segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

“Saborear”

Só existe um momento em que se pode saborear o que se come: aquele em que o alimento se encontra ainda na boca e é mastigado e dissolvido em meio à saliva A galinha, o camelo e outros animais possuem um papo, no qual as porções engolidas ficam armazenadas e à espera da hora certa para retornarem à boca e, aí sim, serem trituradas dando início ao processo de assimilação ou digestão. Quem, como nós humanos, não possui esse recurso do papo e costuma engolir a comida por inteiro, perde a única oportunidade de senti-la devidamente em seus múltiplos sabores.

A palavra “saborear” também é usada em sentido figurado, podendo ser aplicada a situações as mais diversas, que não se referem propriamente ao sentido do paladar, mas a outras percepções, algumas agradáveis outras desagradáveis.

O café da manhã, tomado com tranquilidade, pode ser um momento especial para se premiar pela disposição de ter se levantado cedo da cama e de estar se preparando para mais um dia de trabalho. Tomá-lo em silêncio e ouvindo apenas o cantar dos pássaros do outro lado das janelas não deixa de ser uma associação de “sabores”. Escolher músicas do próprio gosto para ouvir nas horas de refeição ajuda na valorização desse momento tão importante para a saúde. Porém, como cada um é dono de si e faz da própria vida o que preferir, ninguém é proibido de associar à comida a atenção dos olhos e dos ouvidos nos noticiários - choques de realidade - veiculados pela televisão. Estes têm seus sabores que se misturam aos dos alimentos e, depois, precisam bem ou mal ser digeridos.

A vida como um todo pode ou não ser saboreada. É voz comum que o tempo “voa”. Parece que foi ontem que começou 2013 e o dia de amanhã já será o último que antecede a virada para 2014. Participar dos acontecimentos históricos, desse jeito, parece não ser prá valer. Parece mesmo uma brincadeira de faz de conta. A pressão exercida pela rotina de antemão estabelecida, com um evento se seguindo ao outro, rouba do cidadão a sensação de liberdade e de autonomia de se perceber e de poder escolher o que e como viver a própria vida.

Quem sabe o aprendizado de saborear melhor os alimentos não ajude a todos e a cada de nós a usufruir mais e melhor dos próprios momentos de vida!

Por José Morelli

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Sinergia

Esta palavra, derivada da junção de dois vocábulos gregos: syn que significa cooperação e érgon que significa trabalho é, de acordo com uma definição encontrada no Google, “o efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função”. Trabalho/esforço são ações que demandam energia. A palavra sinergia é mais propriamente aplicada na química. Quando dois químicos atuam em conjunto numa organização, o efeito que eles conseguem como resultado é superior à soma das contribuições de cada um deles, considerados em suas capacidades individuais: “o todo supera a soma das partes”. A presença de mais um potencializa o efeito produzido pela união dos dois profissionais técnicos.

Com base no que foi dito acima, podemos fazer uso da palavra sinergia com o objetivo de explorá-la em sua capacidade de ajudar na compreensão de um outro campo do conhecimento, que é o das relações humanas, em toda sua abrangência. Não é fora de sentido entender que a mente (consciência) passa constantemente sua energia para o corpo e que o corpo passa sua energia para a mente (consciência). 

Quando ambos se voltam para um mesmo fim, de forma inteira, isto é, sem restrições nem bloqueios, o efeito que conseguem pode ser considerado sinérgico. Um gesto, uma palavra tem força mobilizadora: energia cuja tendência é a de se expandir sobre o outro em sua integralidade. Gesto e palavra. A intensidade com que são produzidos depende do envolvimento de quem gesticula ou fala com o sentido da mensagem que deseja expressar. 

Lugares também não deixam de ter sua própria energia e de transmiti-la e mesmo trocá-la com aqueles que neles se encontram. Uma visita à capela de São Miguel Paulista, num momento em que nela acontecia uma exposição de obras de autores modernistas, pode se constituir como uma oportunidade de troca sinérgica entre aquele importante patrimônio e o visitante que se predispunha a “viajar” em sua peculiar história. A imensa paineira próxima à capela e que com ela tem convivido tantos anos também trazia em si, potencialmente, a capacidade de promover sinergia com aqueles que a viam com os olhos ou a tocavam com as mãos.

O próprio existir de um ser humano e seu funcionamento se constituem como energia atuante. Nada existe sem essa força vital, esse princípio de organização e de funcionamento. O beijo entre dois namorados que se deixam atrair irresistivelmente é denso de sinergia, ultrapassando-se em seus efeitos. O envolvimento sexual de pessoas que se entregam sem restrições é, dentre todos os envolvimentos, o que tem maior poder sinérgico, potencialmente capaz de procriar a espécie humana.

Por José Morelli

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Unidade na diversidade

Nem sempre os caminhos aparentemente mais fáceis são os melhores a serem seguidos. Um grupo que consegue reunir pessoas com características de personalidade e de formação diferenciadas é, potencialmente, mais capaz de conseguir melhores resultados, que atendam às necessidades e anseios da maior parte de seus membros.

No convívio familiar, aprender a conviver com as diferenças nas maneiras de pensar, de sentir e de agir, próprias de cada componente do grupo, interagindo de forma proativa e sabendo dar a oportunidade de que manifestem suas idéias e vontades, é garantia de maior satisfação e progresso pessoal e grupal.
As leis da matéria são intransigentes: dois corpos não podem, num mesmo momento, ocupar o mesmo lugar no espaço. A vida humana, no entanto, não se constitui apenas de matéria. A fixação nesta, ao mesmo tempo em que pode servir de base e suporte à ação é, também, fator de impedimento e limitação à mobilidade e a avanços em mais e melhores direções.

