terça-feira, 28 de outubro de 2014

Exorcizar

Nosso vocabulário também inclui essa palavra, utilizada para expressar a ideia de expulsar o mal. O papel das palavras é o de permitir a comunicação das ideias entre as pessoas.  Semântica é o estudo dos significados das palavras. Nas diversas línguas ou idiomas, as palavras foram sendo formadas pouco a pouco, a partir de contribuições de outras línguas inclusive. O importante era que elas pudessem representar coisas, pessoas, ações, qualidades, orientações, quantidades. Por conta dessa última característica, as palavras, em todos os idiomas, possuem os meios próprios de expressar o mais e o menos, o grande e o pequeno. Em português o grande é expresso pela terminação “ão” e o pequeno pela terminação “inho”. A semântica, portanto, de certa forma, não deixa de ser também matemática, exprimindo quantidades. De igual forma, ela é capaz de expressar a localização geográfica, indicando o para dentro “ingerir” e o para fora “evacuar”, mediante utilização dos prefixos “in” e “e” (provindos do latim).   

No sentido de fazerem as cabeças dos eleitores principalmente, as candidaturas procuraram se enaltecerem em suas qualidades, ao mesmo tempo em que procuraram desqualificar seus antagonistas. Quanto mais pudessem brilhar como salvadores da pátria, os adversários deveriam obscurecer nas trevas em que se encontrariam os piores caminhos futuros a serem seguidos pelo país. A manipulação das mentes se deu em alta escala. A pobreza desse tipo de argumento foi semeada como um vírus mortal. Muitos se deixaram contaminar por esse vírus, partindo para a ignorância e perdendo todo senso, até mesmo o do ridículo. Inventaram mil histórias fantásticas e sem o menor sentido.

A campanha terminou e já nos encontramos em outro momento de nossa história: aquele de juntarmos os cacos produzidos nos calores das paixões. “Dos filhos deste solo és mãe gentil”. Nossa pátria é e deve ser mãe para todos nós. Depois de tantas disseminações de discórdias é fundamental que voltemos à concórdia, à união, ao diálogo. Endeusar-se e demonizar o outro não retrata a realidade humana. O bem e o mal permeiam a todos sem exceção. Ninguém só acerta e ninguém só erra. As direções é que precisam ser bem avaliadas. Os desequilíbrios levam a unilateralidades.

Voltando à palavra exorcizar, é chegado o momento de voltarmos ao nosso senso de objetividade. Situação e oposição devem se completar em seus papéis. Ambos precisam de legitimidade em suas ações. Blindagens contra malfeitos não valem nem para uns nem para outros. Precisamos todos aprender com o processo democrático. Ninguém nos prometeu que esse aprendizado seria fácil. Não podemos nem devemos abdicar de nossas prerrogativas de que todos somos iguais e detentores dos mesmos direitos e obrigações: pobres ou ricos, brancos ou pretos, homens ou mulheres, nordestinos ou sulistas, crianças, jovens, adultos ou velhos - (todos indistintamente).  

terça-feira, 19 de agosto de 2014

"Remédio vivo"

Carência de vida, de felicidade, de resposta... só se cura com vida, com “remédio vivo”. Remédio-resposta, remédio anseio, remédio-ponte (passagem/mediação), remédio encontro. Remédio-gente, para superação e cura de carências de vida humana.

Remédio - gente viva - fantasia: resposta fundamental, necessária, indispensável ao lenitivo da dor e à superação do medo de sentir dor, que paralisa a inteligência e a vontade. Remédio-emoção-plenitude. Tônico que encoraja enfrentar os riscos de viver e de conviver, de gozar e de sofrer. Indicado para se obter o reencontro com o ego (eu), com o sentido mais verdadeiro da própria realidade. Através de relações e correlações, de dimensionamentos e redimensionamentos obtém-se um aumento da auto-estima e da estima, melhor ordenada, do que existe à volta.

Com novos sentidos e perspectivas, a vida ganha merecimento, dignidade e respeito. Subjetividade e objetividade se encontram, se desencontram e se tornam a encontrar... sucessivamente.
Remédio-sorriso-indignação-esperança. Remédio-todos os altos e baixos humanos... Remédio vivo interagindo com a vida. Teste de vida. Medo de fracassar, medo de magoar. Trocas saudáveis, mutuamente justas. Vidas com nomes e endereços... personalizadas, identificadas, confiantes e confiáveis, mutuamente cumpliciadas.

Remédio vivo - eficaz, que chega onde está o mal, onde está a dor... que, antes de suavizá-la, faz com que doa ainda mais. Dor de reconhecimento, de enfrentamento, de coragem/covardia (assumida ou negada), de resolução e de solução. O ego identificado em suas capacidades e limites no aqui/agora. O psicoterapeuta como gente e remédio vivo.

Ser humano que se predispõe compartilhar sua própria vida com a vida de quem precisa de mais vida, melhor vida, num contexto original e desconhecido. Mundo a ser visto e decifrado dentro e fora. Num espaço especialmente destinado a esse objetivo, cliente e psicoterapeuta desenvolvem seus papéis, abertos às surpresas, que a vida sempre costuma esconder no que há de mais profundo em cada indivíduo.

Por José Morelli

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Férias

Embora não tivessem sido tão longas quanto desejávamos, não deixaram de nos proporcionar vivências diferenciadas das que habitualmente costumamos ter em nosso dia a dia. A rotina do interior oferece derivativos importantes, principalmente para quem vive numa megalópole como esta nossa agitada paulicéia, bastante próxima do progresso, porém distante da natureza e das lições que a vida simples é capaz de nos ensinar.

Estivemos em Minas Gerais na casa da madrinha. No galinheiro de seu quintal encontramos apenas as galinhas e não mais os dois galos que antes lá moravam. A madrinha disse que preferiu vendê-los, uma vez que o canto deles incomodava as crianças pequenas dos visinhos. Com essa falta dos dois galos, a conclusão óbvia era de que aquelas galinhas não botariam mais ovos galados e ali, naquele galinheiro, não nasceriam mais novos pintinhos.

Porém, logo percebemos que estávamos enganados. Num dos cantos do quartinho de depósito encontramos uma das galinhas, terminando de chocar seis ovos. Quatro deles já haviam se quebrado e deles nascidos dois pintinhos clarinhos e dois escurinhos.  Os outros ovos goraram, isto é, não deram pintinho nenhum.

Os ovos galados haviam sido comprados de outro galinheiro e colocados debaixo da galinha para serem chocados. A qualidade das galinhas da madrinha é de uma mistura de carijó com garnisé. São de porte médio que, mesmo quando chocas, “aperreadas” como diz a madrinha, não conseguem cobrir mais do que seis ovos. Estes precisam ficar todos debaixo da galinha para que não gorem devido à temperatura inadequada do lado de fora.

Da madrinha soubemos que o período de choco é de 21 dias. Apenas de dois em dois dias, a galinha sai do ninho e vai comer e beber junto às outras no galinheiro. Depois volta a seu posto, mantendo-se com as pernas dobradas, a fim de que possa cobrir totalmente os ovos. Se algum ovo fica fora, puxa-o para baixo das asas com o bico. Ao aproximar-nos de seu ninho, ela imediatamente dá sinais de não gostar, ameaçando-nos atacar caso cheguemos mais perto dela e de seus filhotes.


Na manhã seguinte, o sol voltou a dar o ar da graça. Os pintinhos e a galinha saíram do ninho de onde estavam e passaram a buscar o que comer quintal afora. A madrinha explicou que, enquanto os pintinhos precisarem de proteção e alimentados com uma ração especial, a galinha permanecerá separada com eles. Passados mais uns trinta dias, não haverá mais essa necessidade. Emancipados, eles passarão a conviver com os outros no galinheiro, disputando com eles a comida que lhes possa garantir a sobrevivência e o crescimento. 

