quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Filosofia da fotografia

Mesmo que a filosofia, em seu sentido literal e próprio, seja um atributo reservado apenas à capacidade intelectiva da mente humana; acredito que, em sentido simbólico, essa mesma palavra possa, também, ser atribuída à fotografia.  Quem lê um livro de filosofia apreende seu conteúdo filosófico. Quem capta, com os olhos, uma imagem fotográfica, de forma semelhante, tem condições de apreendê-la e de remetê-la ao cérebro em sua total abrangência.

As duas palavras: filosofia e fotografia são de origem grega. A primeira pode ser traduzida por: amor à sabedoria e, a segunda, por: escrita ou imagem produzida pela luz. Desde que uma imagem fotográfica não seja modificada por meio de artifícios que a façam alterarem suas formas, ela transmitirá com maior ou menor fidelidade o momento em que se deu sua tomada.

Ao fotografar, quem o faz estabelece um diálogo imediato com a realidade fotografada. Da mesma forma, as imagens retratadas dialogam com aqueles que as observam, dando-lhes a possibilidade de conversarem intimamente com o todo fotografado e com cada uma de suas partes, interpretando-as ao seu bel prazer. Os olhos captam as imagens enquanto que a mente vai aprofundando seus infindos entendimentos.

A facilidade com que, hoje, tantas e tantas pessoas podem retratar realidades através da fotografia, até mesmo mediante a utilização de celulares, tem democratizado esse diálogo da fotografia de maneira incomensurável. O mundo inteiro compartilha imagens fotográficas nas redes sociais principalmente. É inimaginável o quanto esses compartilhamentos podem contribuir dinamicamente para a construção de novos e novos entendimentos da realidade, tanto em benefício das pessoas como da sociedade em seu conjunto.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Reminiscências do útero

No começo de nossa vida, permanecemos durante sete/nove meses no útero de nossa mãe. Foi um período de desenvolvimento intenso, em que as células foram se multiplicando e formando todos os órgãos do nosso corpo. A ligação com nossa mãe era tão envolvente, que não nos percebíamos como um ser separado dela.

A partir de um dado momento, as emoções vividas por nossa mãe foram, também, transferidas para nós, através do hormônio da adrenalina, lançado na corrente sanguínea e que circulava tanto nas veias e artérias de nossa mãe, como em nossas. Mesmo que não tenhamos lembrança consciente dessa fase de nossa vida, isso não significa que ela não esteja, inconscientemente, de alguma forma registrada no arquivo de nossa mente.

Estivemos totalmente envolvidos no útero. A temperatura do líquido amniótico, que nos circundava era a mesma do nosso corpo. As sensações de proteção, conforto e prazer, relacionadas ao útero, ficaram marcadas como profundamente agradáveis.

Ainda hoje, essas sensações exercem uma forte atração sobre nós, pelo que elas representam de segurança e proteção. Representam, também, a prova de que somos aceitos, desde que nada contrário nos seja passado, através de fatos e emoções negativas. Sentimos quando fomos correspondidos em nossas necessidades de aceitação.

O relacionamento sexual pode possibilitar-nos recuperar as sensações que tivemos no útero. Para o homem, o caminho de volta ao útero é o ato sexual. Através dele, sobrevém-lhe novamente o prazer de estar envolvido, protegido, tendo alguém junto. A mulher, na relação sexual, é aquela que envolve, protege. Através da relação, sobrevém-lhe o prazer de se sentir com o outro, de ser aceita, de aceitar e de poder aceitar-se.

Postado por José Morelli

Ser espelho

O espelho recebe e devolve as imagens nele projetadas. Essas imagens são re-fletidas: vão e voltam. Os vidros transparentes e as lentes deixam passar as imagens em linha reta ou desviando-as para outras direções. O espelho reflete as imagens invertendo a posição: o que está na direita passa para a esquerda e, o que está na esquerda passa para a direita. É por isso que as palavras “ambulância”, “bombeiro” e “polícia” são escritas invertidas, na parte da frente dos veículos, para poderem ser lidas corretamente, através dos  espelhos-retrovisores dos carros que vêm à frente.

Comparando, podemos dizer que somos ou podemos ser espelhos uns para os outros. Destes, temos a capacidade de captá-los não só por suas imagens pela visão, mas por suas palavras pela audição, por seus cheiros pelo olfato, pela maciês da pele ou pelo esbarrão descuidado, dos que passam sem pedir licença, pelo tato.

