sábado, 31 de dezembro de 2016

Meu primeiro computador

Mesmo quem diz que nunca comprou ou ganhou computador na vida, possui este a que estou querendo me referir aqui/agora: trata-se do computador da mente com que cada um de nós vem dotado, desde que fomos engendrados no seio de nossa mãe. Muito antes de o Bill Gates sonhar em existir, os mecanismos de transmissão, armazenamento e processamento de dados (codificação e decodificação) funcionam em mim e em você. O meu e o seu primeiro computador foi e é a mente que possuímos e que se encontra acondicionada, respectivamente, em minha e em sua caixa craniana. 
Portanto, engana-se quem choraminga dizendo que não tem e nunca teve computador.
O sistema de funcionamento desse nosso primeiro computador tem servido como inspiração aos cientistas que vêm pesquisando e aprimorando essas modernas tecnologias, que nós vimos chamando de computadores de primeira, segunda, terceira, ...  última geração. Até alguns dos nomes utilizados nas linguagens cibernéticas são os mesmos que identificam processos mentais de nosso cérebro.

O meu primeiro computador, assim como o seu e dos demais seres humanos, desde que saiu da fábrica, já veio munido de sistemas específicos de comandos. Esses sistemas ou programas se responsabilizam por várias tarefas, tais como: a de fazer com que nosso sangue circule através das veias e artérias; a de fazer com que o ar seja inspirado e expirado, nutrindo nossas células com oxigênio; a de digerir os alimentos retirando deles os nutrientes necessários à nossa subsistência; a de servir à nossa interação com o ambiente externo, mediante, funcionamento dos nossos órgãos dos sentidos: visão, audição, tato, olfato, paladar.   E não acaba aí... sutilezas mil podemos conseguir aprimorando-nos em nossas capacidades básicas de funcionamento.

Hoje, os computadores estão em todos os cantos. Os princípios com os quais eles se constituem estão presentes em inúmeros instrumentos: na medicina; nas aeronaves e automóveis; nos eletrodomésticos; nos aparelhos de televisão e outros. Nosso primeiro computador sempre foi dotado de microcircuitos e de redes compartilhadas, através das quais as informações se conjugam e se complementam.

Postado por José Morelli

Colocar-se no lugar do outro

Esse é um fenômeno comportamental que acontece com relativa frequência. É até mesmo provocado, com exímia eficácia, por teatrólogos e diretores de novelas. Inadvertidamente, os espectadores se vêm envolvidos nas tramas, vivenciadas pelos atores, sentindo intensamente as mesmas emoções dos personagens, magistralmente interpretados por estes.

No faz de conta é assim que funciona. Na vida real, o colocar-se no lugar do outro tem um nome bem apropriado, que é o de EMPATIA. Essa capacidade humana, assim chamada, pode ser provocada por uma aguda sensibilidade e coragem, que permite à pessoa de não só se perceber em suas próprias fundamentações e razões; mas, também, perceber as razões que determinam a resposta emocional do outro. Não se trata de uma mistura de sentimentos difusos. A empatia funciona como um sinal de alerta, que ajuda no discernimento da realidade em sua maior abrangência. Entendida dessa forma, a empatia se constitui como uma virtude ou qualidade humana.

No entanto, se o sentir-se no lugar do outro advém de uma vulnerabilidade, de uma fraqueza de personalidade, esse fenômeno comportamental já não pode ser considerado uma virtude. As sensações se misturam e torna-se difícil à pessoa distingui-las entre si. No lugar de se poder ter um maior governo da situação; o que acontece é um descontrole, uma perda da própria identidade na identidade do outro.  Essa fraqueza é perigosa. Pessoas ardilosas conseguem comover e mover corações, extorquindo ajudas (esmolas) indevidas, mediante chantagens bem ou mal arquitetadas.

Nas discussões, a empatia é fundamental a fim de que estas se tornem produtivas de fato. Sejam em discussões que envolvem indivíduos ou aquelas que envolvem grupos (coletivos), a empatia ajuda no bom entendimento da realidade em sua integralidade. Os apegos a umas ou a outras razões podem ser devidamente desvendados. O que importa não é o ego dos envolvidos nas discussões; mas qual a realidade dos fatos e o que está em jogo de se perder irremediavelmente.