A sociedade humana se apresenta de forma heterogênea, isto é: as pessoas nascem e se desenvolvem com traços de personalidade bastante diferenciados entre umas e outras. As idéias de fabricação de humanos em laboratório, produzidos a partir de programas de computador, de modo a que indivíduos e grupos sejam utilizados para a execução de tarefas específicas, parece ser mais uma utopia maluca, criada faz algumas décadas por mentalidades inseguras e paranoicas.

O ensinamento de que homens e mulheres sejam dotados de livre arbítrio evidencia a coragem d’Aquele que foi e é o responsável por assim constituí-los. Para se garantirem do poder, os que o detêm no mundo se mostram intolerantes com os que se lhes apresentam como diferenciados. Sentem-se ameaçados por aqueles que não se mostram como sendo às suas imagens e semelhanças. Fazem, destes, inimigos em potencial pelo simples fato de existirem. Através da força física e das armas buscam o controle social, apostando e fomentando o medo como meio para atingir esse controle. Não acreditam no desenvolvimento da inteligência e da mente livre. Esta é vista e sentida como um risco diante do qual a humanidade não pode e não deve se expor.

A proposta de se buscar a unidade na diversidade é o caminho de mão certa para todos os grupos, desde o familiar até o das grandes potências mundiais em suas relações entre si e com as múltiplas sociedades, por mais diferenciadas que se apresentem em suas maneiras de pensar, de ser e de agir.  

Por José Morelli 

Viver

O que é viver?... A planta vive a plenitude de sua vida na capacidade do que a natureza lhe permite. Uma roseira se realiza plenamente ao produzir belas e perfumadas rosas. Da mesma forma os minerais, cada um de acordo com as características próprias com que a natureza o dotou, cumpre seus papéis no contexto de todo o mundo e de todo o universo. A pedra se realiza como pedra, a água como água, o mercúrio como mercúrio. Ao serem juntados uns com os outros, ora eles apenas se misturam, ora eles se fundem, modificando-se definitivamente, transformando-se em novas formas de natureza.

A plenitude da vida animal é alcançada pelos bichos, de acordo com a complexidade de sua formação natural. A ameba, um unicelular aparentemente simples, no qual se pode observar a fluição da energia, que caminha em toda a sua extensão. Na outra ponta, o chimpanzé, com um grau mais sofisticado de complexidade em sua formação, a ponto de possuir um cérebro quase nas mesmas proporções do que o dos seres humanos. Os bichos preenchem suas capacidades de viver seguindo seus instintos e povoando este planeta, dotando-o de uma variedade de tipos os mais belos e exóticos que a mente humana jamais poderia imaginar. Todos eles possuem uma finalidade. Formam uma cadeia que não pode e não deve ser rompida. A vida de uns depende da vida de outros. Qualquer um que seja retirado dessa cadeia prejudica ou mesmo impossibilita a vida de outros. Daí a importância de se cuidar e de se preservar a natureza, como vivem alertando os ecologistas e aqueles que possuem consciência do que é e de como funciona a natureza.

E quanto aos seres humanos? O que é viver para homens e mulheres? ... A resposta é a mesma. Que vivam a plenitude de suas vidas desenvolvendo as capacidades com que a natureza os dotou. O corpo dos seres humanos possui minerais em sua composição, de igual maneira possuem também uma flora e uma fauna. Porém, a característica distintiva da natureza humana é sua capacidade mental de refletir, de conscientizar-se de si mesma e do que existe ao seu redor. Com essa capacidade os seres humanos podem se ligar a tudo, podem ganhar a dimensão do mundo e do universo. Viver humanamente é comungar a própria vida com tudo e com todos.  

Por José Morelli

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

“Altos e baixos”

Estas qualificações foram estabelecidas a partir da experiência humana. A visão que o homem construiu do mundo se deveu à sua posição ereta e em pé e não deitado, apoiado sobre quatro patas como a maior parte dos outros animais. Sendo assim, seus olhos viam na linha do horizontal. A visão do sol, desde o momento em que este aparecia e iniciava sua trajetória, era percebida descrevendo uma linha de ascensão até atingir seu ponto máximo, passando depois a percorrer um caminho descendente, até desaparecer no poente.

O homem ereto desenvolveu suas pernas para caminhar e seus braços para manipular objetos e transformá-los, aprimorando-se assim em suas habilidades manuais. Juntamente com as aptidões corporais, desenvolviam-se os pensamentos. Altos e baixos ganharam significados de oposição e de complementação. Uns foram estabelecidos relativamente aos outros. No intermédio entre ambos, estabeleceram-se os conceitos de planos e de planícies, de estabilidade e de equilíbrio.

Pouco a pouco, foram se formando as primeiras falas ou linguagens: os grunhidos foram se diferenciando, ganhando novos significados. As circunstâncias diferenciadas em que viviam as tribos primitivas fizeram com que estas criassem palavras com sons e significados próprios. Desenhos passaram a representar coisas, criando grafias que simbolizavam bichos, plantas, objetos, movimentos e tudo aquilo que podia ser visto com os olhos, apalpado com as mãos, ouvido os sons com os ouvidos, saboreado os gostos com o paladar, diferenciado os cheiros com o olfato e compreendidos os significados de cada um deles, combinando-se os entendimentos a partir de semelhanças e de diferenças, formando agrupamentos, indicativos de seus sentidos para cima ou para baixo.

Associaram-se a esses conceitos; o positivo e o negativo; o bem e o mal, o certo e o errado, o prêmio e o castigo, o claro e o escuro, o céu e a terra, a vida e a morte, o preto e o branco, a riqueza e a pobreza e outros. A vida humana é um diálogo constante entre opostos. Dizer que ela acontece entre “altos e baixos” é uma forma bastante rica de expressá-la, não apenas em suas dimensões quantitativas, como em suas dimensões qualitativas. Os dramas humanos precisam ser compreendidos em seus porquês. O saber é um valioso instrumento para que o homem possa encontrar as melhores maneiras de viver e de conviver com seus semelhantes e com o planeta que é seu habitat comum.