Todas essas projeções dos outros sobre nós e de nós sobre os outros podem ser correspondidas através das respostas, que emitimos ou que os outros emitem. Um sorriso, um gesto, uma palavra ou um palavrão podem refletir o agrado ou desagrado, que provocamos nos outros ou que os outros provocam em nós.

Diz o provérbio que “para bom entendedor, meia palavra basta”. Na verdade, não precisa nem ser meia palavra, basta um simples olhar, um discreto sorriso ou um leve sinal de  indiferença e podemos captar o quanto estamos sendo importantes ou não, o quanto agradamos ou incomodamos. É assim que podemos nos perceber através das reações, que provocamos nos outros e das que os outros nos provocam.

O espelho reflete as imagens ao contrário. Sua posição é oposta à nossa. Ficamos mais ou menos à sua frente, um diante do outro. Quando servimos como espelho para os outros, também projetamos suas imagens a partir de uma posição oposta a deles. Além disso, nossas retinas captam suas imagens de cabeça para baixo, enquanto nossa mente decofica-as, corrigindo suas posições.

Pode ocorrer, às vezes, de sermos espelho e vidro transparente ao mesmo tempo: projetando-nos a nós mesmos no que refletimos dos outros. Outras vezes, podemos ser espelho e lente: projetamos dos outros imagens distorcidas ou falsas.

Postado por José Morelli 

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Síndrome do pânico

A palavra “síndrome” é utilizada para significar um conjunto de sintomas, que se apresentam mais ou menos juntos, caracterizando um quadro clínico definido. Assim, a síndrome do pânico manifesta-se através de alguns sintomas, tais como: suór frio, taquicardia, dores que aparecem ora num, ora noutro ponto do corpo; medo de que vai ter um enfarto ou está com alguma doença grave; sensação de desespero ou pânico, inquietação e vontade de sair correndo, gritando... Para esses e outros sintomas os exames médico e clínico não conseguem, ainda, identificar causa orgânica, que os justifiquem.

A vida moderna, com suas complicações, vem  intensificando a incidência desses casos, exigindo estudos mais aprofundados do problema, por parte de médicos (psiquiatras, neurologistas, neuro-endocrinologistas) e de outros profissionais da área de saúde.

Hoje, muitos dos portadores dessa síndrome respondem de maneira bem positiva aos medicamentos, que lhes são receitados pelos médicos. Com o auxílio desses medicamentos, os pacientes ficam a salvo dos sintomas, que tanto os incomodavam. Para complementar esse tratamento, os médicos costumam recomendar aos pacientes, que iniciem e façam , também, uma psicoterapia.

O pânico é um sinal distintivo e característico desta síndrome. Uma reação comum de acontecer em situações de perigo iminente, tais como: incêndios, terremotos, quedas de aviões, etc. Situações tão intensas, que parecem justificar esta sensação de perda do controle. Os portadores da síndrome do pânico, nos momentos de crise, sentem-se tão inseguros, como aquelas pessoas que se encontram em perigo real de perderem a vida. 

Além de ser um sintoma, o pânico pode, também, servir de pista, que ajude no desvendamento de conflitos, escondidos no inconsciente das pessoas, que sofrem deste mal. A simples abertura para admitir esta hipótese de explicação, já pode ser um começo de superação dos sintomas. A falta de explicação constrange e faz com que essas pessoas se sintam sós, desamparadas de qualquer justificativa, que explique minimamente a presença de sintomas, aparentemente tão sem sentido.

doença visível, tangível e mensurável faz companhia ao doente e justifica seus sintomas e queixas. A doença invisível parece menos compreensível, deixando o doente com a sensação de estar desamparado dos outros e de si mesmo.

Postado por José Morelli


domingo, 27 de agosto de 2017

Assimilar golpes

Na linguagem do boxe, a expressão “assimilar golpes” significa a capacidade do boxista de suportar os socos do adversário. Quando assimilados, os golpes não minam as forças do lutador, ele se mantém firme. Pode mesmo dar a impressão de que mais se cansa o adversário, desferindo seus socos, do que o boxista recebendo-os. É o bom condicionamento físico e psicológico que lhe dá toda esta capacidade.