Postado por José Morelli


Susceptibilidade

Susceptível é a pessoa com susceptibilidade. Nossa pele é o maior órgão de nosso corpo. Ela nos envolve dos pés à cabeça. Ela é, também, as fronteiras que nos delimitam com o mundo externo, no qual vivemos e nos movimentamos. Ela é o nosso posto mais avançado, mediadora de todos os nossos contatos físicos. Dentre as peles que revestem os animais, a humana é uma das mais susceptíveis. Por isso, nossa pele é uma das partes do corpo onde as alergias se manifestam em maior quantidade e variedade. Quando queremos nos referir a pessoas que são insensíveis, dizemos que estas parecem não terem pele de gente; mas epiderme de elefante, grossa e intransponível.

No exemplo acima, susceptibilidade é essa disposição do organismo que pode atingi-lo não só na pele; mas em outros órgãos do corpo, tornando-o vulnerável a gripes, ao sereno e a certos medicamentos.  No plano psicológico, o indivíduo susceptível é aquele que facilmente se sente ofendido: um olhar torto, uma palavra interpretada como censura é capaz de derrubá-lo emocional e mesmo corporalmente. O mental e o corporal compõem um todo e se interferem mutuamente.

Fragilidade e susceptibilidade podem se combinar. E ninguém ignora que as crianças pequenas são frágeis e indefesas. Aos adultos cabe a tarefa de protegê-las. Os ambientes familiares são a forma (molde) onde as crianças são forjadas em suas personalidades básicas. É nesse meio que elas assimilam tudo o que lhes é passado. A confiança e a insegurança, a sinceridade e a mentira, a harmonia e a desarmonia, a tolerância e a intolerância formam o clima onde a criança respira dia e noite e tendo que sobreviver.

Toda criança desenvolve mecanismos de defesas naturais. Pela força ou pela fraqueza, a criança precisa desenvolver um mecanismo que a possibilite ter condições mínimas de sobrevivência. O estado emocional acompanha o desenvolvimento físico. O equilíbrio estabelece um critério sobre o que é sadio e o que é doente (doentio). A realidade em seu todo compreende o positivo e o negativo.

As palavras dirigidas - ou não - às crianças, a emotividade experimentada pelos adultos frente às situações batem nos olhos, nos ouvidos e na sensibilidade das crianças. Elas captam e absorvem e respondem de alguma forma. Às vezes mostram externamente o que acontece no íntimo delas, outras vezes trancam-se em si mesmas e sofrem caladas e sozinhas.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Transversalidade da psicologia

Uma vez que a psicologia é o estudo do comportamento humano, desde os seus primeiros fundamentos até os seus últimos e superficiais desdobramentos, é procedente que se possa entendê-la como transversal em sua abrangência, perpassando praticamente todas as áreas do conhecimento humano.

Essa transversalidade permite trocas entre os diversos objetos do conhecimento e aqueles ou aquelas que se dedicam em explorá-lo e conquistá-lo. Para quem gosta de pensar de forma concreta e materializada, pode-se dizer que a transversalidade se comporta como uma flecha que é lançada sobre um feixe de retas paralelas, gerando diferentes tipos de ângulos de visão e de compreensão. Portanto, em tudo que se estuda, o viés do olhar psicológico faz agregar subjetividades e de cada subjetividade algo original de quem pesquisa é atribuído àquilo sobre o qual este encaminha sua atenção e dedicação.

Um antigo ensinamento (princípio) da lógica do pensamento ensina que: quanto maior a extensão do conhecimento menor a profundidade e, consequentemente, quanto menor a sua extensão maior a sua profundidade. Daí que, na medida em que as ciências vão ganhando maior amplitude e, consequentemente, se aprofundando, mais e mais disciplinas vão tendo espaço nos diversos cursos oferecidos pelas faculdades. O ser humano (a pessoa humana) não está nem fica fora de nenhuma evolução científico-tecnológica ocorrida no mundo inteiro.

O sentido de transversalidade da psicologia já permitiu grandes aprofundamentos em diversas áreas de conhecimentos. Hoje contamos com importantes especializações tais como: na área clínica, organizacional, educacional, social, jurídica, do esporte, hospitalar, política (o cientista político não pode prescindir do viés aprofundado da psicologia), sem mencionar outras áreas cujos estudos ainda se encontram em fase de construção.

Postado por José Morelli



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Levar-se à sério

Se eu não me levo à sério, como posso esperar que os outros façam o mesmo comigo?... Levo-me à sério quando me dou valor e importância pelo que sou e pelo que faço, seja considerado grande ou pequeno. Aliás, como diz a sabedoria oriental: um quilômetro é feito de mil passos. Cada um deles tem a sua fundamental importância na construção do objetivo da caminhada, em sua totalidade.

