segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pré-ocupado

A ocupação é o envolvimento efetivo com aquilo que o indivíduo está realizando, enquanto que a pré-ocupação é o envolvimento mental e emocional do indivíduo naquilo em que ele ainda não está fazendo ou, como se costuma dizer, “botando a mão na massa” para fazer. A mente não tem nada de concreto em que possa se apoiar, divagando de um lado para outro. Fica solta no ar ao sabor dos mais variados ventos. As ações concretas oferecem possibilidades mais objetivas para direcionar os pensamentos. Por isso, na pré-ocupação, a fantasia de cada um pode criar fantasmas que não existem. O desgaste físico e emocional pode, assim, se tornar até maior do que o do envolvimento com a tarefa propriamente dita, com o enfrentamento com a realidade nua e crua.

A pré-ocupação se manifesta, principalmente, na expressão facial. O pensamento se fecha e provoca tensão nos músculos do rosto. O cenho se enruga na testa e entre as sobrancelhas, formando profundas rugas. O olhar perde seu brilho. O sangue chega em menor quantidade à flor da pele e esta aparece com maior palidez. O fato é que o corpo por inteiro participa das pré-ocupações, solidarizando-se com essa tendência do indivíduo de deixar-se envolver com aquilo que ainda não pode estar realizando ou lhe acontece efetivamente.

A pré-ocupação se origina da necessidade de ter controle. A sensação básica de insegurança pode também ser responsável pela emergência de uma pré-ocupação incontrolável e exagerada. De igual forma, a presença de uma exigência neurótica de se manter imune a qualquer descontrole da situação, como se pudesse ter um poder semelhante ao de um deus onipotente, faz com que se desenvolva a permanência de tensões geradoras de pré-ocupações, não permitindo que sua alma descanse nem por um instante.

Do mental/emocional, a pré-ocupação tende a se materializar em alguns tipos de atitudes maníacas, tais como a de ler e reler bulas de remédios, de maquinar e concretizar idéias que possam construir atalhos e permitam a chegada mais rápida às coisas e aos lugares que se encontram mais distantes, quer no tempo como no espaço.

Para que uma pré-ocupação possa ser sinônimo de responsabilidade é preciso que seja razoável, proporcionando à pessoa mais vantagens do que prejuízos à sua vida, de forma que ela ainda se mantenha com relativa qualidade.

Por José Morelli