Por José Morelli 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Alter-ego

Estas duas palavras, separadas por um hífen, provêem do latim. Alter significa outro e ego significa eu. Ater-ego é o mesmo que outro eu. A existência desta palavra composta supõe de que o eu pode se desdobrar em mais eus. Um é aquele com o qual o indivíduo se vê identificado e se reconhece facilmente. O outro eu ou os outros eus são aqueles com os quais o indivíduo não consegue se perceber de imediato, em si mesmo, mas somente através da manifestação de outra pessoa. O alter-ego reflete aspectos mais difíceis de serem aceitos conscientemente.

Um lutador de boxe pode servir como alter-ego a expectadores que sempre se consideraram da paz, muito calmos e pouco agressivos. Ao assistirem uma luta, esses expectadores se surpreendem sentindo, em si mesmos, impulsos de agressividade. Sem querer, se percebem nervosos, chegando até mesmo a movimentar os próprios braços, como se estivessem querendo desferir socos no competidor. Com isso, revelam o outro lado da própria personalidade. Olhando-se com um olhar mais autocrítico, a partir dessa constatação, podem se reconhecer que não são tão pacíficos e bonzinhos como se imaginavam que eram.

Ego-auxiliar é o profissional que contracena com o protagonista de uma dificuldade ou problema, em uma sessão psicodramática. Em alguns momentos, o ego-auxiliar deve funcionar como alter-ego. Agindo ao contrário do que comumente agiria o protagonista da cena, o ego auxiliar testa a hipótese de que a imagem com que o protagonista está mais habituado a se reconhecer não esgota toda sua verdade. Ele é bem mais do que pensa ser. Seus limites vão além do que imagina ser capaz.

No dia a dia, toda pessoa se depara com vários alter-egos. A maior parte das vezes, estes são vistos neles mesmos, sem que se possa perceber o quanto representam pelo que colocam à mostra, chocando e causando constrangimentos. A televisão, o cinema criam muitos alter-egos. A curiosidade, a admiração que certos personagens despertam nos expectadores são indícios do quanto aqueles se encontram presentes nas fantasias e nos sentimentos dos que os assistem através de imagens virtuais.

É próprio do adulto que se mostre maduro em suas palavras e atitudes. Alguns destes são capazes de se permitir, em certos momentos, deixar vazar a criança que nem sempre se encontra dormindo dentro deles. Outros só se mostram através da censura que fazem àqueles que se permitem tal liberdade.  

Por José Morelli

Alçadas

Este termo vem do vocábulo jurídico e significa, de acordo com o dicionário, “jurisdição”, “competência”. Neste texto, quero utilizar-me da palavra “alçadas” (no plural), num sentido mais amplo, de tudo aquilo sobre o qual temos poder e capacidade de influenciar e modificar. Pergunto: qual o poder que temos sobre o amor que o outro ou os outros têm por nós?... Penso que, diretamente, não temos nenhum. Quem tem, diretamente e em primeiro lugar, alçada sobre o amor que sente, dentro de si, é a própria pessoa que ama. O amor pertence a cada um. É ele quem cuida e é responsável por seu próprio sentimento.

A pessoa amada pode corresponder ou não. É ela que tem alçada para deixar-se ou não contagiar pelo amor do outro. Duas pessoas que se amam precisam entender e saber respeitar essa hierarquia. Este é o princípio. Na prática, os gestos e atitudes não vêm com carimbo de qualidade. As verdadeiras intenções nem sempre transparecem. Estão sujeitas às mais variadas interpretações. Um presente pode ser entendido como uma prova de amor ou como uma chantagem, um meio para controlar os sentimentos do outro.

Respeitar as alçadas exige maturidade humana. Quem não tem uma base de auto-estima e de segurança pessoal, não consegue manter-se bem, diante das exigências normais de uma vida a dois. A falta de confiança em si próprio é transferida para o outro. Sobrevém a necessidade de vigiá-lo, controlá-lo.O amor perde sua espontaneidade natural, sendo substituída pelo medo da perda. Decresce a qualidade do relacionamento. Decresce, também, a capacidade de as pessoas se proporcionarem felicidade.

É próprio dos adultos sadios e conscientes serem responsáveis por suas ações e sentimentos. É um direito que possuem e que deve ser respeitado pelos outros. Os pais respondem pelos filhos menores. Na medida em que eles crescem e se desenvolvem, vão, pouco a pouco, assumindo poder sobre suas vidas. Nessa dinâmica toda, o sentido das alçadas vai sendo estabelecido e vivenciado à sua maneira, em cada fase da vida e de acordo com as circunstâncias que envolvem cada um. É um aprendizado constante. Se os indivíduos sabem se respeitar mutuamente, a sociedade em seu todo só tem a ganhar. As alçadas existem, para que os valores fundamentais da vida tenham lugar e respeito no dia a dia das pessoas e da sociedade. 

Por José Morelli

sábado, 7 de dezembro de 2013

Centrar-se no Interlocutor

Interlocutor é aquela pessoa ou aquele grupo de pessoas com quem você fala ou para quem escreve. “Centrar-se” é dar atenção à pessoa a que se dirige, considerando-a como centro, principal razão de sua comunicação.

É claro que o assunto, também, precisa ser do interesse do destinatário; entretanto, no momento em que a comunicação ocorre, a preocupação maior não deve ser com o discurso (conteúdo da fala), mas com o entendimento do discurso pelo interlocutor. Daí a necessidade de manter-se atento nele, percebendo-o em suas reações, se está ou não entendendo o assunto, acompanhando-o e com que interesse.