Primeiramente, devo me levar à sério pelo que sou; em seguida, pelo que penso e, por último, pelo que sinto. Essa é uma tarefa que começa em meu juízo e em meu pensamento e que se reflete, instantaneamente, em minhas sensações e sentimentos. Sou quem sou e como sou. Levo-me à sério aceitando-me em minha realidade tal qual é. Levo-me à sério assimilando as experiências que vivo a cada momento. De cada experiência vivenciada sempre alguma nova constatação vem se somar aos meus saberes. Surpresas fazem parte da trajetória: desafios a serem superados e transpostos.

Levo-me à sério nas trocas que estabeleço com os outros em minhas interações. Tais trocas começam dentro de mim. Trago, de mim mesmo e dos outros, imagens mentais que me servem à preparação de como devo agir nas diversas circunstâncias.  Dependendo de como são essas imagens mentais, adoto posturas de ataque ou de defesa, destrutivas ou proativas.

Levo-me à sério nas palavras que pronuncio, nas atitudes que tomo ou deixo de tomar. Cada sílaba pronunciada tem sua devida importância. Cada gesto, por mais simples que seja, não deixa de compor um conjunto expressivo de uma atitude a ser tomada. Nas brincadeiras, o faz de conta é inerente às ações que delas fazem parte. Na vida real, no entanto, é exigido um foco mais preciso, mais objetivo e coerente com a seriedade e veracidade dos fatos e acontecimentos.

Levar-se à sério exige reciprocidade de respeito da parte dos interlocutores. É imensamente nocivo que nos induzam a fim de nos confundirem. Tratando-nos como se fôssemos de faz de conta (de mentirinha), à semelhança do acontece com as novelas, apresentadas como se fossem notícias e com as notícias, apresentadas como se fossem novelas.

Postado por José Morelli

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Boas notícias

É da história que boas novas vieram de uma Mulher. Mais precisamente, de sua barriga. A notícia de um nascimento é sempre plural. Através dele, há um desdobramento do Bem, que vai se difundindo por si. É da história também que, antes de chegar à barriga, a criança foi aceita na decisão do pensamento e no amor do coração dessa Maria. Ela teria sido consultada por um anjo e sua resposta fora SIM. Da massa cinzenta, da pulsão de vida, da natureza que o cosmos contém, desse íntimo surgem boas notícias, que permearam e vem permeando a trajetória dos homens há séculos. A harmonia deve vir do íntimo. As boas, as melhores notícias, devem vir, também, desse mesmo íntimo.

Fanías, do grego, significa manifestações. Teós, da mesma origem, significa Deus. Teofanias são manifestações de Deus. Existem muitas. Na história de antigas civilizações encontram-se narrativas de nascimentos de deuses. A presença da mulher no processo da vida, emprestando seu corpo, qual semente fértil, é uma constante nas manifestações desses seres divinos, superiores. No pensamento da humanidade a esperança encontrou formas concretas, corporificadas, capazes de traduzir os melhores desejos, guardados no íntimo de cada pessoa.
Enquanto a divindade “desce” à Terra, valorizando-a e valorizando seus filhos, os filhos da Terra se projetam em grandezas, no valor da divindade, encontrando sentido em uma vida superior, menos limitada e menos “imperfeita”. Arrogam-se poderes, muitas vezes indevidamente.

O fato simples de um Deus vir à Terra para viver a vida dos homens, participando de tudo o que dela faz parte, desde as alegrias e esperanças, até as dores, tristezas e mesmo morte é uma espécie de validação dessa mesma vida. É como se Ele quisesse dizer: Não existe outro caminho mais glorioso para vocês humanos, senão o de serem plenamente o que são, humanos, com todas as grandezas e com todas as limitações que essa natureza contém. Para nós seres humanos o caminho é o da humanidade. Tudo o que faz parte deste contexto é profundamente nosso e deve ser vivido com a máxima intensidade, plenamente assumido e degustado, sugado até a última gota, seja doce, amarga ou azeda, não importa.

Da mulher, de seu íntimo, do imo de seu coração e de sua decisão vem uma das mais profundas lições da natureza e da fé.

Postado por José Morelli


domingo, 27 de novembro de 2016

Densidade emocional

Captamos com a nossa percepção a densidade de um sorriso que nos é dirigido, de uma palavra que nos é dita e com força ou leveza chega ao nosso ouvido, da imagem visual de um olhar denso seja ele de aprovação ou de censura, de um gesto carregado de agressividade, sem expressão alguma ou pleno de amabilidade, de um movimento corporal agressivo ou sutilmente delicado expresso através de algum gênero de dança.