Deixando de lado o sentido masoquista, que pode ser atribuído à capacidade de assimilar golpes, no boxe, pode-se fazer uso dessa expressão, aplicando-a à capacidade das pessoas que, no dia-a-dia,  mesmo procurando evitar, ao máximo, as dificuldades da vida, precisam desenvolver uma força muito grande para  assimilá-las, uma vez que, à semelhança do boxista, ao nascerem como gente, para se manterem em pé, será inevitável que, em vários momentos,  tenham que levar e dar, pelo menos alguns bons socos.

Na vida, os golpes podem ser de naturezas diversas. São as frustrações e perdas, as decepções e outras dificuldades, evitáveis ou inevitáveis, que ocorrem na vida de qualquer ser humano. Certo preparo, uma boa estrutura, uma segurança pessoal, um sentido objetivo de si mesmo e do meio em que vive, ajudam na formação da capacidade de assimilação dos golpes, nos embates da vida.

Golpes fracos e fortes. Tanto uns como outros precisam, muitas vezes, serem transformados em força. Não é só se poupando que o lutador desenvolve sua capacidade. Seu treino deve prepará-lo tanto para apanhar, como para bater, tanto para defender-se, como para atacar.

Nas competições, o boxista busca a satisfação da vitória. Sua força é alimentada pela expectativa que tem de vencer. Autoconfiança e segurança é que lhe dão força e resistência. Acreditando em si, na capacidade que tem de superar seu adversário, o lutador desenvolve-se psicológica e fisicamente.

Na educação dos filhos, não é só poupando-os de todas as dificuldades, que os pais os ajudam a estarem preparados para a vida. Idealismo e realismo devem se aliar para que o positivo e o negativo, o fácil e o difícil, o prazer e a dor, a competição e a cooperação sejam percebidos e reconhecidos, de uma maneira equilibrada, contribuindo, assim, para servirem de base à capacidade deles de viverem os bons e maus momentos, que a vida lhes reserva em cada etapa de suas vidas.

Postado por José Morelli


Sintomas

Mais frequentemente, é através dos sintomas que as doenças se  manifestam. O sintoma não é a doença, mas, apenas, sua expressão, sua manifestação. Uma dor de cabeça, uma febre, uma tontura, uma alteração de pressão, uma taquicardia, uma acidez estomacal, uma dor muscular ou uma dor por fratura... são manifestações de problemas físicos ou funcionais, que costumamos chamar de sintomas. 

A chamada dor reflexa manifesta-se num lugar diferente daquele em que ela se origina. Uma infecção no dente pode provocar uma dor de cabeça, enquanto que uma  dor no braço pode ter origem em problemas na coluna.

Quando não é encontrada causa orgânica, que explique a presença de algum sintoma, a hipótese passa a ser de que este tenha origem em algum fator de ordem emocional ou psicológica. O sistema Nervoso Central é responsável pela transmissão das sensações sintomáticas para o cérebro. A mente, de forma consciente ou inconsciente, tem grande participação na dinâmica dos sintomas.

Além dos sintomas serem a manifestação de uma doença, eles manifestam também a vida da pessoa em seu todo. Daí as diferenças nas maneiras de as pessoas sentirem e responderem às mesmas doenças e aos mesmos sintomas.

Os sintomas funcionam como um alarme, que alerta para a presença de algum mal. Embora assustem com sua presença, eles são “amigos verdadeiros”, daqueles que não temem mostrar a verdade ao amigo, por mais dura que esta seja.

Entender com mais clareza o que são os sintomas é importante para que se tenha uma dimensão correta do que é sadio e do que é doentio, numa situação concreta, em que algum mal físico ou funcional manifesta-se no corpo. Pode acontecer de um fator emocional não ser apenas um agravante do problema físico, mas ser o próprio causador desse problema. Como exemplo, gostaria de ressaltar o “medo”. Este, quando é muito intenso, é capaz de provocar uma reação forte, que envolve a pessoa em sua totalidade. Forma-se um círculo vicioso: quanto maior um sintoma, maior o medo e, quanto maior o medo... mais intensos tendem a se tornar os sintomas. 

Postado por José Morelli

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Alienação

É o mesmo que abdicar de si ou daquilo que lhe é próprio ou lhe diz respeito. É negar a si mesmo direitos e/ou obrigações inalienáveis e intransferíveis. É não reconhecer-se como sujeito de suas próprias atribuições. É desviar-se do próprio caminho, através do qual poderia chegar a uma maior realização pessoal, de acordo com o fluir de suas próprias capacidades. Alienação diz respeito à diminuição da capacidade de as pessoas pensarem e agirem a partir de si mesmas.