Um professor ou professora, excessivamente preso (a) ao conteúdo de sua aula, não conseguirá prestar a devida atenção nos alunos. Essa falta de atenção em seus interlocutores pode prejudicar o aprendizado. A segurança do professor (a) facilita seu desprendimento do conteúdo a ser ensinado, permitindo-lhe comunicar-se melhor.

Ao falar em público, o orador transmitirá sua mensagem, com muito mais eficácia, se conseguir olhar para seu auditório, transmitindo-lhe, no olhar, sua confiança em si mesmo, no tema que está tratando e nas pessoas, que estiverem ali para ouvi-lo. Para portar-se assim, o orador precisa superar as inseguranças, que porventura tenha, com relação ao tema que tem como objetivo abordar, e com relação à sua aceitação, como pessoa, da parte de seus ouvintes.

Você que me lê nesta coluna é, também, um interlocutor. Infelizmente, não posso vê-lo, nem conversar com você, ouvindo-o a respeito do que costumo escrever aqui. Acontece, vez ou outra, de algum leitor comunicar-se por carta ou telefone. Pessoas que me conhecem pessoalmente, também costumam comentar um ou outro tema lido no jornal.

Porém, para que eu possa, realmente, centrar-me no interlocutor, seria preciso que mais leitores (as) se manifestassem a respeito dos artigos sobre psicologia, publicados a cada semana. Pareceres, críticas e sugestões serão bem aceitas. Com este retorno, acredito, a qualidade destes trabalhos poderá ser ainda melhor. Antecipadamente, agradeço!

Por José Morelli

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Acreditar

Para poder ajudar é preciso acreditar. Se não acreditamos na capacidade do outro e de sua boa vontade para vencer as próprias dificuldades e problemas, de se superar em seus limites, consideramos sua mudança um caso perdido e nada podemos fazer, de maneira eficaz, para que o mesmo se modifique. Nossa “compreensão”, quando não acreditamos no outro, não apostando em seu potencial é o mesmo que acomodação e cumplicidade.

Acontece, às vezes, que é justamente aquele que está necessitando da ajuda, quem mais faz para destruir a crença dos que o querem ajudar. Através de vários meios, procura destruir toda esperança e todo propósito de quem nele bota alguma fé: são queixas, acusações, chantagens, cenas dramáticas ou histéricas, somatizações, como ânsia de vômito, dor de cabeça, disfunções intestinais ou outros distúrbios psicossomáticos.  

O acreditar incomoda. Incomoda por que exige que o outro se desacomode. E é isso que lhe é difícil fazer. Fica mais fácil jogar sobre quem ainda tem alguma esperança, que não o compreende, que não conhece o tamanho de suas dificuldades. Assim, vai se desculpando e procurando alguém que lhe passe a mão na cabeça, aceitando-o em sua incapacidade. Essa aceitação não o ajuda, apenas facilita sua permanência com seus problemas, enquanto o tempo vai passando e as oportunidades de viver com mais qualidade também.

A função do psicoterapeuta é acreditar nas capacidades do paciente, de superar suas dificuldades. É evidente que existe limite nessa crença. Em contrapartida, o paciente também precisa ter confiança no psicoterapeuta. Assim, com essa mútua crença, o paciente vai superando sua resistência em acreditar em si mesmo e em colocar suas capacidades em ação.

Marido e mulher, pais e filhos também podem e devem acreditar uns nos outros para que possam se ajudar mutuamente. Certa dose de cumplicidade faz parte do equilíbrio nos relacionamentos. O acreditar, no entanto, nunca pode ser dispensado, seja nos relacionamentos mantidos entre pessoas, seja nos mantidos entre grupos sociais. Os embates entre patrões e empregados (greves ou outros) são instrumentos legítimos de reivindicações que, além de permitirem a medição de força entre as partes, manifestam também a crença de ambas na continuidade de seus relacionamentos e parcerias. O viver humano exige um constante ato de fé.

Por José Morelli 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Uma viagem incrível

Desde o momento em que passamos a ocupar um lugarzinho especial no seio de nossa mãe, demos início a uma incrível viagem pelo imenso espaço sideral. Ainda não conhecíamos a luz do dia. Passado o período de gestação, ganhamos novo lugar sob a luz solar, junto a nossos pais e familiares e aos demais humanos e viventes dos cinco continentes do mundo. Nosso planeta Terra pode ser comparado a uma imensa aeronave. Cada volta que completa em torno do Sol tem a duração de um ano (365 dias e 6 horas). 

Enquanto perfaz seu caminho, a Terra gira em torno de si mesma, num movimento conhecido como de rotação. Quando o lado em que nos encontramos de nossa nave se encontra voltado para o Sol, vislumbramos o céu claro e azul de horizonte a horizonte. Quando nossa nave se encontra voltada para o lado oposto ao do Sol, temos a possibilidade de vislumbrar os inúmeros outros astros e estrelas em suas respectivas constelações ou nebulosas.

Além da trajetória em volta do Sol, o conjunto de astros que compõem o sistema solar, percorre outros espaços siderais. A curiosidade dos astrônomos, cada vez mais equipados com instrumentais mais potentes, quase que diariamente traz novidades fotografadas de lugares ainda não tão bem conhecidos. Uma amplitude que não para de aumentar e, da qual, todos participamos de alguma forma, modificando-nos direta ou indiretamente em nossas maneiras de pensar e de sentir.

As viagens possíveis de serem feitas de um país para outro, de um continente para outro, transpondo mares e oceanos, não se comparam com essa incrível viagem, na qual a aeronave é o nosso próprio planeta. Engana-se, portanto, quem diz que nunca fez uma grande viagem. Todos nós viventes, sem exceção, viajamos ininterruptamente. Nossa nave é muitíssimo mais sofisticada do que os melhores aviões das maiores empresas aéreas existentes em todo mundo.

