quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Caráter delinquente

É o caráter daquele indivíduo que, de uma forma quase irresistível, prefere escolher o descumprimento de leis e normas em vez de ater-se às mesmas, cumprindo-as naturalmente. Apresenta-se constantemente como “do contra”, “nascido do avesso”. Parece não querer percorrer os caminhos tidos como comuns aos simples mortais, insistindo em chamar a atenção mediante adoção de condutas contrárias, mesmo que nocivas ou prejudiciais a si mesmo e aos outros.  Como as demais características das distorções da personalidade humana, estas podem se apresentar de forma graduada, desde as mais tênues até as mais fortes, desde as mais controláveis até as mais difíceis de serem controladas.

Delinquir é o mesmo que descumprir. O delinquente se identifica como exceção à regra que é imposta a todos. Com essa sua maneira de ser e de agir, cria inúmeros problemas no convívio de sua família e no meio social em que se insere. Essa sua maneira de se diferenciar dos outros certamente tem seus fundamentos, suas razões de ser e de se explicar/justificar. A partir de um ponto de vista, o caráter delinquente decorre da contradição existente na própria condição humana que, mesmo não sendo perfeita e completa em suas possibilidades, na mente humana, consciente ou inconscientemente, não desiste de ambicionar a perfeição ou a completude.

O caráter do delinquente é o de uma pessoa que não se conforma com a limitação com que a realidade da vida aparentemente se apresenta. Através de seu modo de julgar e de agir, não entende e condena a todos os outros que procedem de maneira diferente e contrária à sua. Mesmo que não se sinta totalmente seguro quanto ao que faz ou deixa de fazer, adota posturas que parecem traduzir sentimentos de autoconfiança.

O caráter delinquente pode também ser atribuído a grupos de pessoas. O inconformismo certamente deve estar na base da formação daqueles que fazem parte das facções criminosas que controlam o tráfico de drogas e de armas em regiões estrategicamente escolhidas, cujo acesso demandaria dificuldades para ser conseguido pelos órgãos policiais de repressão. Traficante e usuário possuem características semelhantes de distorções na formação da personalidade. Ambos possuem caracteres fortemente contaminados pela sensação de orgulho e de vaidade que a deliquência é capaz de proporcionar a indivíduos e a grupos de indivíduos.

Por José Morelli

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Confiança

Pode não parecer, mas o mundo só se sustenta por causa da confiança. Ela existe e acontece com bem mais freqüência do que podemos imaginar. A natureza é como uma mestra da confiança. Obedecendo suas leis, os dias e as noites se suscedem com extrema precisão. Assim, aprendemos a confiar de que a cada 24 horas surge um novo dia e que, em cada ano, os diversos pontos do planeta passam pelas variações das 4 estações, beneficiando-se do calor, do frio, da chuva e da estiagem. Confiantes, os agricultores, os fabricantes de guarda-chuva, de agasalho ou de roupas leves esperam pela chegada da estação apropriada, para a qual se prepararam em vista de seus produtos.

As pessoas, também, vivem apoiadas na confiança que possuem umas nas outras. A confiança funciona como regra, sendo a desconfiança exceção. Mesmo aqueles que dizem que não confiam, precisam viver como se confiassem. Necessitam de uma confiança básica em si mesmos e nas pessoas com quem convivem mais proximamente; do contrário, não sobreviveriam. Precisam confiar nas coisas que estão a seu uso, bem como nas instituições às quais se inserem. Precisam confiar no ar que respiram, na água que bebem, nos alimentos que consomem, nas roupas que vestem. Se necessitarem de algum remédio, é imprescindível que confiem de que este os fará sarar ou melhorar. Precisam confiar no telefone de que fazem uso, na roupa que escolhem para comprar, no sapato, na bolsa, na arma, no que seja...

O trabalhador confia de que receberá o salário prometido pelo patrão. O patrão tem confiança de que o empregado selecionado executará o trabalho para o qual foi contratado. O motorista confia no carro que dirige, no combustível que utiliza para o fazer movimentar, no breque que aciona para o fazer parar. O jogador de futebol confia no companheiro de equipe, ao passar-lhe a bola. Quem lê confia no que está lendo. O aluno confia nos ensinamentos do professor e será ótimo que o professor confie no aluno, a quem tem por obrigação ensinar. Mesmo aqueles que se envolvem com o crime organizado, precisam confiar na organização a qual fazem parte e de merecer a confiança desta. A perda dessa mútua confiança pode levar a conseqüências indesejáveis para ambas as partes. A confiança, como regra, não merece ser notícia. A quebra da confiança, na qualidade de exceção, é mais rara; por isso, merece ser notícia, ganhando diariamente as páginas dos jornais e os noticiários da TV.

Por José Morelli