Existem várias alienações possíveis: a alienação mental daqueles que sofrem de doença psicopatológica e que lhes impede que tenham sintonia com a própria identidade; a alienação daqueles e daquelas do que pensam, do que sentem; da sintonia que têm com o próprio corpo (com o pé cujo sapato o está apertando); da família a qual pertencem; da própria origem étnica, da cor da própria pele; do trabalho ao qual se sentem forçados a realizar; do consumo do que comem, do que bebem, vestem, ouvem, dizem; da política à qual compartilham juntamente com seus concidadãos e conterrâneos; do meio social em que vivem; da própria cultura da qual fazem parte.  

A diferença dos seres humanos dos seres irracionais está na sua criatividade em procurar soluções para seus problemas, desenvolvendo-se com descontração e espontaneidade: sinais indicativos de boa saúde mental e emocional. Os meios de comunicação de massa podem ou não contribuir para a alienação da sociedade em seu todo. A autenticidade nos relacionamentos é fundamental para que estes sejam terapêuticos, ajudando na superação das doenças e na construção de uma melhor saúde plena.

E não são somente as pessoas que ganham com os bons relacionamentos interpessoais em todos os níveis. O meio ambiente também ganha, sendo preservado em sua exploração desenfreada. Os direitos de cada povo sobre as riquezas comuns também permitem que a justiça e a equidade promovam maior igualdade entre todos, diminuindo a distância entre os que mais têm e os que menos têm: entre os que têm a faca e o queijo nas mãos e os que necessitam compartilhar de um único e mesmo queijo.

Postado por José Morelli

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Oscilações do humor

Quem nunca se percebeu, em algum momento da vida, passando de um estado emocional bem humorado para outro, de sensação contrária, merecedora de ser qualificada como de mau humor? As razões dessa oscilação, muitas vezes, podem ser identificadas quase que instantaneamente. Há acontecimentos que são como pedras em nosso caminho e nos impedem que cheguemos ao objetivo almejado. Tais acontecimentos se configuram como um perfeito “estraga prazer”.

Oscilações extremas como estas também podem acontecer na direção do positivo. De repente, quando menos esperamos, uma porta pode se abrir à nossa frente, dando-nos oportunidade de chegarmos a lugares ainda mais promissores.  Enchemo-nos de satisfação e o nosso sentimento transita da depressão para euforia. 

As ideias, os conceitos, se expressam através das palavras. Existem palavras de um único sentido e existem palavras com mais de um sentido. Além disso, desde seus primeiros raciocínios, nossa mente aprendeu a associar ideias umas com as outras. Nem sempre nos damos conta desse mecanismo. Imperceptivelmente, relacionamos determinadas coisas com acontecimentos que nos entristeceram. 

Por mais que as flores possam ser associadas a sentimentos positivos, é possível que, por circunstâncias vivenciadas, alguma delas nos faça recordar momentos tristes. O simples sentir o cheiro dessa flor pode fazer com que nosso humor se permeie com uma névoa de tristeza. Este é apenas um exemplo. O mesmo pode acontecer com inúmeras outras coisas. Pesquisando mais atentamente, poderemos descobrir de onde se originou a oscilação de nosso humor.

Se nos encontramos mais firmes e estruturados em nossa personalidade, permanecemos menos expostos a essas oscilações. Mantemo-nos menos vulneráveis às ligações automáticas dos pensamentos com as emoções que aos mesmos se associam. Os acontecimentos desafiadores que enfrentamos em nosso dia a dia permitem que nos fortaleçamos em nosso caráter. Construímo-nos com a soma de nossas vivências. Das idas e vindas, pelos mais diversos caminhos trilhados, apropriamo-nos de nós mesmos, das outras pessoas com quem interagimos e das coisas e acontecimentos com os quais nos confrontamos.