O micro e o máximo não nos são acessíveis sem o uso de instrumentos especiais. O reconhecimento da coexistência destes como partes de nossa realidade de vida, nos inspiram a voarmos em nossas imaginações e fantasias.

Por José Morelli

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

“Torcer o nariz”

A resposta não é dada verbalmente; mas apenas com o gesto de “torcer o nariz” para um dos lados, às vezes acompanhado de uma espécie de grunhido. Através desse gesto instantâneo se pode expressar o desagrado frente a alguma coisa, pessoa ou situação. As expressões de entendimentos e de sentimentos (indicativas de estados emocionais) podem se apresentar por meio de gestos: alguns mais outros menos sutis na expressão de suas mensagens.

Palavras possuem sentidos mais claros e precisos. A mímica facial e gestual se constitui como forma de expressão que antecede a da comunicação pela fala, mais socializada e racionalizada. Quando se juntam palavras e gestos, estas junções podem ou não apresentar, entre si, certa coerência de sentidos.
Palavras e gestos se constituem como códigos de comunicação. Independentemente do idioma falado, muitos gestos podem ser entendidos universalmente, em qualquer parte do mundo.

O nariz está associado diretamente à sua função específica que é a de sentir os cheiros. É a única via no corpo humano, através da qual, os odores são captados e seus efeitos transmitidos ao córtex cerebral. O cérebro decodifica os cheiros, classificando-os como agradáveis ou desagradáveis, desejáveis ou indesejáveis.

Quem se julga sempre melhor do que tudo e todos à sua volta, tende a manifestar-se com desdém, torcendo o nariz constantemente. Parece que não consegue reagir de outra forma, um eterno descontente. Quem consegue ter de si um conceito objetivo, reconhecendo-se em seus aspectos positivos e negativos, tendo também para com os outros e para com o mundo essa mesma forma de ver e de julgar, não deixa de torcer o nariz eventualmente, mas o faz sem contaminações de juízos tendenciosos e preconceituosos. É livre para gostar ou não gostar. É livre para ter esperança em si mesmo e nos outros e, consequentemente, na vida em suas partes e em seu todo. 

E, só para lançar um desafio à imaginação, aqui vai uma pergunta, que acabou de surgir em minha mente: Quantos sentidos poderiam ser atribuídos aos beijos, com os narizes, praticados pelos povos esquimós?!

Por José Morelli

“Sair da casca”

As cascas, que envolvem a maior parte dos frutos existentes nas diversas espécies de plantas e árvores, se assemelham às embalagens que a natureza, em sua sabedoria, projetou e concretizou. Até que amadureçam, os frutos precisam da proteção de suas cascas. Para que a água e a polpa do coco sejam extraídas é preciso furar e/ou quebrar a casca do fruto.

Diferentemente das embalagens industriais, as produzidas pela natureza não degradam o ambiente. Estas, pelo contrário, até passam a servir como excelentes fertilizantes da terra, ajudando para que outras plantas possam continuar a se desenvolver e a produzir novos frutos.  A necessidade das cascas perdura por um determinado tempo. Quando os frutos amadurecem, é imprescindível que saiam naturalmente ou sejam retirados de suas cascas, a fim de que possam cumprir o papel para o qual foram destinados, que é o de servir ao sustento de animais e de pessoas.

Os seres humanos também, de forma comparativa, constroem proteções (cascas) nos seus juízos e sentimentos. Em dados momentos, essas cascas são necessárias. Porém, na medida em que vai se dando o amadurecimento de cada indivíduo, aquilo que era proteção necessária passa a ser impedimento ao desenvolvimento pleno.

Os perigos que envolvem a vida humana podem ser reais ou imaginários. Os mecanismos que a mente idealiza para se proteger dos perigos (internos ou internos) ora são reais e legítimos ora não encontram justificativas. De maneira subconsciente, a mente se utiliza de mecanismos de defesa para evitar que se exponha a sofrimentos. O desvendamento desses mecanismos, juntado à coragem de enfrentá-los, se constituem como forma de quebra e de saída da própria casca.

A castanha é um fruto bastante apreciado por seu sabor e qualidades nutricionais. Para poder servir ao consumo; no entanto, é preciso retirá-la de sua casca, tarefa nada fácil. A casca da castanha é envolvida por duros espinhos. Para não se machucar, é preciso quebrá-la com algum instrumento: um pedaço de pau ou martelo. A tarefa de quebrar a própria casca do eu e sair dela pode ser comparada à retirada da casca da castanha. Além da vontade firme é preciso boa dose de coragem e determinação na constante busca do autoconhecimento e do auto-redirecionamento. 

Por José Morelli

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Aprimorar-se

Aperfeiçoar-se, melhorar-se. O viver é uma chance, uma oportunidade para o aprimoramento dos seres humanos. De duas, uma: ou nos aproveitamos das possibilidades que a vida nos proporciona para crescermos em nossa maneira de ser e de agir, ou deixamos de aproveitar essas oportunidades, mantendo-nos como sempre nos entendemos que fomos ou somos, não aceitando modificações que nos ajudem a melhorar-nos. “Eu nasci assim, e vou morrer assim”, quem não fez ou não ouviu uma afirmação como essa?

Mudanças radicais na personalidade destruiriam a própria identidade. Se o indivíduo não é ele mesmo, quem ele é?... Cópia de algum outro?! Aquilo que é da natureza profunda de cada ser humano permanece como uma marca registrada, como uma qualidade ou um defeito de fabricação. No entanto, essas qualidades, com inteligência e boa vontade, podem ser dinamizadas e, os defeitos, podem ser minimizados ou contornados.

A tarefa de aprimorar-se é sempre acompanhada de altos e baixos. Há situações em que se dá passos à frente e há situações em que se dá passos para trás. Isso faz parte do processo. Nem sempre se pode cantar vitória. Tudo, porém, serve ao aprendizado e ao aprimoramento. Importante é entender que os acontecimentos da vida são como lições a serem aprendidas.