Por José Morelli

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Armadura

Os músculos do corpo humano podem ser comparados a uma armadura, que reflete a personalidade de cada indivíduo. Crianças que cresceram em ambientes violentos acabam carregando a própria fisionomia com traços de medo e de agressividade. Não conseguem sorrir com espontaneidade, mantém a cara sempre fechada e de poucos amigos. O corpo todo se torna rígido, menos harmônico em seus movimentos: o olhar, a fala, os gestos se ressentem dessa rigidez. Os músculos formam uma espécie de couraça, que pode, também, ser chamada de armadura (defesa) do caráter. Cada um desenvolve sua própria armadura de acordo com suas tendências, uns são mais prontos a se defenderem através de agressões, outros desenvolvem mecanismos de fuga ou de retraimento.

Por outro lado, aqueles que se obrigam a sempre agradar aos outros, mantendo-se com um constante sorriso nos lábios, mesmo quando o correto seria manifestarem desagrado, mostram com isso que são rígidos, também. Não conseguem demonstrar os próprios sentimentos de acordo com o que exige a necessidade. Não querem desagradar aos outros, desagradando a si próprios. Mostram que não amadureceram da fase infantil. Sentem medo de romperem o vínculo afetivo com as outras pessoas como se estas fossem seus pais. Deixam-se levar por fantasias de que o desagrado é destrutivo das pessoas. Não conseguem encarar a realidade com o que esta tem de bom e de ruim, respondendo-a de maneira coerentemente adequada.


Os músculos são condicionantes físicos. Eles funcionam a partir da mente. A história de vida influencia na maneira como os músculos se comportam. A figura de um guerreiro, revestido de sua armadura da cabeça aos pés, mostra muito bem o que a musculatura rígida pode fazer com o corpo de um indivíduo. É verdade que a armadura protege. Mas, é verdade também que, além de proteger, a armadura dificulta a locomoção. Nas guerras, como as que existiam antigamente, até que se justificavam tais armaduras, com as quais os soldados revestiam o próprio corpo. Hoje, elas não encontram o menor sentido. No cotidiano hodierno da vida das pessoas, estas precisam mesmo é de muita agilidade, de muita flexibilidade, espontaneidade, rapidez nos movimentos corporais e nos pensamentos. Precisam perder o medo de lidar com a própria realidade de vida. Só assim, conseguem desenvolver suas múltiplas capacidades, encontrando formas harmoniosas de viver e de conviver, com coragem e criatividade para corresponderem aos múltiplos desafios, exigidos pelos circunstâncias que as envolve. 

Por José Morelli

Ouvir o silêncio

Sons e ruídos em excesso incomodam. Em algumas ocasiões o silêncio é recebido com alívio. Para se ouvir o silêncio é preciso entendê-lo não só como ausência de barulho. Ouvir o silêncio é reconhecê-lo naquilo que ele contém de cheio, de pleno. Em tudo e em todos sempre existe um lado silencioso. Temer ouvi-lo e enfrentá-lo é impedir-se de ver e de ver-se. 

A ansiedade de manter-se constantemente ocupado ou com os ouvidos ocupados é uma fuga de si mesmo. Proporcionar-se momentos de silêncio, aprendendo a ouvi-lo e entendendo o que ele esconde, dentro de si, é de fundamental importância, para o equilíbrio emocional e bom desenvolvimento das capacidades humanas.

Nossos ouvidos de gente possuem uma capacidade relativa para ouvir. Existem outras espécies animais cuja audição é bem mais apurada que a nossa. Mesmo assim, a poluição sonora com que convivemos, frequentemente, ultrapassa os limites de nossa capacidade de suportá-la. O excesso de ruídos sobrecarrega nosso sistema nervoso, podendo levá-lo ao estresse.

Há momentos em que o silêncio incomoda realmente. Porém, “fugir dele como o diabo da cruz”, não é uma boa idéia. Falar é bom, falar demais pode ser por medo de ouvir ou de ouvir-se. Manter o rádio ou a televisão ligada o dia inteiro, pode ser uma forma de não se permitir ouvir o silêncio.

As palavras falam e o silêncio também. Existem silêncios muito expressivos mesmo... falam alto, gritam forte nos ouvidos.  Bons entendedores são capazes de compreendê-los, em seus plenos significados. Dar provas de acolher alguém em seu silêncio é de um valor inestimável. Quem se percebe assim acolhido, sente-se mais encorajado a aceitar-se, superando seus medos.

Toda psicoterapia é feita de palavras e de silêncios. Ambos têm muito a revelar, tanto ao paciente como ao psicoterapeuta. Palavras e silêncios, interpretados e reinterpretados, têm o poder de mobilizar interiormente, constituindo-se num processo, capaz de desfazer fantasias e medos inconscientes. O tempo concorre também. Pouco a pouco, os resultados aparecem... e, com bastante consistência. O horizonte se amplia e a vida passa a oferecer mais e melhores oportunidades de realização pessoal. 

Por José Morelli

O poder da criança

Na medida em que a criança vai se desenvolvendo e descobrindo suas capacidades, vai, também, se percebendo como pode fazer uso das mesmas a seu favor, no sentido de que os outros a atendam em suas necessidades ou vontades. É importante que a criança se reconheça em si mesma, assim como é importante que ela reconheça o outro, não como extensão, prolongamento dela, mas como alguém distinto, separado dela. 

Num primeiro momento, a criança faz uso do choro para avisar a quem dela cuida, a fim de que possa atendê-la. Seus primeiros movimentos faciais e corporais ajudam-na a se expressar. Com eles, ela busca fazer-se entender, mesmo que de forma não muito clara, exigindo esforço do outro para que possa compreendê-la. Num segundo passo de seu desenvolvimento, a criança amadurece sua capacidade de comunicar-se através da fala.

É incrível observar como acontece esse processo de amadurecimento da comunicação oral/verbal da criança. A visão e a audição permitem que ela vá associando coisas e pessoas com os sons de palavras que as representem. No arquivozinho da memória vão se somando imagens visuais e sons diferenciados. Pouco a pouco, a partir da observação de como os mais velhos fazem, a criança passa a desenvolver a musculatura da boca para pronunciar vogais e sílabas.

O começo não é e não poderia ser perfeito. Quantas vezes, a criança faz os que já passaram por essa fase rirem da maneira como que ela consegue emitir sons, na tentativa legítima de se fazer entender e de pronunciar as primeiras palavras. Esse processo, pouco a pouco, vai permitindo o amadurecimento de seus mecanismos cerebrais de construção de conceitos e de emissão de sons vocais que os representem.


Associado ao poder da fala, a criança também ganha autonomia e poder, através de sua capacidade de se movimentar, exercendo seu direito de ir e vir, com o concurso de suas próprias pernas. Como lhe atrai amplos espaços, onde possa correr de um lado para o outro!... Na condição de principezinho ou de princesinha, com todo o poder que já sente que tem, ela vai passando a se considerar dona do pedaço, disputando poder com aqueles que, junto a ela, têm a tarefa de educá-la e de prepará-la para a vida, uma vez que, no futuro, o mundo não vai ser capaz de reconhecê-la, assim, tão poderosa.  

Por José Morelli

Blefar

É o mesmo que “iludir no jogo, apostando e/ou agindo como se estivesse com boas cartas na mão”. O dicionário do Aurélio apresenta, ainda, como sinônimos de blefar: “enganar, lograr” bem como o de “esconder uma situação precária”. Blefe (substantivo) é o ato ou efeito de blefar.