Postado por José Morelli

.

domingo, 20 de agosto de 2017

Amor-inteligente

O amor é o resultado de uma soma de empenhos. Por ele, empenha-se: o coração, o corpo em seu todo, com seus cinco sentidos; a mente, com todas as suas capacidades. O amor não pode ser só bitolamento, incapacidade de escolha de outro caminho. O amor é eleição. Possibilidade de dizer sim ou não: autonomia de decisão. O amor não pode, em hipótese alguma, ser comandado apenas pela emoção (paixão), dispensando o uso da capacidade de discernir, o que faz gozar da prerrogativa da liberdade, direito inalienável de todo ser humano.

O amor-inteligente sabe sonhar. Não prescinde deste prazer. Está aberto aos vôos mais elevados da imaginação, ocorram eles no sono ou em estado de vigília. Coração e mente se interligam. Ambos possuem espaços para se exprimirem, de acordo com a especificidade de suas funções. Do equilíbrio na distribuição desses espaços, estabelece-se a harmonia da pessoa inteira, consigo mesma, com o outro e com o meio em que se encontra.

O amor-inteligente não implica só em facilidades. Tem que obedecer a alguns ordenamentos, respeitando certos limites, próprios de quem, por natureza, não goza de condições ilimitadas. O amor-inteligente entende as restrições impostas pelo tempo e pelo espaço. É capaz de transpor distâncias, vencendo mil obstáculos, que se interpõem à sua realização.

O amor inteligente persiste em seus intentos. Sabe planejar-se: preparando o terreno, deitando a semente à  terra, esperando, com paciência, a planta crescer e produzir seus frutos. Por fim, colhe-os e prepara-os para comê-los e sentir-lhes o sabor. O amor-inteligente é amplo em suas percepções. Avalia o alcance de sua abrangência. Insere-se no conjunto, dimensionando-o na amplitude de toda a realidade, apresente-se ela com brilhos ou revestida de opacidade. Nada o impede de descobrir sentidos construtivos ao fácil e ao difícil, ao bonito e ao feio, ao agradável e ao desagradável, entendendo-os, na dialética de uma interação, capaz de levar sempre a crescimentos em mais e mais dimensões. 

Postado por José Morelli

sábado, 19 de agosto de 2017

Óvulo, espermatozoide e sucessivas rupturas

Para completar sua missão como óvulo, este deve permitir a ruptura da membrana que o envolve, deixando que o espermatozoide o perfure e se aninhe em seu interior. A partir daí, ambos deixam de ter, respectivamente, a identidade de óvulo e de espermatozoide e ganham nova identidade que é a de embrião. Por sua vez, o embrião se desenvolve a partir de rompimentos: células se subdividem formando novas e novas células.

Com tantas transformações, o embrião perde sua identidade e nome como embrião e passa a se chamar feto. O feto dá continuidade ao processo de crescimento e de aprimoramento das partes em que se constitui. Cada uma dessas partes ganha a própria identidade: a do coraçãozinho, a dos pulmões, a do estômago, a dos rins, a da cabeça, a das pernas, a dos bracinhos, a do próprio sexo, etc. e etc. Tudo gradativamente vai ganhando volume e formas próprias.

As modificações são tantas novamente que a qualificação de feto passa a não ter mais sentido. A identidade que adquire é, então, a de bebê. O tempo vai passando, o bebê vai crescendo e o espaço do útero vai ficando cada vez menor para conter tamanho volume. A membrana da bolsa vai se esticando e, consequentemente, se afinando até que, num dado momento acontece mais uma ruptura: a bolsa se rompe e o líquido amniótico se derrama e a esvazia.  

Terminada a fase de formação intrauterina do bebê, este força o alargamento das passagens até que encontre uma saída. Com a ajuda da mãe, o bebê consegue romper mais esse último desafio. Um novo habitante do mundo passa a ter vida independente, precisando que, antes, seu umbigo seja cortado, desligando-se de sua mãe e passando a respirar o oxigênio por si mesmo e a alimentar-se mediante a movimentação de sua própria boca.

De modo muito parecido com o do relato acima exposto, eu, você e a quase a totalidade dos seres humanos no mundo, aqui aportaram a partir de um processo que envolveu óvulo, espermatozoide e sucessivas rupturas e desdobramentos. 

Postado por José Morelli

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Gentileza

O dicionário etimológico diz que a palavra gentileza vem do vocábulo gentil. Do latim, gentilis tem o sentido de pertencente à mesma família ou ao mesmo clã. A gentileza nasce do sentimento de igualdade (familiaridade) entre as pessoas. Igualdade fundamental no que diz respeito à dignidade e aos direitos de cada um. Gentileza é a qualidade de quem é gentil, de quem é amável e respeitoso ao se dirigir ao próximo por palavras ou por ações concretas.