Nossa base é a adesão que temos conosco mesmos. O aceitar-se não significa passividade. A interação com o tempo e o espaço e com os demais seres viventes, naturalmente, possibilita o desenvolvimento de um processo de evolução e de aprimoramento do ser, de suas estruturas físicas e psicológicas. Os psicólogos humanistas falam de uma força propulsora, existente dentro de cada indivíduo, força que impulsiona no sentido daquilo que é saudável, daquilo que é bom e contribui para o desenvolvimento e para a saúde, em sentido amplo.  

Recomendar a alguém que se aprimore é pedir muito, algo acima de suas capacidades? Nos momentos de paixão e de raiva em que o “eu” precisa encontrar justificativas de seus posicionamentos, pode parecer pedir muito. Nos momentos em que se está com a cabeça fresca, no entanto, qualquer um de nós pode entender a importância do aprimoramento pessoal para o próprio desenvolvimento e realização.  

Por José Morelli

sábado, 28 de setembro de 2013

Cortes e recortes

De quantas maneiras podemos visualizar uma laranja? – Certamente, não será apenas de duas formas diferentes: a partir de fora e a partir de dentro! – Dependendo dos cortes e recortes que fazemos a visão da laranja não será a mesma, permitindo-nos a ampliação de nossos conhecimentos a respeito dessa excelente fruta cítrica, tão rica em vitamina C. Se a cortarmos na horizontal, na vertical, nas perpendiculares de um lado e de outro, os pequenos gomos com que ela é formada serão visualizados com imagens diferenciadas.

As ciências físicas e filosóficas estudam a vida em seu todo, em sua abrangência. À semelhança do exemplo da laranja, as ciências são cortes e recortes a partir de diversos possíveis ângulos de visão. A realidade por inteiro é uma só (única e una). Pode ser vista sob o ângulo das quantidades, através da matemática. Pode ser vista sob o ângulo da temporalidade, através da história, Pode ser vista sob o ângulo dos elementos que a constitui, através da química, da geologia. Estes e outros tantos são os cortes e recortes que podemos realizar, aproximando-nos e distanciando-nos, a fim de alargarmos ou estreitarmos as abrangências de nossas visões.

Os cortes e recortes das ciências não são e não podem ser considerados como formas isoladas e não interligadas. Precisam ser reconhecidas em seu conjunto. Na medida em que as novas tecnologias vão ampliando a capacidade de avançar nas pesquisas quanto à vida, em tudo o que dela faz parte, vamos acrescentando novos elementos de compreensão de cada parte e do todo.

A sabedoria antiga já dizia que “quanto mais aprendemos, mais descobrimos o quanto ainda não sabemos”. Hoje, mais do que no passado, não podemos nos isolar uns dos outros. Os meios de comunicação nos permitem que troquemos nossas figurinhas e, com isso, ampliemos nossos conhecimentos do mundo, de nós mesmos e das interações que estabelecemos uns com os outros.

No mapa-múndi encontramos as representações dos continentes, países, oceanos mares e outros acidentes geográficos. Nos mapas que reproduzem o céu visualizamos astros de várias grandezas, nebulosas e constelações de estrelas. As ciências também poderiam ser representadas como num grande mapa: cada matéria a partir de um modo de olhar diferente. As filosofias, igualmente, cada uma constituída a partir de um recorte especial, possui sua própria lógica de visão e de pensamento.

Por José Morelli

terça-feira, 18 de junho de 2013

Assumir

Assumir significa trazer para si como próprio, responsabilizar-se pelo que é ou tem ao alcance: das mãos; dos pés; da inteligência, do coração. Trata-se de uma palavra-chave para entendimento do comportamento humano e, principalmente, representativa de uma atitude que permite a superação das mesmices do cotidiano e abertura para novos caminhos e conquistas. Nem sempre é fácil assumir ou assumir-se. A medida dessas dificuldades pode ter tamanhos diversos. Há situações que exigem grandes esforços e determinação para serem assumidas na inteireza e totalidade.

Esforço e determinação. O esforço supõe energia, tanto física como mental/emocional e da força de vontade. Às vezes, estas energias fluem com mais facilidade. Outras vezes, tem-se a impressão de que elas se encontram bloqueadas ou proibidas de se mostrarem. Os motivos que determinam essas diferenças podem ser muitos. Enquanto alguns desses motivos podem até serem identificados e reconhecidos, outros permanecem ocultos no subconsciente, como que guardados a sete-chaves.   

Quanto à consciência, esta é, em si mesma, uma potente energia. A direção que a consciência entende como determinante do caminho a ser seguido pode não coincidir com a de outras demandas, acionadas por outros dinamismos (potencialidades) que também fazem parte da personalidade do ser humano. Surgem assim os conflitos, espécies de colisões de interesses que dificultam a colocação em prática da tomada de decisão de assumir.

Assumir e assumir-se no o dia a dia com tudo o que dele faz parte; assumir o trabalho, os estudos, os relacionamentos de amizade, o namoro, o casamento, a separação, a perda de um bem material, de um ente querido, a condição adulta e responsável, a manutenção e o cuidado da casa, os direitos ou obrigações da cidadania, a afetividade, a sexualidade, o amor, uma doença, uma deficiência física ou de personalidade própria ou de algum amigo ou familiar. Estes são apenas alguns exemplos de necessidades imperiosas, que reclamam de cada indivíduo que assuma um posicionamento frente às mesmas, empenhando-se em encará-las e enfrentá-las.

O assumir é radical, exige determinação e coragem. O assumir não pode deixar de ser inteligente e maduro. Escolher assumir e assumir-se no que é condizente com a própria consciência é, também, fonte de paz consigo mesmo e de profunda felicidade, fruto da percepção e constatação do dever cumprido.