Mesmo que as cartas sejam exatamente aquelas que são e não outras, o jogador mais experiente, usando de malícia, pode fazer uso do recurso adicional de blefar, a fim de tirar as maiores vantagens com isso, desde que seu adversário, no jogo ou na vida, embarque em suas estratégias. Trata-se de uma questão de sagacidade, de inteligência e, sem dúvida, também de coragem para correr risco. Consolidando o engano, porém, nada mais restará ao perdedor senão lamentar por ter se deixado levar tão ingenuamente.

O jogo faz parte da vida e a vida, em si mesma, também não deixa de ser um imenso jogo. Por isso, do jogo, o verbo e seu substantivo passaram a retratar situações do dia-a-dia, com as quais todos nós seres humanos, temos a necessidade de aprender a lidar. Ao brincar com as crianças, os adultos, às vezes, fingem chorar, tentando enganá-las. As crianças aprendem logo com o que lhes ensinam os adultos, imitando-os no que estes fazem. Dois exemplos de frases, encontrados no dicionário, mostram como os adultos continuam blefando, pelo resto de suas vidas: “Não está nada bem de finanças, mas continua blefando em casa” e “Blefou a vigilância do hospital e saiu sem ter alta”.


Além do que já foi dito acima e que parece fácil de entender, é preciso acrescentar outro tipo de blefe de compreensão menos fácil, mas possível de acontecer também com relativa frequência, trata-se do blefe com sigo mesmo. Qualquer pessoa é passível de praticar esse tipo de auto-ilusão, não se dando conta de que está enganando a si mesma. Diante de certas questões em que podem existir comprometimentos graves dos próprios interesses, a consciência do indivíduo reconhece, imediatamente, apenas as razões que lhe parecem ser favoráveis, não conseguindo reconhecer aquelas que não são favoráveis ou que assim lhe parecem e que o levam a tomar decisões de forma unilateral. O indivíduo fica como que cego e surdo. Só depois, quando seu estado de ânimo se acalma é que consegue analisar, com mais objetividade, a situação em que se encontrava envolvido. Cai em si e se dá conta do tamanho de sua dificuldade em aceitar e entender a realidade, em sua maior abrangência.  

Por José Morelli

Psico-somático

O entrelaçamento entre o psíquico e o físico, entre a mente e o corpo, é um fato muitíssimas vezes constatado. Uma forma para nos aproximarmos do entendimento desse fenômeno de ação e reação entre corpo e espírito é através da analogia. A analogia é “o ponto de semelhança entre coisas diferentes”.

A ligação entre o psíquico e o físico pode ser comparada com a ação da luz do sol sobre a superfície das coisas. Segundo a física, na luz do sol, nessa claridade em que vivemos, estão todas as cores que compõem o arco-íris. Dependendo da composição química dos elementos que revestem as superfícies, a luz se reflete numa das cores, sendo as outras absorvidas. As cores que o objeto tem são aquelas que não vemos. Aquela que ele não tem é a cor que vemos.

É assim que acontece com a luz do sol. O que os olhos vêem é a cor refletida. As cores absorvida não são vistas. Os olhos têm todas as condições e sensibilidade para perceberem, fisicamente, os reflexos da luz através das cores. Da mesma forma que os olhos, o nosso corpo inteiro, em cada uma de suas partes, externas e internas, tem sensibilidade. Nesse sentido, o nosso corpo se assemelha à superfície das coisas.

A luz do sol e as cores que nela se encontram, representa o todo das situações, que cada um de nós se defronta em cada momento. Os fatos nos atingem em nosso ser inteiro. Os fatos têm, cada um, seu colorido próprio. Além das cores dominantes, existem muitos matizes. O colorido dos fatos são o que eles representam de bem e de mal, de justo e de injusto, de bonito e de feito, de recompensa e de castigo, de verdadeiro e de falso, de saudável e de doentio, de gostoso/prazeroso e de incômodo/aversivo, de atração e de repulsa, de alegria e de mágoa, de inveja, de ciúmes, etc. ...


Por sua vez, o corpo capta, absorvendo e refletindo tudo o que os fatos contêm. O coração tem sua sensibilidade para absorver e refletir do mesmo modo os rins, o fígado, as glândulas, as mãos, os pés, a cabeça e todos os órgãos e membros. Tudo é assimilado, negado ou afirmado, absorvido ou refletido.

Por José Morelli

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pré-ocupado

A ocupação é o envolvimento efetivo com aquilo que o indivíduo está realizando, enquanto que a pré-ocupação é o envolvimento mental e emocional do indivíduo naquilo em que ele ainda não está fazendo ou, como se costuma dizer, “botando a mão na massa” para fazer. A mente não tem nada de concreto em que possa se apoiar, divagando de um lado para outro. Fica solta no ar ao sabor dos mais variados ventos. As ações concretas oferecem possibilidades mais objetivas para direcionar os pensamentos. Por isso, na pré-ocupação, a fantasia de cada um pode criar fantasmas que não existem. O desgaste físico e emocional pode, assim, se tornar até maior do que o do envolvimento com a tarefa propriamente dita, com o enfrentamento com a realidade nua e crua.

A pré-ocupação se manifesta, principalmente, na expressão facial. O pensamento se fecha e provoca tensão nos músculos do rosto. O cenho se enruga na testa e entre as sobrancelhas, formando profundas rugas. O olhar perde seu brilho. O sangue chega em menor quantidade à flor da pele e esta aparece com maior palidez. O fato é que o corpo por inteiro participa das pré-ocupações, solidarizando-se com essa tendência do indivíduo de deixar-se envolver com aquilo que ainda não pode estar realizando ou lhe acontece efetivamente.

A pré-ocupação se origina da necessidade de ter controle. A sensação básica de insegurança pode também ser responsável pela emergência de uma pré-ocupação incontrolável e exagerada. De igual forma, a presença de uma exigência neurótica de se manter imune a qualquer descontrole da situação, como se pudesse ter um poder semelhante ao de um deus onipotente, faz com que se desenvolva a permanência de tensões geradoras de pré-ocupações, não permitindo que sua alma descanse nem por um instante.

Do mental/emocional, a pré-ocupação tende a se materializar em alguns tipos de atitudes maníacas, tais como a de ler e reler bulas de remédios, de maquinar e concretizar idéias que possam construir atalhos e permitam a chegada mais rápida às coisas e aos lugares que se encontram mais distantes, quer no tempo como no espaço.

Para que uma pré-ocupação possa ser sinônimo de responsabilidade é preciso que seja razoável, proporcionando à pessoa mais vantagens do que prejuízos à sua vida, de forma que ela ainda se mantenha com relativa qualidade.

Por José Morelli

terça-feira, 20 de maio de 2014

Contos infantis

A literatura mundial e também nacional é rica em contos, voltados, especialmente, às crianças desde os seus primeiros anos de vida. Escritores e poetas, utilizando-se de sua imaginação fértil, elaboraram e elaboram instigantes ficções das mais variadas formas. O objetivo é o de despertar a atenção e o interesse dos pequenos e pequenas, a fim de que ampliem suas capacidades de entendimentos das pessoas, da natureza (animal e vegetal) e do mundo, existente volta deles e delas.

A partir da magia do “faz de conta que...” a realidade da vida ganha alcances mais amplos. Os olhos e os ouvidos das crianças se abrem ao encantamento de um mundo pleno de possibilidades de atender aos anseios de quem ainda tem uma vida inteira a ser vivida. A fantasia se ativa, levando-as a experimentarem novas emoções.  Em grande parte desses contos, o bem e o mal se digladiam em disputas dramáticas que só terminam quando a estória também termina: ...“o príncipe e a princesa se casaram, tiveram muitos filhos e foram felizes para sempre”.   

