quinta-feira, 29 de março de 2012

Temperamentos

Esta palavra vem de tempero, condimento que dá sabor diferente aos alimentos. Somos gente, pessoas humanas. Neste aspecto não nos diferenciamos uns dos outros, sejamos do sexo masculino ou feminino. Porém, à semelhança dos pratos culinários, trazemos em nossa maneira de ser uma espécie de tempero que influencia em nossa singularidade, em nossas formas concretas de agir e de reagir.

Sabores doces, amargos ou azedos. Cada um de nós tem o seu tempero ou temperamento como uma característica predominante que nos influencia, uma tendência que nos distingue e marca, o que não deve se constituir como problema; pelo contrário, deve tornar-nos mais variados uns perante aos outros, fazendo com que a vida nos seja menos monótona e enfadonha.

Sangüíneos, fleumáticos, longilíneos, brevilíneos. Estes são alguns dos tipos de temperamentos conhecidos desde há muitos anos e capazes de identificar as características mais marcantes de cada um nós.

De tipo sangüíneo são aquelas pessoas que são fortemente tomadas pela emoção em qualquer circunstância. Não escondem o que estão sentindo. Podem até ficar vermelhas com relativa facilidade. O temperamento pode determinar também o tipo físico de um indivíduo.

Os fleumáticos são o oposto dos sanguíneos. Não apresentam reações emocionais de imediato. Contam até dez antes de tomarem uma atitude, têm a capacidade de pensar antes de esboçarem qualquer reação. Os ingleses são vistos como tipos fleumáticos característicos.

Longilíneos são aqueles indivíduos que, tendo um tipo físico alto e magro, se apresentam mais como introvertidos em suas maneiras de agir, são menos expansivos não dando demonstrações de grande entusiasmo ou alegria. São contidos. Há alguns que desenvolvem boa capacidade poética, no intuito de poderem dar vazão às suas emoções.

Quanto aos brevilíneos, são aqueles que, muitas vezes, apresentam uma constituição física gorda e baixa. São expansivos, bonachões, alegres e divertidos. Entusiasmam-se com facilidade, mas também desanimam diante das primeiras dificuldades.

De certo inglês, conta-se que, viajando em um trem, fumava tranquilamente seu cachimbo. À sua frente, uma senhora que trazia um cachorrinho no colo, sentia-se incomodada com a fumaça que vinha das baforadas que o homem dava de tempo em tempo. Num dado momento, não suportando mais o desrespeito e sem cerimônia do cidadão, a senhora tirou-lhe o cachimbo da boca e o jogou para fora do trem, pela janela. O homem não esboçou nenhuma reação. Passado algum tempo, porém, ele pegou o cachorrinho do colo da senhora e disse-lhe: “Vai pegar o meu cachimbo!” e jogou-o pela mesma janela, para fora do trem.

Por José Morelli

sexta-feira, 23 de março de 2012

"Dar-se um tiro no pé"

Por absurdo que possa parecer, alguma parcela de verdade revela esta conhecida expressão da língua portuguesa. Claro que o seu significado se aplica menos em sentido literal, do que em sentido figurado. Poucos seriam aqueles que teriam coragem de disparar um tiro de revólver sobre o próprio pé, É mais fácil acontecer de darem-se outros tipos de tiros, atitudes negativas capazes de detonar chances de sucesso ou êxito.

Porque o pé e não a mão ou qualquer outra parte do corpo? Acredito que seja em função de o pé, ou os pés serem os responsáveis pelo caminhar, pelo ir para frente e são as partes do corpo que levam as pessoas aos lugares em que elas conscientemente querem ou que, por alguma razão oculta, inconscientemente, não querem. Dar-se um tiro no pé é o mesmo que impedir-se de chegar aos lugares, é roubar-se a oportunidade que a vida ou o esforço já despendido proporcionam.

Cada pessoa funciona do seu jeito. O mesmo se pode dizer das instituições e entidades em geral. Neste caso, o comportamento é coletivo e não individual. Pessoas e grupos podem funcionar a favor de si mesmos ou contra aquilo que lhes é favorável.

Um sentido crítico muito exigente pode levar a dúvidas. Quem pensa demais para se casar encontra razões a favor e contra ao casamento. Colocando-as em cima da balança, os pratos desta podem não pender nem para um lado nem para o outro, ficando em equilíbrio. As atitudes que emergem do inconsciente podem permitir que razões ocultas venham à tona.

Os negócios das empresas visam o seu próprio crescimento. Esse crescimento implica em conquistas de posições de liderança e responsabilidades. Uma ascensão social pode assustar, parecendo exigir mais condições do que seus proprietários julgam possuir. Um sócio não é igual ao outro. Enquanto um age positivamente outro pode agir ao contrário, dando-se a si e à empresa um tiro no pé. Dentre aqueles que são filiados a uma instituição seja ela qual for também pode acontecer da mesma forma. Enquanto grande parte deles age na mão certa, outros agem na contra mão do que a instituição se propõe em seus objetivos.

Desde que condicionado à matéria, nenhum posicionamento é absoluto em sua importância. Filtrada pela mente, a realidade, no tempo e no espaço, possui um dimensionamento relativo. É esta a chave que abre o entendimento de atitudes absurdas que se assemelham ou igualam àquelas de se dar um tipo de tiro no próprio pé.