Antes mesmo de a criança entender o sentido das palavras, ela já é capaz de captar a densidade emocional que costuma acompanha-las. Mais do que os significados próprios a essas palavras, fala mais alto à criança a densidade com que elas são expressas. O adulto que se encontra inseguro em sua intenção de reprender uma criança não é capaz de impor-se tendo em vista a pouca intensidade emocional com que se expressa. A densidade emocional revela a verdade do comunicador, em sua integralidade.

As palavras em si mesmas possuem suas próprias densidades quanto aos seus significados. Há situações em que o indivíduo tem ao seu dispor vocábulos diferenciados com mais ou menos força de expressão. Se este entende que a situação exige comedimento, ele procura utilizar-se de palavras bem polidas ou de sentido pouco contundente e agressivo. Se este entende que precisa rasgar o verbo, como se diz, sua escolha já recai em termos mais agressivos e até mesmo chulos ou ofensivos. 

A literatura expressa, através das palavras, a densidade emocional da vida humana. Apenas para citar um exemplo, nestes últimos dias ouvimos, mais uma vez, relatada a passagem em que a mulher adúltera foi levada para que fosse apedrejada, como mandava a lei. Os fariseus a apresentaram a Jesus a fim de o testarem, reafirmando o que o legislador Moisés havia determinado. “Quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra!” Um a um todos acusadores foram jogando ao chão as pedras que tinham nas mãos e se retirando. Só ficaram Jesus e a mulher (Misericórdia e Mísera). “Ninguém te condenou?” perguntou Jesus à pecadora. “Ninguém!” respondeu a mulher. “Eu também te perdoo, vai e não peques mais!” –Imagine a densidade da emoção vivenciada por cada um daqueles que protagonizaram esse momento surpreendente, relatado com tamanha simplicidade e objetividade!

Postado por José Morelli 

domingo, 20 de novembro de 2016

Saúde emocional

O corpo é importante e merece atenção para que se mantenha sempre saudável em seu funcionamento. Enquanto composto de matéria, este pode ser acompanhado e observado em seu crescimento e desenvolvimento, podendo ser medido ou pesado, observado pelo olhar experiente do médio ou apalpado com suas mãos, a fim de perceber-lhe as reações e o alcance do mal que o aflige. Pode também ser fotografado/filmado e criteriosamente avaliado, externa e internamente, no todo ou em suas partes.

A doença corporal é mais perceptível, em si mesma, do que a doença que atinge a área das emoções. Falar em “distúrbio” emocional, passa a ideia de desordem, de desarmonia, de desequilíbrio entre partes de um mesmo todo. O ser humano é dotado de capacidades que o colocam no topo do desenvolvimento de todas as espécies animais. É por conta de tanta capacidade que ele tem conseguido chegar a progressos incríveis. Porém, quando lhe faltam boas condições de saúde, quer física, quer emocional, as consequências podem ser bastante desastrosas tanto para o indivíduo como para a sociedade.

A psicologia, através da psicoterapia, se dedica ao tratamento dos chamados distúrbios emocionais. Um trabalho que exige muita dedicação da parte do psicoterapeuta. Para se instalarem, os problemas, muitas vezes, vão se formando no decorrer de anos de influências negativas, que desvirtuaram e continuam a desvirtuar o curso normal dos acontecimentos. Não seria de uma hora para outra que esses problemas se dissolveriam. Porém, com esforço e perseverança, os resultados aparecem e a alegria de viver volta a impregnar o existir de quem se mantinha impossibilitado de sentir-se de bem consigo mesmo e com a vida que está vivendo.

Investir em si mesmo é dar-se o melhor de que necessita. Quando se está bem, as chances de se obter resultados melhores em tudo aquilo a que se dedica também aumentam. Investir na própria saúde emocional pode valer mais do que investir em certos bens puramente materiais. Trata-se de estabelecer uma hierarquia de valores. Cada coisa tem seu grau de importância. Priorizar o que pode melhorar a qualidade da própria vida, em seus aspectos mais profundos, é uma tomada de atitude inteligente.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Bens imateriais

O mesmo que bens não-materiais, intangíveis. - A quem pertencem? ... Quanto valem? ... Podem se manter vivos nas lembranças das pessoas ou se perderem no vazio do esquecimento? ... Os conhecimentos produzidos pelas ciências em geral no decorrer da história, a sabedoria ou ditos populares, crenças religiosas, tradições transmitidas oralmente, obras musicais e outras podem se constituir como bens imateriais. Embora estes sejam de natureza não-visível, não-palpável, de alguma forma podem ser expressos simbolicamente, ganhando consistência física. Um exemplo disso pode ser a partitura de uma melodia qualquer ou a sua reprodução através da voz humana e de instrumentos musicais.  