Não faz muito tempo, a única opção era a de ler os contos infantis nos próprios livros. Hoje, o leque de possibilidades se abriu muito. Contadores de histórias, apresentações de teatro, filmes, revistas em quadrinhos, tabletes e outros meios permitem a liberdade de escolha. Com alguma boa vontade e esforço, também podemos nos transformar em contadores de histórias, lendo-as às crianças, diretamente dos livros, ou recontando-as à nossa maneira e com as nossas próprias palavras.

Os mais conhecidos contos infantis se tornam referência no universo mental das crianças e dos adultos, servindo como material a ser utilizado em nossas comunicações mútuas. A familiaridade com tantas estórias ajuda à fixação de idéias e à interação entre essas mesmas idéias, num processo de aproximações e de distanciamentos que, pouco a pouco, permite ao leitor passar de um extremo a outro nos pensamentos e nas emoções e sentimentos.


O simples fato de a criança se predispor a ler ou escutar estórias já se constitui como um elemento importante para sua formação e transformação. Gradativamete, as idéias expressas com simplicidade vão se unindo umas às outras, dando-lhes a possibilidade de passarem a dimensionar um todo completo com suas diversas partes, encaixando-se como começo, meio ou fim. 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Dar e receber

O equilíbrio entre essas duas formas de agir é um indício do respeito e consideração que nos damos e que damos aos outros. Se desejamos crescer humanamente, é importante percebermos nossa maneira de agir e de sentir e o quanto essa maneira nos faz bem ou mal, nos constrói ou nos destrói em nosso ser total e ao ser dos outros, edificando-os como gente.
Ao constatarmos que estamos fazendo mal a nós mesmos ou aos outros, pelo que vai de nós ou pelo que vem a nós, o que devemos fazer? –   Se, embora façamos esforços, não conseguimos resultados satisfatórios em nossos empenhos é preciso que busquemos conhecer-nos de maneira ainda mais profunda. Só assim poderemos desvendar alguns de nossos segredos escondidos, que expliquem as barreiras que nos impedem de ampliar-nos em nossas capacidades.
A educação e a deformação que recebemos, a história de vida que tivemos, nossas experiências passadas, podem ter sido responsáveis por não termos desenvolvido quer a atitude espontânea de dar, quer a atitude de receber com naturalidade. Vasculhar esse imenso baú do passado pode ajudar-nos a encontrar um maior equilíbrio. Talvez, alguns condicionantes tenham se instalado em nosso ser inteiro, sequestrando-o de certa forma. Quebrar esses condicionamentos não é tarefa tão fácil de realizar. Passar da atitude infantil, de apenas receber, para a atitude adulta de, também, ser capaz de dar com gratuidade pode exigir força de vontade e determinação de nossa parte.
As trocas recíprocas devem servir ao crescimento de nosso ser pessoal. Devem ajudar-nos a sermos felizes com aqueles com quem interagimos e convivemos. Quanto melhor aprendermos a lidar conosco mesmos, ao darmos e ao recebermos, pelo que pensamos e sentimos, maior satisfação e motivação encontraremos em nossas vivências do dia a dia.
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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Gênero

É menino ou menina?... Esta é uma das primeiras curiosidades, ao se ter notícia de algum novo nascimento. Os seres humanos se distinguem entre gêneros masculino e feminino. No discurso, muitos reconhecem a igualdade de direitos entre homens e mulheres; na ação, porém, esse reconhecimento não aparece com a mesma frequência e intensidade.

Questões de gênero” são problemas, gerados pelas desigualdades de direitos entre os sexos. Pessoas são discriminadas exatamente por serem ou do sexo masculino ou do sexo feminino. Em nosso ambiente cultural, as discriminações que mais aparecem são as relativas ao sexo feminino. Pode acontecer de uma mesma pessoa sofrer várias discriminações: por ser mulher, negra, pobre, analfabeta e portadora de alguma deficiência física. As questões de gênero dizem respeito apenas às discriminações por causa da condição sexual.

Embora, nos últimos anos, as mulheres tenham conquistado muitos direitos, que antes não tinham; ainda hoje, em algumas culturas mais e em outras menos, desigualdades e injustiças são praticadas contra mulheres, exatamente pelo fato de pertencerem ao sexo feminino.

Ao nascermos, encontramos o mundo aparentemente organizado e pronto. Dele recebemos a noção de certo e de errado. Na medida em que desenvolvemos um espírito crítico, vamos percebendo como certos preceitos e normas não resistem a uma visão mais aprofundada e coerente. Da consciência e do esforço de todos é que nascem formas mais justas de tratamento entre as pessoas. Não é preciso grande esforço para constatar que, no campo profissional, os postos que envolvem mais poder, raramente são ocupados por mulheres. Nesses postos, a mulher, se está presente, ainda é exceção e não regra.

É comum, também, observar que, no trabalho, em funções da mesma importância, mulheres ganham menos do que homens. Apurando melhor o olhar e a audição, sem paranóias, podemos perceber ainda muitas outras discriminações com relação à mulher, nos meios religiosos, nas famílias e nos relacionamentos sociais em geral.

As discriminações não vêm apenas da parte dos homens. Mulheres as praticam umas com as outras. A educação que grande parte das mães dá a filhos e filhas, naturalmente, reproduzem modelos machistas. Precisamos de muita atenção e espírito crítico para evitarmos retrocessos nessa evolução, tão necessária para o avanço da justiça e da paz no mundo.

Por José Morelli

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Eutrapelia

Sempre que fazemos uso de uma palavra ou frase, que expresse o que intencionamos e seja mais capaz do que outra de suavizar o sentido do que dizemos, não ferindo os ouvidos de quem ouve, estamos nos utilizando de um eufemismo.

É comum as crianças pequenas usarem as palavras sem se preocuparem se estão ou não diante de alguma visita menos íntima. Nessas horas, pais e mães se enrubescem de vergonha e procuram um jeito de corrigi-las ensinando-lhes outras palavras mais aceitas socialmente e que significam a mesma coisa, assim como: “pum”, “pipi”, “bumbum”, “xoxota”, etc. Essas palavras são eufemismos muito utilizados junto às crianças e que se adequam a uma linguagem infantil, menos agressiva, mais educada e aceita por todos.

Por outro lado, nos momentos em que queremos extravasar nossa indignação e raiva, fazemos questão de dispensar os eufemismos. Eles não são nada adequados nesses momentos. Os palavrões precisam de expressões e frases de sentidos fortes, que choquem os ouvidos e o espírito de quem os escuta, que agridam as pessoas a quem queremos ofender, 
bem como àqueles que fazem parte de suas gerações passadas: pai, mãe, avô, avó,... 

Os meninos, na medida em que crescem, vão sendo iniciados no uso de palavrões. As torcidas de futebol acham bonito tratar os adversários com desprezo e agressividade. O espírito competitivo leva a buscarem auto afirmação, utilizando-se de uma infinidade de modos ofensivos de agredirem, principalmente, juízes, time e torcedores adversários. Com isso, os meninos experimentam a sensação de botarem para fora seus instintos agressivos, de forma catártica, sem se sentirem culpados.


O eufemismo é como uma embalagem mais bonita e aceitável, do que dizemos ou escrevemos. Uma roupagem que permite a entrada de certos conceitos em ambientes mais sensíveis ou exigentes. No cinema, imagens são utilizadas como eufemismos: a morte é representada por um vento que faz esvoaçar as cortinas da janela, um pássaro voando ou um balão de gás que se desprende e sobe para o céu; a paixão ou o envolvimento sexual costumam ser representados pela chama de uma vela acesa ou pelo fogo crepitante de uma lareira. 

Eufemismo

Sempre que fazemos uso de uma palavra ou frase, que expresse o que intencionamos e seja mais capaz do que outra de suavizar o sentido do que dizemos, não ferindo os ouvidos de quem ouve, estamos nos utilizando de um eufemismo.