Por José Morelli

quarta-feira, 14 de março de 2012

Chão

Dos estudos da antropologia, aprende-se que os antepassados do homem deixaram de viver sobre árvores e passaram a viver no chão. A partir daí, o macaco-homem foi, gradativamente, perdendo sua habilidade de agarrar-se e de dar impulsos com os braços e com as mãos e passando a desenvolver suas pernas, ganhando mais habilidade de se locomover pisando o solo terreno.

Com o aprendizado de lascar a pedra e a descoberta do fogo, sua vida se tornou mais segura, frente aos outros animais, que o tinham como presa fácil de ser capturada e devorada. Desalojando ursos e outros bichos de suas cavernas, passou a morar nelas, transformando-as em sua nova habitação e lugar onde seus filhotes e fêmeas podiam permaner, dia e noite, melhor protegidos do frio, da chuva e de outras agressões da natureza.

Depois vieram as casas construídas de pedra ou de madeira e recorbertas de palha. Com tudo isso, o chão foi se constituindo como o lugar ideal para o homem, lugar onde ele se sentia o dono do pedaço, seguro de que dali ninguém o tiraria.

O tempo foi passando... a raça humana foi evoluindo em seus pensamentos e nos meios de preservar-se. Assim, o número de humanos foi aumentando, crescendo em largas proporções. Aldeias foram se transformando em cidades. Casas térreas foram ganhando mais andares. Técnicas e arte se aliaram para a edificação de grandes castelos, igrejas, torres... O homem conseguiu desenvolver uma grande capacidade de planejar e fabricar muitas coisas, para o seu bem estar e conforto, criando inventos que fizeram crescer o domínio do homem sobre a terra, o ar e as profundezas dos oceanos. Por outro lado, com esta sua mesma capacidade, o homem desenvolveu também armas e outros meios de destruição.

Os maiores predadores dos humanos passaram a ser os próprios humanos. Em sua mente e em seu sentimento o chão voltou a ser percebido e sentido como perigoso e inseguro da mesma forma como o foi para os primatas do homem. Nas mentes e nos corações passaram a se desenvolver duas culturas antagônicas: a da paz e a da violência. Ambas se desenvolvem mediante o aprendizado.

As crianças são sensíveis a uma ou a outra dessas duas culturas. Talvez seja em função de todo esse histórico que, nos desenhos infantis, algumas crianças venham preferindo fazer as figuras voando, soltas no ar, sem que o chão lhes sirvam como base, uma forma de retornarem à segurança do alto das árvores.

Por José Morelli

sexta-feira, 2 de março de 2012

Fio da meada

Achar o “fio da meada” é uma expressão de nossa língua. Vi, no dicionário, que “meada” significa “porção de fios dobrados, emaranhados”. Quem já passou pela experiência de desmanchar um emaranhado de fios, sentiu a importância de encontrar a ponta para que o serviço fique mais fácil de ser realizado. Desde que a tenha encontrado, não que o trabalho deixe de exigir esforço e paciência, mas passa a render e a ter uma razão de continuidade com melhor definição de seu príncipio, meio e fim. Desmanchar um emaranhado de fios é um processo a ser realizado em etapas. Respeitar a seqüência natural dessas etapas, contendo-se na própria ansiedade, é um fator indispensável para que a tarefa seja realizada bem e com rapidez. “É preciso ter paciência!...” costumam dizer algumas pessoas. Em casos como esse, “a pressa é inimiga da perfeição”, dizem outras. A pressa, a falta de paciência dificultam os indivíduos de entrarem em contato com aquilo que estão fazendo. A sintonia do olhar com o objeto, a boa coordenação dos movimentos das mãos,... essas e outras condições deixam de existir, quando falta controle emocional.

Um emaranhado de fios pode muito bem servir de comparação para muitas situações da vida, no dia-a-dia. Embora nenhuma comparação seja perfeita, o uso delas pode ajudar, tanto na expressão das ideias, através da linguagem, como no exercício dos próprios desempenhos - (“performances”), em atitudes concretas, que envolvam o corpo, forçando-o a mobilizar-se e a mexer-se.

Pensando no que foi visto até aqui, talvez se possa dizer que o corpo é a ponta do fio da meada. Encontrando-o, fica mais fácil “desenrolar” o problema, no que ele tem de mais profundo, de mais enrolado. Neste caso, as partes do corpo, envolvidas, poderiam ser entendidas como “terminais”, assim como os dos computadores, ligados às centrais de informações e de dados.

A profundidade ou complexidade da vida humana, no entanto, não pode resumir-se a noções mecanicistas. Embora certas idéias e metodologias possam ajudar na solução de problemas de ordem psicológica, não conseguem esgotar o que é necessário, para o desvendamento mais completo de suas causas. Na mão dupla dos caminhos, o sentido oposto, repesentado pelo inconsciente e seus meandros, completam os recursos disponíveis, num imenso arsenal, dinâmico e incomensurável, à disposição dos profissionais, que se dedicam a esse estudo e a essa busca de solução de problemas humanos.

Por José Morelli