Por José Morelli

quarta-feira, 13 de março de 2013

“Bitolado”

Adjetivo originado de bitola, termo que define dimensões, comumente utilizado para qualificar linhas de trem, que podem ser de bitola larga ou estreita. Na linguagem popular, costuma-se chamar de “bitolado” aquele indivíduo que segue sempre na mesma linha, tendo um comportamento semelhante ao do trem, andando somente como sobre os mesmos trilhos. Age de maneira pré-determinada, não conseguindo adotar um repertório mais criativo nos comportamentos, de acordo com a necessidade do momento e das circunstâncias que o cercam.

As tapas colocadas dos dois lados dos olhos do burro, que puxa uma carroça, o obrigam a seguir somente na direção que se apresenta à sua frente. O dono puxa-o pelo freio, fazendo-o virar a cabeça para a direção que deseja conduzi-lo. Quando se afirma que alguém é bitolado, às vezes, costuma-se acompanhar essa afirmação com o gesto de colocar as mãos ao lado dos próprios olhos, à semelhança das tapas que são colocadas nos burros de carga.

Várias são as razões que podem fazer um indivíduo se comportar de maneira bitolada. Uma delas é a necessidade que este tem de se garantir segurança. Prefere repetir os comportamentos que deram certo no passado a adotar novos, ainda não experimentados. Teme se expor ao risco de errar. A necessidade de ser perfeito ou irrepreensível, diante dos próprios olhos ou dos olhos dos outros, pode dar origem a esse medo. Outra razão dessa mesma tendência é a falta de confiança nas próprias capacidades. Por força dessa falta de confiança, prefere seguir as trilhas mostradas pelos outros não se esforçando para criar as próprias.

Existem aqueles que são mais bitolados e aqueles que o são menos. Aqueles que se fecham mais em si mesmos e aqueles que não se fecham tanto. Os primeiros se assemelham aos trens de bitola estreita, enquanto que os segundos com os trens que trafegam sobre bitola larga. Por de trás dessas aparências, sempre existem causas mais profundas que as sustentam. Trabalhá-las, ajuda na superação desse tipo de necessidade neurótica. Vale à pena ampliar as próprias capacidades de agir. Vale à pena libertar-se das correntes que limitam a expansão dos próprios comportamentos.    

Por José Morelli

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Na plenitude do aqui/agora


Se é que você tem alguma possibilidade de agir, expressando-se na totalidade de seu ser é: do lugar em que você se encontra e no momento exato em que você está vivendo. Nem ao passado e nem ao futuro você tem acesso imediato. Só o presente lhe é acessível diretamente. O agora é fugaz, passando como o vento que não para nem um instante. Ao terminar de pronunciar a palavra agora, o tempo já não é mais o mesmo, tendo sido sucedido pelo imediatamente seguinte. A vida é vivida na sucessão de “agoras”. Quem não vive o presente pelo que ele pode oferecer de oportunidades reais e concretas é como aquele que não tem os pés no chão, anda sobre nuvens, sonha apenas que está vivendo, perdendo a chance de usufruir da sensação de plenitude que a vida real pode lhe oferecer.

Embora efêmero, o agora é imensamente profundo. Mesmo sendo ínfimo em sua extensão, é imenso em sua profundidade. Nele você pode encontrar-se na percepção de sua própria pessoa, inteira. Nele, ainda, você pode entrar em sintonia com o mundo que o rodeia, dimensionando-o em toda sua grandeza. Nele, por fim, você pode transcender, projetando-se para além de sua própria pessoa e do mundo, penetrando e deixando-se penetrar pelo Absoluto, pelo Infinito do Existir, que permeia a natureza toda, da qual você também faz parte. Através da utilização da memória, a mente acessa o passado, lembrando-se dos “agoras” já vividos. Através da imaginação, a mente antevê o futuro, idealizando-o e preparando-lhe o caminho para que venha a se concretizar.

O agora é o pé no chão... é a energia que vem da terra. O agora é o combustível que impulsiona a vida para frente. Nele o ser descansa assegurando-se que é, de que forma é e em que contexto de mundo se encontra vivendo. Nele o ser se percebe no caminho, à semelhança do barco que também se deixa levar pela correnteza do rio. O presente é a base, o apoio. Nele é que o pé se firma para dar mais um passo adiante. Ele é você em suas capacidades e limitações. Ele é o seu tudo e o seu nada. Nele você pode ganhar o céu ou perdê-lo. O aqui é este lugar que você escolheu para viver ou que ele escolheu você para que nele você vivesse seus sucessivos “agoras”. A sensação de plenitude é como a sensação de um abraço. A vida é o que é, sem disfarces ou máscaras. Abraçando-a, aceitando-a assim tal como ela é, você a experimenta nos múltiplos sabores que ela tem para lhe proporcionar, sentindo-a em toda a sua plenitude.

Por José Morelli

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Armadilhas

Dar para receber de volta. Controlar sem que não seja controlado. Acreditar de que a vida pode ser sem problemas. Pensar que a paz é, apenas, ausência de guerras. Imaginar que o ter pode suprir a falta do ser ou, pelo contrário, de que o ser pode suprir a falta do ter. Julgar que a felicidade só existe quando não há sofrimento.

Quando alguém, acreditando que ama, faz uma série de coisas para agradar à pessoa a quem diz estar amando e espera que esta lhe retribua, dando-lhe na mesma proporção ou mais, ela não passa de uma egoísta, pois usa do amor como uma forma de negociar vantagens.

Engana-se quem se julga mais poderoso do que aquele a quem mantém sob controle. São muitos os fatores que envolvem qualquer acontecimento, sendo que alguns desses fatores dependem exclusivamente do que se passa no íntimo e são absolutamente incontroláveis a partir de fora. Cadeia não se confunde totalmente com liberdade e liberdade não se confunde com estar ou não recluso entre quatro paredes.