É comum as crianças pequenas usarem as palavras sem se preocuparem se estão ou não diante de alguma visita menos íntima. Nessas horas, pais e mães se enrubescem de vergonha e procuram um jeito de corrigi-las ensinando-lhes outras palavras mais aceitas socialmente e que significam a mesma coisa, assim como: “pum”, “pipi”, “bumbum”, “xoxota”, etc. Essas palavras são eufemismos muito utilizados junto às crianças e que se adequam a uma linguagem infantil, menos agressiva, mais educada e aceita por todos.

Por outro lado, nos momentos em que queremos extravasar nossa indignação e raiva, fazemos questão de dispensar os eufemismos. Eles não são nada adequados nesses momentos. Os palavrões precisam de expressões e frases de sentidos fortes, que choquem os ouvidos e o espírito de quem os escuta, que agridam as pessoas a quem queremos ofender, bem como àqueles que fazem parte de suas gerações passadas: pai, mãe, avô, avó,... 

Os meninos, na medida em que crescem, vão sendo iniciados no uso de palavrões. As torcidas de futebol acham bonito tratar os adversários com desprezo e agressividade. O espírito competitivo leva a buscarem auto afirmação, utilizando-se de uma infinidade de modos ofensivos de agredirem, principalmente, juízes, time e torcedores adversários. Com isso, os meninos experimentam a sensação de botarem para fora seus instintos agressivos, de forma catártica, sem se sentirem culpados.


O eufemismo é como uma embalagem mais bonita e aceitável, do que dizemos ou escrevemos. Uma roupagem que permite a entrada de certos conceitos em ambientes mais sensíveis ou exigentes. No cinema, imagens são utilizadas como eufemismos: a morte é representada por um vento que faz esvoaçar as cortinas da janela, um pássaro voando ou um balão de gás que se desprende e sobe para o céu; a paixão ou o envolvimento sexual costumam ser representados pela chama de uma vela acesa ou pelo fogo crepitante de uma lareira. 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Gol


No futebol, gol é bola passar a linha das traves em direção ao fundo da rede. Um gol pode ser justa ou injustamente validado ou anulado pelo juiz. A diferença de um único gol pode dar a vitória a um jogo ou mesmo a um campeonato. Por ele consagra-se o vencedor. E essa consagração pode durar alguns dias, alguns meses, um ano, quatro anos, como no caso das Copas do Mundo. A vitória legítima atesta o valor do jogador e do time, faz reconhecida sua superioridade seja ela por capacidade comprovada, esperteza, organização, sentido de equipe, garra ou simplesmente mera sorte. O gol massageia, reforça o “eu” de quem o marca, de quem dá o passe, de todo um time e de sua torcida. Existe gol de bola em movimento, de falta, de pênalti, de impedimento. Triste é perder gol-feito. Mais triste, ainda, é marcar gol-contra.

Na vida, como no futebol, podemos marcar poucos ou muitos gols. Isto é: realizarmos nossos intentos, mostrando-nos no que somos e no que temos capacidade de conquistar. Podemos, também, colaborar com os outros ao realizarem seus desejos. Nossos gols podem ser sentidos como vitória por e para outros, assim como podem, os gols de outros, serem sentidos como vitória por e para nós.

Na vida, os campos em que marcamos gols podem ser muitos: o campo profissional, familiar, social, político e outros. Nossos desejos realizados podem ser considerados gols de placa, inteiramente merecedores de serem comemorados. Pode acontecer de conquistarmos nossos desejos em posição de impedimento, o que nos deveria fazer sentir menos satisfação. A oportunidade de marcarmos gols pode vir por falha dos outros ou em decorrência de um castigo imposto aos outros por conta de alguma regra infringida. Dependerá de nós sabermos aproveitar ou não a oportunidade.


Acontece, às vezes, de perdermos chances incríveis de marcarmos gols-feitos. Tendo vencido o goleiro e estando na cara do gol, desperdiçamos a oportunidade chutando a bola pela linha de fundo. Acidentalmente ou por alguma razão que não encontramos explicação, pode acontecer de marcarmos até mesmo gol-contra. Isso acontece quando agimos de forma contrária àquilo que nos propúnhamos realizar, afastando-nos de nosso objetivo. Facilitamos que outros cheguem antes de nós ao que almejávamos. Com isso, não nos resta outro sabor senão aquele amargo da insatisfação.

Por José Morelli

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Manifestar as emoções

As emoções podem ser manifestadas, contidas ou reprimidas. É próprio das emoções manifestarem-se através de reações corporais. O rubor facial pode denunciar a presença de um medo, de uma vergonha, de um entabulamento, de uma raiva, de uma alegria,...
Razão e emoção nem sempre se harmonizam entre si. Ocorre, às vezes, de o aparecimento de uma  emoção conflitar com o que dita a razão. Esta a entende como inconveniente, inapropriada, inadequada ao lugar ou ao momento. Um exemplo, é o preconceito de que homem que é homem não chora. Quem já não ouviu ser dito a um menino, que está chorando: “Não chore, você não é homem?...”

Pode-se considerar dois tipos de emoções: aquelas que traduzem força e aquelas que traduzem fraqueza. A sociedade costuma reprimir as emoções, principalmente, quando manifestadas com muita intensidade. Uma demonstração de ódio, de agressividade, de tristeza ou de desespero intenso pode ameaçar a estabilidade ou tranquilidade/conforto do ambiente, fazendo-o temer que a situação se torne impossível de ser controlada.

É também tarefa da educação condicionar os educandos para que se controlem, frente aos seus impulsos emotivos. Os excessos, por parte de pais e de educadores, ao reprimirem crianças e adolescentes, para que se contenham, podem provocar-lhes distorções em seu desenvolvimento, impedindo de que aprendam a lidar com suas emoções, de forma mais equilibrada e sadia.

Uma repressão excessiva e indiscriminada das emoções pode levar as crianças a se tornarem inseguras, dificultando-lhes de que consigam administrar bem suas energias internas, podendo ocasionar-lhes, também, comprometimentos de sua saúde física, mental e emocional.


Razão e emoção não precisam, necessariamente, ser entendidas como em constante conflito uma com a outra, não podendo se harmonizar. A boa compreensão destas duas capacidades humanas contribui para o bom equilíbrio dos indivíduos, em seus relacionamentos interpessoais e com o mundo que os cerca, tornando-os mais produtivos em suas vidas e mais felizes.

Por José Morelli 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Dor de ansiedade

A ansiedade dói?... Talvez não seja propriamente dor o que ela provoque, mas alguma coisa parecida com isso. O certo é que ela incomoda, perturba, causa uma espécie de inquietação interior e até mesmo de certo desconforto físico.  A ansiedade sequestra o pensamento e a emoção. As demandas viram manifestação de rua reclamando prioridade na atenção e no empenho de serem atendidas. A ansiedade é uma auto cobrança no desempenho próprio de, incondicionalmente, ter que ser bom, mal ou mediano, perfeito, imperfeito ou, apenas, meia boca em tudo que faz, pensa e sente.  

Aprender a conviver com a própria tendência de sentir a vida com ansiedade é a sina de quem nasce com esse defeito de fabricação. Pode ser também que essa tendência tenha sido contraída congenitamente no seio materno ou, ainda, por influências recebidas na fase de formação da personalidade, nos cinco primeiros anos de vida. A verdade é que, em toda uma vida, não é nada fácil administrar a própria ansiedade, otimizando suas vantagens e minimizando suas desvantagens.

Mesmo que não deixe de ser uma energia que pode impulsionar para frente, pela intensidade com que ela se impõe, é comum que mais atrapalhe do que ajude. Quantas vezes, ela não acaba estragando tudo na hora decisiva, aquela em que a bola só precisa de um pequeno desvio para que atravesse a linha do gol.

