terça-feira, 19 de agosto de 2014

"Remédio vivo"

Carência de vida, de felicidade, de resposta... só se cura com vida, com “remédio vivo”. Remédio-resposta, remédio anseio, remédio-ponte (passagem/mediação), remédio encontro. Remédio-gente, para superação e cura de carências de vida humana.

Remédio - gente viva - fantasia: resposta fundamental, necessária, indispensável ao lenitivo da dor e à superação do medo de sentir dor, que paralisa a inteligência e a vontade. Remédio-emoção-plenitude. Tônico que encoraja enfrentar os riscos de viver e de conviver, de gozar e de sofrer. Indicado para se obter o reencontro com o ego (eu), com o sentido mais verdadeiro da própria realidade. Através de relações e correlações, de dimensionamentos e redimensionamentos obtém-se um aumento da auto-estima e da estima, melhor ordenada, do que existe à volta.

Com novos sentidos e perspectivas, a vida ganha merecimento, dignidade e respeito. Subjetividade e objetividade se encontram, se desencontram e se tornam a encontrar... sucessivamente.
Remédio-sorriso-indignação-esperança. Remédio-todos os altos e baixos humanos... Remédio vivo interagindo com a vida. Teste de vida. Medo de fracassar, medo de magoar. Trocas saudáveis, mutuamente justas. Vidas com nomes e endereços... personalizadas, identificadas, confiantes e confiáveis, mutuamente cumpliciadas.

Remédio vivo - eficaz, que chega onde está o mal, onde está a dor... que, antes de suavizá-la, faz com que doa ainda mais. Dor de reconhecimento, de enfrentamento, de coragem/covardia (assumida ou negada), de resolução e de solução. O ego identificado em suas capacidades e limites no aqui/agora. O psicoterapeuta como gente e remédio vivo.

Ser humano que se predispõe compartilhar sua própria vida com a vida de quem precisa de mais vida, melhor vida, num contexto original e desconhecido. Mundo a ser visto e decifrado dentro e fora. Num espaço especialmente destinado a esse objetivo, cliente e psicoterapeuta desenvolvem seus papéis, abertos às surpresas, que a vida sempre costuma esconder no que há de mais profundo em cada indivíduo.

Por José Morelli

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Férias

Embora não tivessem sido tão longas quanto desejávamos, não deixaram de nos proporcionar vivências diferenciadas das que habitualmente costumamos ter em nosso dia a dia. A rotina do interior oferece derivativos importantes, principalmente para quem vive numa megalópole como esta nossa agitada paulicéia, bastante próxima do progresso, porém distante da natureza e das lições que a vida simples é capaz de nos ensinar.

Estivemos em Minas Gerais na casa da madrinha. No galinheiro de seu quintal encontramos apenas as galinhas e não mais os dois galos que antes lá moravam. A madrinha disse que preferiu vendê-los, uma vez que o canto deles incomodava as crianças pequenas dos visinhos. Com essa falta dos dois galos, a conclusão óbvia era de que aquelas galinhas não botariam mais ovos galados e ali, naquele galinheiro, não nasceriam mais novos pintinhos.

Porém, logo percebemos que estávamos enganados. Num dos cantos do quartinho de depósito encontramos uma das galinhas, terminando de chocar seis ovos. Quatro deles já haviam se quebrado e deles nascidos dois pintinhos clarinhos e dois escurinhos.  Os outros ovos goraram, isto é, não deram pintinho nenhum.

Os ovos galados haviam sido comprados de outro galinheiro e colocados debaixo da galinha para serem chocados. A qualidade das galinhas da madrinha é de uma mistura de carijó com garnisé. São de porte médio que, mesmo quando chocas, “aperreadas” como diz a madrinha, não conseguem cobrir mais do que seis ovos. Estes precisam ficar todos debaixo da galinha para que não gorem devido à temperatura inadequada do lado de fora.

Da madrinha soubemos que o período de choco é de 21 dias. Apenas de dois em dois dias, a galinha sai do ninho e vai comer e beber junto às outras no galinheiro. Depois volta a seu posto, mantendo-se com as pernas dobradas, a fim de que possa cobrir totalmente os ovos. Se algum ovo fica fora, puxa-o para baixo das asas com o bico. Ao aproximar-nos de seu ninho, ela imediatamente dá sinais de não gostar, ameaçando-nos atacar caso cheguemos mais perto dela e de seus filhotes.


Na manhã seguinte, o sol voltou a dar o ar da graça. Os pintinhos e a galinha saíram do ninho de onde estavam e passaram a buscar o que comer quintal afora. A madrinha explicou que, enquanto os pintinhos precisarem de proteção e alimentados com uma ração especial, a galinha permanecerá separada com eles. Passados mais uns trinta dias, não haverá mais essa necessidade. Emancipados, eles passarão a conviver com os outros no galinheiro, disputando com eles a comida que lhes possa garantir a sobrevivência e o crescimento. 

Por José Morelli