Atitudes de gentileza possuem uma força intrínseca. O tratamento amoroso e equânime da mãe para com sua prole serve-lhe como exemplo a ser aprendido e seguido, dentro e fora de casa. É dessa forma que se inicia o processo de educação a partir da relação íntima de cada família. Os filhos disputam o amor dos pais. O desejo de serem preferidos, mais a um que a outro, faz com que se criem disputas entre eles (meninos e/ou meninas). Essa disputa acaba distanciando os irmãos, salientando lhes mais as diferenças do que as semelhanças. A troca de gentileza, no acirramento dessa competitividade, é substituída por maus tratos e agressividade mútua entre pessoas que trazem nas veias um mesmo sangue.

Os modelos de relacionamentos perpassam a humanidade inteira desde os menores grupos até os maiores. Os exemplos positivos ou negativos acontecem em todos os níveis: nas relações entre povos e nações e nas que envolvem não mais do que apenas dois indivíduos. A competitividade estrutural do mercado mundial não esgota o sentido de sustentabilidade, necessária ao bom desenvolvimento da humanidade em sua total abrangência.

Multiplicar gestos de gentileza ajuda a sociedade a criar uma sinergia positiva contagiante. A ação gentil descreve um caminho de ida e de volta. Quem a pratica se constrói em sua dignidade enquanto reconhece a dignidade do outro. Quem recebe a gentileza é instado a reconhecer-se em sua própria importância e a de quem foi capaz de, efetivamente, demonstrá-la.  

Postado por José Morelli

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Pescoço

O pescoço, no conjunto de partes que compõem o corpo humano, exerce o papel de ligar a cabeça ao tronco bem como, através deste, aos braços, e às pernas. Dependendo da maneira como é pensado, pode-se dizer, também, que o pescoço exerce o papel não de unir, mas de separar essas mesmas partes, distinguindo-as conceitual e emocionalmente umas das outras. Pelo pescoço passam músculos, veias, condutores respiratórios e digestivos, parte da coluna vertebral e do sistema nervoso central. O pescoço pode ser visto e avaliado de vários pontos de vista: do morfológico, do fisiológico, do estético, do psicológico e outros. A morfologia estuda a forma do pescoço sob todos os ângulos externos e internos, a fisiologia o funcionamento de seu todo e de cada parte, a estética a harmonia ou desarmonia de suas linhas ou contornos, a psicologia as correlações simbólicas que podem a ele se associar na mente.

Existem pescoços compridos e estreitos, curtos e largos, compridos e largos, curtos e estreitos. Existem também aqueles que são proporcionais em suas medidas, bem como aqueles que se apresentam nos intermédios. Por conta da estética ou de outros motivos, algumas pessoas não se agradam do próprio pescoço sentindo-o como desarmônico com o todo em que se insere.

Interligando a cabeça ao tronco, como foi dito acima, o pescoço junta a razão, representada pela cabeça, à emoção, representada pela parte mais inferior do corpo, correspondente à área de concentração das funções vegetativas. Se o pescoço for pensado e sentido como parte que une, o fluxo de energia que por ele transita poderá ter mais liberdade em sua fluidez. Se o pescoço for entendido e sentido como parte que serve à separação, o fluxo de energia que por ele passa poderá não obedecer à mesma liberdade em seu trânsito de uma parte à outra.

Quando uma pessoa sente-se tensa por causa de conflitos pessoais e interpessoais, acontece muitas vezes de perceber uma concentração de tensão na região do pescoço. Na verdade, por sua localização estratégica, o pescoço é bastante vulnerável a tensões. Se alguém reprime de desabafar por alguma razão, pode provocar uma incômoda tensão no pescoço. Para evitar esse tipo de tensão, bastaria que a mente autorizasse o desabafo. Caso essa liberação não aconteça, não haverá outra solução senão a de, baixada a poeira, fazer uma boa massagem e alguns exercícios de movimentos com o pescoço, voltando-o de um lado para o outro e/ou girando-o num e noutro sentido, até que a tensão venha a se dissolver total ou parcialmente.