Há alguns anos, a cidade de Olinda recebeu da Unesco o título de patrimônio da humanidade. Bens imateriais podem também obter esse mesmo reconhecimento. A memória e os feitos de Jesus Cristo, de Buda, Maomé, Che Guevara, Luther King, São Francisco, Chapplin e de outros fazem parte do inconsciente coletivo da humanidade. São personalidades que se tornaram referências.  Ninguém pode se considerar dono das grandes idéias que existem no mundo. As doutrinas religiosas são patrimônios da humanidade. Todos indistintamente podem delas se utilizarem em benefício de si mesmos e de outras pessoas.

Quanto vale as idéias e lembranças existentes no consciente e no inconsciente coletivo da humanidade, no mundo todo? O valor desses bens imateriais é incomensurável, isto é: não pode ser medido em dinheiro. A verdade é que, esses bens possuem um potencial incrível de se materializarem, transformando-se em bens passíveis de serem valorizados também do ponto de vista monetário.

De forma semelhante aos códigos de barra, os bens imateriais podem se combinar de infinitas maneiras, desdobrando-se em novos e diferentes bens. O potencial transformador da vida humana está presente em cada pessoa. Dependem das idéias existentes na consciência dos seres humanos os rumos a serem tomados pelo curso da história. O material se subordina ao imaterial e não ao contrário. A inteligência, as idéias e lembranças conscientes e inconscientes, os valores humanos se constituem como principais patrimônios que todos devemos salvaguardar e promover, da melhor 
maneira que tivermos ao nosso alcance. 
  
Postado por José Morelli 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Pele

É com ela que somos revestidos. Ela é o nosso invólucro, a embalagem que nos envolve, à semelhança de um presente adequadamente embrulhado. Nossa pele, num mesmo tempo, nos protege e nos expõe. Ela é nossa periferia, constituindo-se como divisas, postos avançados, que demarcam o território ocupado por nosso corpo físico, material. 

Nossa pele é parte do todo em que nos constituímos. Essa exterioridade da mesma é compartilhada por nossas unhas de mãos e de pés e por nossos pelos e cabelos, consideremos estes últimos bem ou mal distribuídos, não importa. Nossa pele é voltada para fora de nosso corpo e também voltada para o seu interior, mantendo contado com ambos os lados. A percepção do tato se dá, primordialmente a partir dos estímulos, provocados sobre a superfície de nossa pele.

Sensibilidade: externa e interna. De nossa pele, em nossa mente, concebemos um conceito, uma idéia construída. De acordo com esse conceito, criamos um sentimento, que pode ser positivo ou negativo: de amor ou de ódio, de contentamento ou de descontentamento. Podemos gostar ou não gostar de nossa pele por uma série de motivos. Com o nosso gostar harmonizamo-nos. Ganhamos paz. 

Fazemos fluir melhor a energia de um extremo ao outro de nosso organismo.
Interagimos com o meio ambiente através do toque, do contato direto que mantemos com o mesmo. O frio e o calor intensos podem agredir nossa pele, ferindo-a até. Quem se gosta se trata bem a si mesmo. Quem gosta da própria pele não se agride espremendo espinhas ou se judiando desnecessariamente.

Nossa pele é nosso espelho. Refletimo-nos nela pelo que somos, pensamos e sentimos. Sabemos que nosso existir não é solitário. Somos com o mundo ao nosso redor. Do juízo que fazemos deste, nasce em nós sentimentos relacionados a ele. Se o consideramos tão somente hostil, nutrimos medo dentro de nós mesmos. Nossa pele tem que encontrar maneiras de se proteger. Uma dialética se estabelece. Temos que nos fortalecer interiormente para que nossas superfícies (fronteiras) não tenham sozinhas que carregar esses pesados fardos.  

Postado por José Morelli         

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Simbolismos da vela

Antes da descoberta da lâmpada elétrica, desde tempos remotos, a vela (ou candeia) vem sendo utilizada como fonte de luz. Constituída por um pavio inserido num combustível sólido, tipicamente conhecido pelo nome de parafina, à vela podem ser atribuídos vários significados ou simbolismos, tanto pelo que ela é em sua constituição material como em sua funcionalidade.

Como elemento decorativo, hoje, existe no mercado uma quantidade muito grande de velas que, pelo formato, material utilizado, coloração, propriedade odorífica, permite sua utilização em situações diferenciadas, compondo harmoniosamente com os acontecimentos a serem celebrados e com os lugares nos quais são dispostas.

