprofunda o que percebe. Seus sentimentos acompanham seus pensamentos, levando-o a refugiar-se em seu próprio aconchego.  Seus músculos se retraem, dificultando-lhe que realize gestos que o exponha perante aos outros. O introvertido desenvolve habilidades de manejar mecanismos de defesa, que o permitam sentir-se minimamente seguro em tudo o que faz ou deixa de fazer.

Por outro lado, o extrovertido tem dificuldade de centrar-se em si mesmo. Seu pensamento viaja, percorrendo os lugares por onde passa. Sua atenção se perde nos outros, fazendo-o deixar-se de lado, esquecendo-se de si mesmo. Quanto aos seus sentimentos, estes também acompanham os pensamentos, da mesma forma como acontece com os introvertidos, só que com sensações opostas: o que inspira segurança a uns não inspira a mesma segurança a outros e vice-versa. O comportamento dos músculos do extrovertido facilita os movimentos para que estes sejam amplos e expressivos. Não têm medo de se expor perante aos outros. Olham olho no olho, falam com liberdade, gritam ou mesmo xingam, se acharem que devem fazê-lo.

A maneira de ser de cada pessoa exige-lhe que pague um preço. Introvertidos e introvertidos ganham e perdem por serem do jeito que são. É preciso deixar claro, porém, que ninguém é só introvertido ou só extrovertido. Essas duas tendências sempre se misturam em cada um. Elas até mesmo brigam ou dialogam entre si, dividindo a pessoa e levando-a a viver pequenos e grandes conflitos. Dessas brigas consigo mesmas, as pessoas conseguem evoluir e aprimorar a própria personalidade. Erram aqueles que se apegam ao próprio modo de ser, dizendo: “Eu nasci assim e vou morrer assim!” Falando dessa forma, fecham as portas a qualquer mudança ou progresso na própria capacidade de responder às demandas da vida.

Postado por José Morelli

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Espontaneidade

Uma qualidade de nossas ações, que revela o quanto somos ou estamos bem física e emocionalmente, é nossa espontaneidade. O movimento livre e harmonioso de nossos braços, de nossas pernas, de nossos olhos, de nossa boca (ao falar, cantar ou rir), de nosso corpo todo, a liberdade com que fluem nossos pensamentos, permitindo que nos manifestemos, com agilidade e de maneira adequada, sem enroscos, revela o bom estado de saúde em que nos encontramos.

A observação da espontaneidade e desenvoltura física e mental, portanto, é um meio para medirmos as condições de equilíbrio e de saúde de uma pessoa, bem como de seu desenvolvimento em cada etapa de sua vida.

O ambiente em que vivemos influencia na maneira como estruturamos nossa personalidade. Podemos adaptar-nos a ele ou adotar uma atitude reativa, comportando-nos de forma contrária à que ele apresenta ou impõe. Se nos damos a chance de conviver e interagir com pessoas que têm maneiras diferentes de pensar e de se comportar, podemos aprender com cada uma delas, assimilando naturalmente aquilo que gostamos e que combina com o nosso jeito de ser. Ampliamos assim nossa capacidade de responder às situações que, no futuro, nos esperam e teremos que enfrentar.

Ambientes em que predominam o fechamento, o medo e o preconceito não facilitam o desenvolvimento da espontaneidade. As crianças que neles crescem e vivem tendem reproduzir os mesmos modelos, encontrando dificuldades para se desembaraçarem, a não ser que consigam reagir drasticamente. Neste caso, correm o risco de não encontrarem o ponto de equilíbrio, que lhes permitiria de não se excederem. Fazem como o cavaleiro medroso que, ao subir no cavalo, por causa da ansiedade, não consegue firmar-se sobre ele, caindo do outro lado.

Cultivar a espontaneidade, exercitando-se para soltar o corpo é uma excelente proposta. Mais espontâneo e liberto, nosso corpo pode levar-nos a uma desenvoltura maior de nossa mente e de nossos sentimentos. O jogo e o brinquedo também podem nos ajudar nesse sentido. A maior parte das crianças pequenas são, naturalmente, espontâneas. Os receios e controles dos adultos não chegaram, ainda, a contaminar suas cabecinhas e seus corações. Brincar com os pequenos, envolvendo-se em suas atividades, ouvindo o que dizem, rindo e participando com eles, pode nos ajudar a tornar-nos mais flexíveis, espontâneos e, consequentemente, mais sadios.

Postado por José Morelli