Ansiedade circunstancial ou situacional faz parte do processo normal de qualquer vida humana, ainda mais num mundo apressado como é o do nosso estágio atual de humanidade. Na verdade, sensações de ansiedade desse tipo pode ser sentida não como dor, mas como uma excitação capaz de roubar horas de sono ou de criar um frenesi até gostoso quando da chegada ao local onde um megashow do ídolo está prestes a começar.


Por fim, aquele tipo de ansiedade que permanece como um ruído contínuo, incapaz de dar um minuto de sossego, este sim merece atenções especiais. Para que o portador (a) desse tipo de ansiedade consiga lidar melhor consigo mesmo (a), é preciso que se reconheça em sua verdade, sem ignorar o mal que tem, desmitificando-o em seu poder; porém, reconhecendo-se também suficiente para enfrentá-lo e suplantá-lo.  

Por José Morelli

Aquilatar-se

Este verbo vem do substantivo “quilate”, palavra muito utilizada para dimensionar a quantidade de ouro, relativamente a outros elementos com os quais este é misturado, a fim de ganhar maior liga. São mais conhecidos os ouros com 24 (mais puro), 21 e 18 quilates, adequados à confecção de jóias.

O ouro é um metal relativamente raro, o que lhe garante excelente valorização no mercado de trocas comerciais. Por suas qualidades, o ouro serve a muitos fins nobres, dentre eles o de servir à cunhagem de moedas e o de, em muitos países, servir como padrão monetário. A cotação do ouro é divulgada nos noticiários diariamente.  

Aquilatar-se é o mesmo que avaliar-se ou considerar-se naquilo que se constitui como melhor: inteligência, força de vontade, sensibilidade, criatividade, dons corporais, etc. Cada personalidade possui seu ponto forte e seu ponto fraco. Da soma das diversas personalidades, a raça humana se torna capaz de equacionar a maior parte de seus desafios pessoais, sociais e ambientais. Sozinho, o indivíduo não é capaz de se resolver até mesmo no mínimo de suas necessidades básicas fundamentais.

Para poder se aquilatar ou se avaliar, sempre alguma comparação é preciso. Só mediante o estabelecimento de trocas constantes é que o ser humano se desenvolve em suas capacidades. Nenhum homem é uma ilha isolada no meio do oceano. Da mesma forma como um atleta só consegue se aprimorar competindo com outros da mesma modalidade esportiva, assim também, cada indivíduo se constrói a partir das interações que realiza com o meio em que vive e com as pessoas com que se relaciona.


O ouro, para ser depurado de suas impurezas, precisa ser aquecido em alta temperatura no cadinho (espiriteira especial que serve a esse fim). Os seres humanos, também, para se desenvolverem em suas capacidades e se aquilatarem em sua importância, precisam se submeter ao teste de fogo dos relacionamentos interpessoais no meio em que vivem.

Por José Morelli   

segunda-feira, 31 de março de 2014

Instinto Gregário

A palavra gregário vem do vocábulo latino “grex”, que significa rebanho. Instinto gregário é aquele que faz as pessoas se sentirem compelidas a estarem umas com as outras, formando grupos de influências mútuas, onde há uma liderança à qual todas seguem ou obedecem.

No mundo animal, são muitos os bichos que apresentam este instinto, de forma bastante perceptível: algumas espécies de aves; ovelhas e carneiros; cavalos selvagens; javalis e até mesmo grandes mamíferos como os elefantes; animais fracos ou fortes, capazes ou não de se defenderem sozinhos de seus naturais predadores. É provável que o instinto gregário se desenvolveu, nos animais, como uma decorrência do instinto de conservação da espécie. Juntos, estes poderiam se proteger melhor dos ataques inimigos, assegurando-se uns aos outros: alertando da presença; dispersando e confundindo o inimigo.

Nos seres humanos, também, está presente o instinto gregário, que pode se manifestar de inúmeras formas: na formação de grupos, desde os menores até aqueles que reúnem milhares, milhões de pessoas, em torno de um interesse comum; na obediência às leis; na adoção de costumes, que os tornam aceitos e bem-quistos, no meio social; na submissão hierárquica das diversas instituições e, de maneira especial, no seio da instituição família.

O instinto gregário se manifesta, ainda, na necessidade das pessoas de se verem parecidas ou identificadas - umas com as outras, em suas formas de ser, de pensar e de agir.

Do lado contrário do instinto gregário está o desejo, a necessidade, também profunda, de liberdade e de originalidade. As identificações e semelhanças proporcionam sensação de segurança. As diferenciações, por sua vez, desafiam a busca do novo, fomentam o progresso e o desenvolvimento, rompem os limites do desconhecido, ampliando os horizontes das possibilidades humanas, em todos os sentidos e direções. Gregarismo e liberdade são tendências opostas, que incitam ao controle de uma através da outra. Encontramo-nos entre essas duas tendências. Precisamos estabelecer uma maneira equilibrada de projetar atitudes que manifestem tanto nosso ser pessoal como nosso ser total.

Por José Morelli


quarta-feira, 26 de março de 2014

Estilos literários

A literatura expressa nossa vida humana e de tudo aquilo que a envolve de múltiplas formas. Os diversos estilos literários expressam as maneiras de como a vida é, por nós percebida, sentida, interpretada, correspondida ou não correspondida. A psicologia, como ciência que estuda o comportamento humano, tem, nas definições e características próprias dos estilos literários, um meio comparativo de poder representar a vida em suas maneiras de ser e de acontecer.

Neste sentido figurativo dos estilos literários, podemos dizer que as pessoas, embora possam em suas manifestações de vida se utilizar de vários estilos, de acordo com a fase em que se encontram vivendo, da infância à velhice, apresentam como pano de fundo um estilo que é o predominante, característico de sua personalidade, marca registrada de toda uma vida.

Em sentido próprio, podemos distinguir os seguintes estilos literários: romântico, poético, dramático, épico, cômico, trágico, didático, retórico,... Nos bons trabalhos da literatura, fatos e idéias são expressos com criatividade, clareza, harmonia e beleza, por isso sensibilizam e agradam. Nos dias de hoje, os temas abordados nos livros são tão ricos de significado quanto aqueles desenvolvidos nas obras dos grandes artistas do passado.

Da mesma forma como fizeram e fazem os artistas de todos os tempos, quando identificamos e aceitamos nosso próprio estilo (de viver) e procuramos com ele enfrentar os desafios do dia a dia, dando-lhes formas de acordo com nosso modo de ser, expressando-nos através deles, sendo capazes de reconhecer-nos no que de bom e de menos bom obtemos como resultado, nossa vida ganha harmonia, tornamo-nos simpáticos, agradáveis a nós mesmos e, possivelmente, a outras pessoas também.

Portanto, a qual dentre os diversos estilos literários seu modo de ser e de agir mais se assemelha?...: o dramático?... o irônico?... o trágico?... o cômico?... a um outro qualquer?... – Você o assume?... – Curte fazer uso dele, desempenhando-o com leveza ou com força, de acordo com o que pede as circunstâncias?... – Capricha na forma de colocá-lo em prática?... Empenha-se em transformar sua vida numa obra de arte, independentemente do estilo com que a tenha vivenciado?... 

Por José Morelli

Encantos e desencantos

As palavras buscam expressar aquilo que as idéias conseguem entender dos fatos. Falar de encantos e desencantos pode trazer à lembrança a imagem de um mago com enorme turbante à cabeça, tocando sua flauta diante do cesto, do qual uma serpente com língua trêmula vai subindo lentamente. Esta parece não resistir à magia da música. A força do encantamento faz com que a víbora deixe de lado sua comodidade e se volte, como que enfeitiçada, para algo fora de si, sem atinar para o risco a que se expõe.