Do ponto de vista religioso, a vela serve à representação de realidades, cujos significados transcendem às dimensões da ordem física. No último domingo, na celebração presidida pelo Eduardo na Capela do Esportivo da Penha, por exemplo, a chama acesa de uma vela serviu para atear fogo a pequenos papeis brancos, nos quais estavam escritos nomes de pessoas falecidas. Enquanto sofriam a ação do fogo, os papeis se transmutaram em fumaça, que foi se elevando para o alto, imagens expressivas de realidades que transcendem àquilo que ultrapassa a capacidade de percepção dos nossos cinco sentidos.

Outra propriedade da vela é a de iluminar. A luz da vela pode significar a própria luz de Deus, que veio e vem constantemente ao mundo para iluminar a caminhada humana. De forma semelhante, a vela acesa também pode representar a fé que habita a mente e o coração do fiel, servindo-lhe como meio de expressão em rituais públicos ou individuais.

A chama pode ser passada de uma vela para outra vela. Mesmo que a oração termine, esta pode continuar acesa representando uma presença que precisou ser interrompida. Enquanto o fogo queima, produzindo luz e calor, a cera vai pouco a pouco abastecendo com sua energia a chama ardente. O fogo é, também, universalmente associado à força do amor seja ele humano ou divino/sobrenatural.

Postado por José Morelli

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Instante

É do que nossa vida é feita, no tempo e no espaço. O dicionário diz que instante é aquele tempo no qual algo se dá. Um instante não pode acontecer sem que o instante anterior não tenha se completado em seu existir. Com o desenvolvimento tecnológico, a fração do tempo pode ser subdividida em décimos, centésimos de frações de segundos. Que o digam as placas que registram as chegadas dos nadadores olímpicos, assinalando as mínimas diferenças entre os que chegam primeiro, segundo, terceiro ou últimos lugares.

No intuito de expressar melhor o sentido da primeira frase do parágrafo acima, talvez possamos formulá-la dizendo que a minha, a sua e a nossa vida se fazem (se constroem ou se destroem) na sequência dos instantes. Disso podemos ter consciência, que é um dado a mais e superimportante de nossa realidade humana, desde que nos mantenhamos atentos a isso; do contrário, nossas vidas profundas nos passarão despercebidas. Nem agradecer pelo que nos aconteceu e está acontecendo de bom, teremos possibilidade de fazê-lo.

Os segundos, os minutos, os dias, os meses, os anos... Todos esses tempos podem ser fracionados em instantes, aparentemente insignificantes em suas durações. Esquecemo-nos, muitas vezes, de que ato posto é um ato sem chance de retroceder ou voltar atrás.  Consequências ou sequelas destes decorrem de seus desdobramentos naturais.

Neste exato momento, está se desprendendo a luz de alguma estrela e se dirigindo para o nosso planeta Terra, a uma velocidade calculada em ano-luz (distância que a luz percorre no vácuo no período de um ano). Dependendo da distância em que se encontra essa estrela, sua luz só chegará aqui daqui a séculos podendo ser vista, quem sabe, pelos olhos de alguns de nossos futuros descendentes. Nossa consciência sabe que é assim que funciona graças ao esforço e à inteligência de cientistas que, em passado não tão distante, nos legou e à humanidade informações que nos esclareceram a respeito desse fato.

Cada instante tem sua dimensão histórica. Nosso momento de vida vem sendo construído pessoal e coletivamente. Assim como recebemos de nossos antepassados os legados que deles herdamos; assim também transmitiremos às futuras gerações os legados que para eles transmitiremos.

Postado por José Morelli

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Ganância X Moderação

Ganância não se contrapõe à moderação. O que se contrapõe à ganância é o desinteresse ou desapego de tudo aquilo que se constitui como indispensável à vida humana (material e imaterialmente considerada). Enquanto a ganância se refere à avidez por ganho lucrativo (lícito ou ilícito), a moderação se refere à vontade humana de permitir, a si e aos outros, o que é basicamente necessário à própria vivência e realização da maior parte das pessoas. 

O mundo é objetivamente o que é sem tirar nem por. No estágio atual de desenvolvimento econômico e de livre concorrência, ele vive impasses dramáticos. Vulgarmente falando, poderíamos até dizer que: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.  Para saciar a voracidade do “Minotauro” (figura mitológica com cabeça e cauda de touro num corpo de homem), o Rei Minos, da ilha de Creta na Grécia, enviava anualmente ao labirinto, por ele construído, jovens atenienses (sete rapazes e sete moças), a fim de que ali servissem à saciedade do Minotauro. Esse fatalismo, no entanto, não é compartilhado por todos. Há quem ainda consiga ver alguma luz no fundo desse túnel.