Toda saída de problemas é abertura para situações novas. Como tal, essas situações encerram desafios a serem superados, problemas a serem equacionados, driblados, com os quais se é preciso aprender a conviver ou lidar, de alguma forma. Acontece, às vezes, de que a superação de um problema, implica na criação de dez novos problemas.

A paz é buscada através de vários caminhos. A paz dos que jazem mortos nos cemitérios é incapaz de modificar qualquer situação injusta. A justiça começa com o reconhecimento da dignidade pessoal por parte de cada indivíduo. Independentemente de qualquer diferença, seja ela de cor, raça, religião, condição social, todo ser humano é digno e merecedor de consideração, respeito e do indispensável à sua sobrevivência e realização pessoal, no meio em que vive. Esse é mais um dos caminhos que deve levar à paz.

Ser, ter, felicidade, sofrimento... são como os pés que sustentam um banco. Se faltar um deles, o banco não se mantém firme e cai. A cada um deles cabe suportar um quarto do peso, distribuído sobre a superfície do banco. Da mesma forma, acontece com a vida humana na contingência de sua existência terrena, material. Todo sofrimento é confronto. Do confronto podem se abrir novas saídas. Importa é que sempre sejam vislumbradas esperanças no horizonte, sejam quais forem os sofrimentos que se abatam sobre quem quer que seja.

Por José Morelli

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Canalizar a energia

Friccionar as mãos, esfregando-as uma à outra permite perceber como a energia está presente em cada um de nós, nas formas de movimento e de calor. Em conseqüência de friccionar as mãos, estas se aquecem... depois, pouco a pouco o seu calor vai se dissipando, transferindo-se para o ambiente. Nossa vida se manifesta através da energia presente em nosso corpo e em nossa mente. Corpo e mente trocam energia entre si. Para que se mantenha vivo e se desenvolvendo, o ser humano precisa da energia que o meio externo lhe proporciona, através do ar que respira, do alimento com que se nutre. Os órgãos dos cinco sentidos: visão audição, paladar, olfato e tato transmutam energias ao exercerem cada um suas respectivas funções. Pensamentos, sentimentos, emoções e sensações possuem força indutiva. A mente, por sua capacidade, influencia nos rumos dos acontecimentos e na vida das pessoas e da sociedade.

A sensação de dor ou de sofrimento físico ou psíquico é provocada pela forma como a energia é canalizada. A presença da dor ou do sofrimento podem servir como alerta, denunciando que algo não ocorreu da maneira como deveria ter ocorrido.

Os sintomas que se manifestam através do corpo são indicativos dos problemas que o afligem. Através desses sintomas o corpo fala, utilizando-se desse tipo de linguagem que precisa ser bem entendido. Dores, febres, pressão alta, tensão muscular são fluxos de energia mal canalizados. Uma constante observação do próprio corpo permite uma familiaridade entre este e a mente, pela compreensão do que se passa no todo em que nos constituímos.

Acontece, às vezes, de a energia sofrer um bloqueio em alguma parte do corpo. Uma massagem, a aplicação de algum medicamento ajudam a desbloqueá-la, redirecionando-a em seu fluxo normal. Dialogamos com nosso corpo, respondendo com atitudes às mensagens que transmite. A psicoterapia, pelo maior conhecimento que desenvolve nas pessoas, de si mesmas e das influências que recebe de suas interações com o meio, contribui para que esse diálogo se torne mais produtivo, resultando na descoberta de maneiras mais eficazes de canalizar a energia. Trata-se de um caminho muito pessoal. O histórico de cada pessoa é único. O modo como cada uma processa a própria história também é único, o que exige uma dedicação artesanal e com o maior interesse.

Por José Morelli

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Artérias, veias e vasos capilares

Do ponto de vista da fisiologia e da medicina, as artérias, veias e vasos capilares são estudados em grande profundidade. Na medida em que os avanços tecnológicos tornam os instrumentos mais poderosos, os pesquisadores conseguem informações que ajudam em suas descobertas e entendimentos. É através desses condutores que o sangue percorre todo o corpo humano e chega aos pontos mais extremos de cada um de seus membros.

Os conhecimentos dos avanços conquistados pelos cientistas, pouco a pouco, vão sendo passados para o público em geral, através das notícias e de matérias publicadas em revistas. Informações se somam umas às outras. Com isso, os indivíduos ampliam e constroem novas imagens mentais de si mesmos e das diversas partes em que se constituem.

Sobre algumas dessas partes é possível que as pessoas tenham acesso direto, sobre outras não. Indiretamente, porém, é fundamental que todos tenham um conhecimento mínimo que lhes permitam cuidarem-se de si mesmos e da própria saúde.

À semelhança dos rios (de grande e de médio porte), dos ribeirões e riachos, as artérias, veias e vasos capilares irrigam e fertilizam a terra, que no corpo humano é formada por células. Estas pequenas porções vivas se alimentam do oxigênio vindo através da respiração e dos nutrientes trazidos pelos alimentos ingeridos. Respirar bem e comer produtos que não prejudiquem as boas condições das artérias, veias e vasos capilares são procedimentos importantes para manutenção e desenvolvimento da saúde. A compreensão das vantagens que esses procedimentos promovem fundamenta aquelas atitudes que seguem nessa direção. Quem o faz contrariado, não o faz por inteiro, deixando de colher os melhores frutos.

Exercícios físicos ajudam na queima de gorduras que podem se acumular nas vias sangüíneas. Aliados a medicamentos, quando necessários, os exercícios físicos são meios indiretos de as pessoas se ajudarem para que mantenham os rios do corpo despoluídos e aptos a levarem vida desde aos cabelos da cabeça até às unhas das mãos e dos pés.

Por José Morelli