Encantos são objetos de nossos desejos. Eles têm o poder de nos atrair. Ficamos infelizes e inquietos enquanto não conseguimos que se concretizem. A imagem que trazemos de nós mesmos, em nossa mente, se completa quando os conquistamos. Sentimo-nos mais realizados e valorizados, com o nosso ego narcisista inflado, tanto perante aos nossos próprios olhos como também perante aos olhos dos outros.

As pessoas possuem a capacidade de se encantarem e de se desencantarem umas às outras. Os mútuos conhecimentos se dão, geralmente, a partir da forma física, da aparência externa. O que salta aos olhos em primeiro lugar é o invólucro, só depois é que vem à tona o conteúdo interno: a personalidade, com suas qualidades e defeitos. Os momentos difíceis, vivenciados no companheirismo e na solidariedade, são aqueles que conseguem provar melhor o quanto de cumplicidade duas pessoas são capazes de manterem entre si. Existem pessoas que só conseguem se encantar enquanto se mantém voltadas para a parte física do outro. Perdem o encantamento, quando se deparam com sua realidade mais profunda.

“Não sou tudo isso que você está vendo em mim... são os seus olhos que me vêem assim!” Os encantamentos podem existir naquele que traz, em si, o desejo pelo outro ou nesse outro, que corresponde como objeto desejado.

Quem idealiza muito alto e espera demais de si mesmo e do outro, corre o risco de se desencantar com a realidade humana, inerente a todo ser mortal. Tal pessoa pode, rapidamente, passar do encantamento para o desencantamento. Enquanto busca apenas a si mesma no outro, não consegue encontrar nem a si própria, nem a mais ninguém. Perde a oportunidade de se lançar na aventura de acreditar em sua própria capacidade de amar e de acreditar que é amada por outra pessoa. 

Por José Morelli

sábado, 15 de março de 2014

Natureza e Tempo

Somos a mistura de natureza e tempo.  Somos a soma dos dias que vivemos, desde aquele primeiro em que despontamos como mais novo habitante deste planeta, até este dia em que nos encontramos vivendo hoje. Somos manhã, tarde e noite: começo, meio e fim. Somos claridade, discernimento, consciência. A temporalidade além de nos ser oportunidade de existir também nos assusta com sua imprevisibilidade futura. Natureza vem de nascimento, palavra de gênero feminino. Para promover novas vidas, a natureza precisa do concurso do tempo. Tempo é palavra de gênero masculino.

Através da maternidade, a mulher apropria-se de si mesma como mãe e como filha que foi e que ainda é. Por sua projeção no filho ou filha, tem-se de volta, recupera-se como filha, redescobrindo-se. Soma estas duas vivências. Percebe-se e sente-se detentora daquele mesmo poder que, antes, via e percebia em sua mãe. A natureza é mãe permanentemente. O tempo é fluido, passageiro. Porém, é somente com sua colaboração, que a natureza se atualiza em sua função/missão de geradora de novas vidas. O tempo pode ser assemelhado ao pai. - Natureza e tempo: companheiros, contingentes,... relacionam-se incessantemente rumo a direções imprevisíveis.

A sabedoria do compartilhar da transitoriedade, da temporalidade, do termo final. O saber usufruir da vida enquanto ela é. O tempo é como uma flecha que, tendo sido disparada, tende a seguir o seu próprio curso.  Movimento é vida, transformação ininterrupta e constante. No tempo, a vida se esvai inexoravelmente. Nossa consciência busca sempre novos sentidos para tudo o que vivencia e percebe. Sentido de poder, de segurança, de superação dos limites. As diferenças, ora são percebidas e sentidas como gratificantes, ora como ameaçadoras e sofridas. Homem e mulher - pai e mãe - natureza e tempo - poder e submissão (poder-submisso e submissão-poderosa): alternâncias de ilusões.

Natureza e tempo, na sucessão: pais, filhos, netos, bisnetos, trinetos... A arte de transmitir vida. Pai e mãe unidos pelo mesmo objetivo. O cultivo da sensibilidade para consigo e para com o outro. A superação do egoísmo. O legado de cada um: a posteridade. A semente remanescente do fruto: semente-natureza, que se anula, dando oportunidade ao surgimento de nova vida. O jogo de um poder que se desdobra em identificações e contra-identificações, como imagens indefinidamente refletidas e multiplicadas em dois espelhos colocados um de frente para o outro.  

Por José Morelli

quinta-feira, 6 de março de 2014

Historicidade

De que toda e qualquer pessoa tem sua própria história, isto é um fato, independentemente de sua vida e seus feitos serem ou não registrados por escrito ou constarem em documentos. O peso, o valor de cada pessoa é real e é inevitável que algum sinal de sua passagem permaneça. Pelo sim ou pelo não, a trajetória de cada pessoa no curso de sua vida, não deixa de provocar influências nas vidas de outras pessoas, bem como no conjunto da sociedade.

A historicidade não é só a história de cada um, mas também a soma das histórias de todos. A certidão de nascimento pode servir como símbolo do momento em que começa a história de cada indivíduo. Aqueles desenhos e traços deixados pelos antigos habitantes das cavernas (pinturas rupestres) são sinais de pessoas que, sem nenhuma intenção, deixaram documentados momentos em que a humanidade dava seus primeiros passos de manifestações culturais e de historicidade.

Hoje, os sinais se multiplicam. As histórias de cada um de nós, além de serem guardadas na memória de todos os que podem nos observar, de perto ou de longe, são também captadas por inúmeros instrumentos, que esta nossa sociedade moderna criou e os utiliza a fim de que, com eles, concretize alguns de seus objetivos. Não estamos assim tão livres e soltos no ar como poderíamos imaginar. A história nos prende uns aos outros. Ter uma noção deste elo, situar-se e entender-se nesse contexto mesmo que de forma limitada é, sem dúvida, uma expressão de nossa verdade. Precisamos ter essa consciência. É um mínimo indispensável para que não fiquemos à margem de nossa própria realidade, da realidade das outras pessoas e do meio em que estamos vivendo.

E se acreditamos que nossa vida, bem como a de toda humanidade, tem objetivos, essa consciência da própria historicidade é ainda mais necessária, para que nossas contribuições pessoais se orientem no sentido, que julgamos serem mais coerentes com esses objetivos.

Somos seres históricos. Nossa história pessoal se entrelaça com a história de nosso grupo e com a de todos os nossos contemporâneos. Nossos pensamentos e convicções podem encontrar ressonância e ecoar pelo mundo, permitindo-nos influenciar, com nossa pequena parcela de contribuição, nos rumos dos acontecimentos.

Por José Morelli

domingo, 2 de março de 2014

Placebo

Quando uma vaca morre de parto ou antes do desmame do bezerro, o seu couro é colocado junto a este, para que não se recuse a mamar, pela falta que sente da mãe. Em alguns lugares, este couro da vaca é chamado de placebo.  O dicionário do Silveira Bueno diz que placebo é a “preparação desprovida de efeito farmacológico, que se dá em lugar do medicamento, para estudo da ação terapêutica psicológica ou real deste por dissociação”.

Nestes últimos dias, com o problema da falsificação de remédios, a televisão trouxe justificativas de um laboratório, que falava de remédios “falsos” (placebo), roubados ou desviados, que haviam sido fabricados para testes. Ouvi dizer, também, que algumas pessoas que tomaram “Viagra-placebo”, (feito para teste), obtiveram bom resultado. Nestes casos, a ação terapêutica ocorreu por razões psicológicas e essas pessoas não precisariam do remédio para conseguirem ereção.