O editorialista da “Revista Página 22”, em sua edição de nov/dez de 2015, comenta a respeito do economista alemão Ernest Schumacher, cujo trabalho foi traduzido no Brasil como “O Negócio é Ser Pequeno”. Diz ele que o livro contesta a “idolatria do gigantismo”, defendendo que se leve a tecnologia de volta à escala humana e que a economia não deve visar o lucro, mas sim atividades que estejam de acordo com os valores considerados importantes pelas pessoas e sejam condizentes com os recursos naturais disponíveis.

Em sua conclusão, o editorial da revista assinala que o sistema econômico agigantado delapidou o capital natural além da conta e não foi capaz de distribuir de forma equânime as riquezas geradas, adotar as inovações cada vez mais necessárias, respeitando os limites do ambiente e fazendo sentido para todos e não, apenas, para poucos que se deixam levar mais pela ganância do que pela moderação; mesmo que isso signifique o estabelecimento de uma exclusão de parcelas significativas da humanidade.       

Postado por José Morelli       
                                                                                                                                                                        

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Masculinidade & Feminilidade

Maneiras próprias de ser e de agir, de pensar e de sentir, que se associam e se complementam nas interações e nas múltiplas trocas, estabelecidas pelos seres humanos, nas diversas etapas da vida. Certamente, em nenhum outro tempo como o dos dias atuais, tantas revistas especializadas divulgam imagens masculinas e femininas, ressaltando as características mais marcantes de cada uma delas. Por isso, quanto ao que se refere às maneiras externas de uma e de outra, estes dois conceitos podem ser apreendidos com clareza em seus significados.

Desde os primeiros dias de vida, mesmo antes de cada um de nós termos nos reconhecido em nossa própria identidade de gênero, nossos cinco sentidos já registravam as diferenças entre as maneiras próprias da masculinidade e da feminilidade. Nossas vivências posteriores foram nos permitindo construções de entendimentos mais aprofundados. Fomos aprendendo a associar ao que vemos externamente o sentimento que o acompanha internamente.  

Dentre as explicações e ideias ouvidas, em todo esse percurso de aprendizados, algumas acabaram por nos servir de alerta. “Quem vê cara não vê coração” diz a sabedoria popular: dentro de um corpo masculino, por mais masculinizado que pareça, pode se ocultar uma alma afinada com a feminilidade e, dentro de um corpo feminizado, por mais feminino que pareça, pode se encontrar uma alma identificada com a masculinidade.

Encantamentos são encontrados em ambas as maneiras de ser e de agir. Atratividades mútuas servem à sedução de umas pelas outras. Nada se compara às imagens reais e em movimento, densas de vida e de dinamismo. Sutilezas são apreendidas, despertando reações instantâneas. Corporeidade e sentimentalidade se entrecruzam em todas as direções e é, por essas e outras, que a vida, em sua integralidade, merece ser respeitada e valorizada

Postado por José Morelli

Medo do medo

“Gato escaldado tem medo de água fria”, assim resumiu e sintetizou o ditado popular. Tendo passado pela experiência de ter sido queimado com água fervente, o gato se assusta diante da leve ameaça de ser atingido, mesmo que a água do balde esteja fria ou morna. Ao barulho de um trovão, os cachorros respondem com expressões diametralmente opostas de medo: latindo ou se escondendo, encolhido em algum canto que lhe parece seguro. A criança pequena, por sua vez, chora e procura o colo da mão para nele se refugiar e se sentir mais protegida.

O dia a dia proporciona vivências potencialmente capazes de mostrar onde se encontram os perigos reais e verdadeiros. O medo é um mecanismo de defesa necessário à sobrevivência dos seres vivos e animados. Dos adultos, as crianças devem aprender a lidar com esse mecanismo, indispensável à proteção e à sobrevivência de qualquer indivíduo. No entanto, se o medo não deixa de ter o seu lado bom, não deixa também de ter o seu lado mal e perverso. O medo exagerado não é bom conselheiro. Ele pode mesmo passar a ser o maior de todos os inimigos do homem e da mulher, paralisando-os em suas iniciativas.

A casca de proteção se torna tão grossa e impermeável que, no lugar de ajudar na saúde do corpo, impede-o de se desenvolver e se realizar. O medo passa a ocupar uma primazia de importância que anula as outras potencialidades. Antes mesmo que dele se aproxime, o indivíduo cria mil proteções no sentido de impedir-se de avançar, não se permitindo de considera-lo em sua objetividade. É a isso que chamamos de: medo do medo.