Postado por José Morelli

sábado, 5 de agosto de 2017

Quadril

A parte inferior do tronco humano é formada pelo quadril. Cadeiras ou ancas são outros nomes dados a essa mesma parte. Pélvis ou bacia é a cavidade óssea formada no interior do quadril. Em sua estrutura física, este possui todos os elementos próprios do corpo: ossos, músculos, tecidos, gorduras, pele, veias. A posição no corpo, as formas anatômicas e de funcionamento, os órgãos que se encontram protegidos por ele, com suas respectivas funções, são elementos que se somam a esta parte do corpo, enriquecendo-a em suas atribuições operacionais e simbólicas.

As formas anatômicas do quadril masculino e feminino são características próprias da masculinidade e da feminilidade. A primeira delas, mais estreita e a segunda, mais larga. Ao quadril se ligam os membros inferiores. Juntamente com estes, o mesmo sustenta o peso da parte superior do corpo. Dependendo da maneira como movimentam as pernas e coxas, o quadril acompanha esses movimentos, indo de um lado para o outro de forma mais ou menos acentuada. Mesmo num andar normal, essa movimentação é variada de pessoa para pessoa.
Em muitas danças, o quadril participa de forma intensa. Uma movimentação caracterizada pela sensualidade com que o mesmo vem representado no imaginário humano.

O quadril ajuda no equilíbrio dos movimentos do corpo, principalmente quando este se encontra em sua postura de pé. Na função de abrigar e de proteger o sistema reprodutor, é o quadril que suporta o peso do bebê nos nove meses em que ele se encontra em gestação. Daí a necessidade de que, em alguns movimentos, ele seja amparado com a ajuda das mãos da mulher grávida. A região do quadril contém partes altamente erógenas com grande sensibilidade para o prazer. 

Ao quadril, principalmente ao feminino, pode ser atribuído um sentido de solo sagrado, tal qual terra fértil onde se desenvolvem e germinam as sementes geradoras de novas plantas. Por essas e outras razões, a região do quadril humano é rica em referências simbólicas únicas que a relaciona a pensamentos e ideias, desde às mais elevadas e sublimes até às mais imediatistas e vulgares.

Postado por José Morelli 

Joelhos

Genuflexório é o nome dado àquela peça de madeira, fixa ou móvel, utilizada nas igrejas geralmente na parte de traz dos bancos, sobre a qual os fiéis podem ajoelhar-se e rezar. “Genu” é o vocábulo latino, do qual proveio a palavra joelhos, em português. De acordo com o imaginário universal, os joelhos servem também à oração, dobrando-se em sinal de reverência diante do sagrado. 

Os joelhos dividem nossos membros inferiores em duas partes, dotando-os de flexibilidade. Eles possuem articulações complexas que os permitem movimentos incríveis e de alta precisão. Como as demais partes do corpo, os joelhos atendem aos comandos da mente humana. Esta, por sua vez, responde aos estímulos dos demais órgãos dos sentidos, que instantaneamente enviam suas mensagens ao cérebro. 

Reafirmando a tese de que o subconsciente humano é corporal, relato aqui uma conversa ouvida de uma amiga. A terapeuta dela que tinha vivido um período de estudos na Índia, percebendo que ela se mostrava um tanto tensa, perguntou-lhe se não gostaria que fizesse nela uma massagem. Ela concordou e a terapeuta passou a tocá-la com as mãos. Tendo-a tocado em baixo da rótula de um de seus joelhos, a terapeuta sentiu ali alguma alteração que a levou a fazer-lhe a seguinte pergunta: “você perdeu algum familiar nestes dias?”. Muito surpresa, minha amiga respondeu que sim, um tio dela havia falecido na semana anterior.

Nossos joelhos possuem atribuições importantíssimas. Nosso direito de ir e de vir é grandemente auxiliado pela mobilidade com que nossas pernas se direcionam de um lado para o outro, justamente pelo fato de nossos joelhos possuírem tanta sofisticação em suas possibilidades de movimentações.

Trazemos na mente a imagem de nossos joelhos. Formulamos deles um pensamento e um sentimento. Podemos considera-los fortes ou fracos, satisfeitos ou insatisfeitos com os caminhos a que são forçados a percorrer, gratificados ou lesados com o que lhes é imposto, em harmonia ou em desarmonia com o restante do corpo por suas performances, estética e outras atribuições que lhes servem como referência. 

Postado por José Morelli