O Brasil é considerado o país que mais consome remédios no mundo. Talvez, por isso, é que, aqui, o crime de falsificação  de  medicamentos seja um “prato-cheio”, para tantos inescrupulosos. Quando o médico deixa de prescrever algum remédio para seu paciente, é comum que esse paciente estranhe e sinta falta de não levar, pela consulta, nenhuma receita para casa. Há pessoas que são viciadas em remédios. E neste, como em outros casos, qualquer exagero, por excesso ou por falta, pode ser prejudicial às pessoas.

A recomendação de não se tomar remédios por conta própria, mas somente com a indicação do médico é muito válida, principalmente, num contexto como o nosso. Todos sabem, porém, que nem sempre é possível consultar o médico. Por isso, vale chamar a atenção das pessoas, para que sejam criteriosas ao se medicarem, não se esquecendo de que o organismo possui mecanismos próprios de superar a dor e de se ajustar, frente a algumas disfunções leves. Nestes casos, é bom dar uma chance ao corpo para que ele se reorganize e se recomponha por si, sem a interferência de medicamentos.

O psicólogo não receita remédios em suas consultas. A natureza do trabalho do psicólogo clínico exige que ele se volte para as pessoas, valorizando todas as potencialidades da vida destas, as ordens e as desordens que ajudam e que atrapalham, na administração do próprio existir, num mundo assim tão complexo como é este nosso.


Por José Morelli

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Discurso, ação e atuação

Discurso é comunicação. Como tal, supõe a presença de um transmissor, de um receptor de uma mensagem e de um código que, neste caso, pode ser o idioma falado ou escrito. Existem pessoas que têm grande facilidade de se expressar verbalmente ou por escrito. Falam ou escrevem coisas interessantes e profundas, de forma fluente e agradável. Produzem belos e inteligentes discursos.

Ação é, também, comunicação. Através daquilo que se faz, de uma atitude tomada, alguma verdade íntima se manifesta e se transmite. A mensagem, transmitida pela ação de uma pessoa, é reveladora de aspectos importantes de sua realidade. “As palavras movem, os exemplos arrastam”, diz o provérbio. Por isso, a mensagem expressa, por meio de uma ação, pode e deve ser levada mais à sério.

E a atuação? - Por atuação, em psicologia, entende-se aquela comunicação, por palavras ou atitudes, cuja mensagem visa esconder, falsear as verdadeiras intenções do transmissor. A atuação é uma representação, um teatro. Nem sempre a pessoa que atua é consciente de que assim o faz, com intenção de enganar. Um sorriso pode esconder uma dor, assim como uma expressão de dor pode esconder alguma satisfação secreta, que não se deseja revelar.  Quem assim o faz, consciente ou inconscientemente, se antecipa nas suas intenções, instrumentalizando suas atitudes, em função de algum interesse pessoal.

Os três conceitos, acima descritos, fazem parte do cotidiano das pessoas. Discurso, ação e atuação acontecem constantemente. Um discurso pode ser confirmado como verdadeiro, pela coerência das atitudes com as palavras de quem as profere. Por outro lado, a beleza de um discurso se desfaz, se as palavras são negadas pelas ações contraditórias de quem as transmite.

Dentro do âmbito da normalidade, existe lugar para o discurso, mesmo  acompanhado de alguma inautenticidade, para a ação, com certa incoerência e para a atuação. Estes conceitos não podem ser considerados de maneira muito rígida. É preciso que cada um deles possa ter um entendimento relativamente largo, capaz de permitir às pessoas, que se respeitem em suas privacidades, mostrando-se apenas àqueles em quem confiam.

Discrepâncias mais graves, já denunciam a presença de distúrbios mentais ou emocionais. Estes casos comprometem o bem viver da pessoa, vítima desse mal e dos outros que a cercam, exigindo que se busque alguma solução para estes problemas. 

Por José Morelli

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Maniqueismo

De acordo com dados históricos, maniqueísmo é a doutrina ensinada por Mani, no século III, na Pérsia, segundo a qual o Universo é a criação de dois princípios que se combatem: o bem ou Deus e o mal ou o demônio.
Embora a ideia maniqueísta remonte há tanto tempo, a tendência de julgar a realidade assim, de uma  forma tão simplificada (reducionista), que rotula superficialmente tudo, dentro de características extremas e contrárias é muito frequente, ainda nos dias de hoje.

A bondade e a maldade são vistas e consideradas como inatas: alguns teriam nascido do bem e para o bem, enquanto outros teriam nascido do mal e para o mal. Este tipo de pensamento, evidentemente, nega o princípio do livre-arbítrio e de possíveis mudanças nas trajetórias das vidas, influenciadas pela vontade livre dos indivíduos e pela força dos exemplos de uns sobre outros.

Nas histórias infantis, novelas e filmes, romances e aventuras, bem como nos jogos eletrônicos o que dá sabor e emoção a esses entretenimentos é, exatamente, a presença desses dois princípios, em lutas infindas, representados pelas mais variadas formas.

O medo e a insegurança dificultam o discernimento mais acurado e justo dos fatos e das pessoas. A situação de violência urbana, que ocupa a maior parte dos noticiários, atualmente, contagia as pessoas com uma sensação de impotência, levando-as a julgamentos impulsivos, nos quais a violência deveria ser combatida de uma forma irredutível, mesmo que mediante uso de outra violência. Enquanto a primeira é vista e interpretada como fruto da iniquidade herdada ou congênita, a segunda é entendida como defensora dos bons e do sumo bem. 

Dentro dessas perspectivas, alguns pensam que o extermínio sumário dos malfeitores serviria ao saneamento e à purificação da sociedade, levando-a a uma definitiva solução de todos os problemas: a utopia de um céu aqui na terra. 

Por José Morelli

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Hipocondria

Quem tem mania de pensar que se encontra constantemente doente é chamado de hipocondríaco. Hipocondria é o mesmo que mania de doença; tristeza; melancolia profunda; retraimento; isolamento social - (Dicionário do Silveira Bueno). O Brasil é um dos países que mais consome remédios no mundo. Desses remédios, grande parte é vendida sem prescrição médica. A hipocondria é responsável pelo consumo de muitos medicamentos.

Uma hipocondria se configura, quando os exames clínicos e laboratoriais não identificam nenhum problema orgânico nem funcional, que justifique as queixas apresentadas pelo cliente/paciente. Nestes casos, os médicos costumam receitar um calmante, com o objetivo de ajudá-lo física e psicologicamente. A alteração química, provocada pelo calmante, faz melhorar o seu estado geral, levando-o a tranquilizar-se, diminuindo-lhe a sensação de ansiedade.

Não é fácil uma pessoa reconhecer-se como hipocondríaca. O mais comum é que ela fique constantemente indo de especialista a especialista, de laboratório a laboratório, no intuito de descobrir qual é sua doença ou doenças. Identificar-se como hipocondríaco, reconhecendo-se com essa tendência de se pensar doente, é o que seria o correto. Uma dificuldade como qualquer outra e que precisa ser enfrentada com objetividade. Uma psicoterapia pode ajudar muito o hipocondríaco para que ele aprenda a lidar melhor com sua tendência de fabricar doenças, proporcionando-lhe condições de aumentar sua autoconfiança, no corpo e na mente.

Conseguir bons resultados, prescindindo de medicamentos, nem sempre é possível, num primeiro momento. Os atendimentos visam considerar o paciente em sua individualidade e em sua originalidade. É importante que aprenda a valorizar suas vitórias, pequenas ou grandes, reforçando-se no sentido positivo de crença em suas capacidades.

A hipocondria não deixa de ser uma doença. O fato de suas causas não poderem ser constatadas de maneira concreta e visível, não significa que não existam meios apropriados de tratá-las, permitindo que o cliente/paciente se descubra em sua coragem e em seu merecimento de ser e de viver com saúde e felicidade.

Por José Morelli