O medo do medo pode atingir tanto um individuo como uma coletividade. Há aqueles que se aproveitam do medo alheio para dele tirar proveito. Apostar no medo do medo faz prosperar grandes negócios. As desigualdades polarizam as pessoas e os grupos sociais. Enquanto alguns são extremamente ousados e arrojados, outros se encolhem em seus cantos, totalmente dominados pelos mais variados tipos de medos.  

Postado por José Morelli

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Reisado de Minas

Neste fim de semana, tive a felicidade de ir à cidade mineira de Carmo do Cajuru. O motivo desta ida era o de conhecer, mais de perto, uma manifestação cultural e histórica da população afro-brasileira muito rica de expressividade em todas as suas formas.

Nessa cidade há uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário, cuja data de construção remonta ao ano de 1771, coincidindo com o período em que se deram os acontecimentos que levaram à deflagração da chamada “Inconfidência Mineira”. É provável também que a construção da Igreja do Rosário daqui da Penha de França tenha ocorrido nessa mesma época, uma vez que a Irmandade de homens pretos que a construiu já atuava desde 1755.

Uma palavra que pode dar uma ideia aproximada do que os congados realizam nessa manifestação do Reisado de Minas Gerais é a palavra “explosão”. Os tambores e demais instrumentos marcam sons fortes que são acompanhados de danças. O chão é o alvo dos pés. Parece até que os dançantes, com seus chocalhos em torno das canelas, querem acordá-lo de algum sono profundo ou inércia, o que facilita que lhe levem as riquezas.

A viagem, em seu conjunto, serviu como um banho de brasilidade. As figuras dos profetas, esculpidos em pedra sabão por mestre Antonio Francisco Lisboa - o Aleijadinho – e que se encontram no adro da igreja, em Congonhas do Campo, se constituem como ícones de uma fé que não admite qualquer pacto com falsidades ou injustiças.

Nessa mesma linha de entendimento se incluem os acontecimentos, ocorridos nos idos de 1717, em terras paulistas do Vale do Paraíba, quando do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, por pescadores, nas águas do Rio Paraíba do Sul. Individual ou coletivamente, a fé popular não objetiva a alienação de quem a pratica com sinceridade e boa vontade.

Postado por José Morelli

sábado, 20 de agosto de 2016

Corrida por revezamento

Nestes dias, dentre as diversas modalidades esportivas que fazem parte das Olimpíadas Rio 2016, iremos assistir à corrida por revezamento. Sejam na forma 4X100 ou 4X400, no masculino ou no feminino, os atletas que formam as equipes de cada país correrão as suas respectivas parcelas do total do percurso, devendo passar o bastão à mão de um para o outro, a fim de que este possa ser levado e ultrapassar a linha de chegada. 

Trata-se de uma modalidade esportiva de grande poder simbólico. De forma muito clara, a corrida por revezamento pode significar a vida humana em sua ampla realidade: a velocidade com que a vida acontece, principalmente nos dias atuais; a absoluta necessidade da cooperação mútua para que possamos levar adiante os pequenos e grandes projetos de futuro, tanto os pessoais como os da coletividade (equipe) da qual fazemos parte. O bastão, no instante em que ele é passado, pode simbolizar o legado, a herança a ser transmitida. Estas são algumas das correlações simbólicas que podemos depreender da corrida por revezamento.

A comparação vale para representar a transmissão do legado que, nas famílias, pais passam para seus filhos. Pode também representar a transmissão do legado que uma geração inteira passa para a que a segue. É assim a regra do jogo e é fundamental que assim seja cumprida.

Imagina se um dos atletas, no lugar de passar o bastão para o companheiro da própria equipe, o passe para o de outra equipe competidora?!... Este não só levará consigo o bastão da sua equipe como o da equipe que teve o azar de trazer, em seu quadro de componentes, a figura de um elemento que preferiu ou escolheu jogar contra e não a favor da própria equipe: um traidor em síntese.  

Qual seria a memória histórica de um personagem como esse?... Ele deveria ser, por esse mesmo fato, expulso da própria equipe olímpica e, certamente, nem poderia retornar ao seu país de origem. Se no esporte é assim, não poderia ser diferente na vida em sua total abrangência. O bom legado deve ser transmitido aos legítimos herdeiros e não àqueles que não fazem parte da história compartilhada, construída com os esforços de toda uma família, de uma comunidade ou de uma nação inteira.