quarta-feira, 15 de agosto de 2012

“Fantasminhas”

A imaginação os criou. As histórias em quadrinhos têm um famoso: o “Gasparzinho”. Nos desenhos animados, eles aparecem na forma de um lençol branco com dois furos, na altura dos olhos, como se existisse alguém embaixo, que o animasse. Quando o lençol é puxado, nada se encontra. Só o lençol é visto, aquilo que dá movimento e vida ao lençol, não.

Podemos comparar a imagem dos fantasminhas, representada pelo lençol, que é a parte visível deles, aos sintomas das doenças (nos quadros neuróticos e psicóticos). O sintoma é apenas a manifestação de um problema de saúde e não, propriamente, o problema em si. A impotência sexual, o medo fóbico, a ansiedade, o comportamento perseverante e compulsivo, a hiperatividade, a angústia, a cleptomania, a depressão, a enurese noturna (xixi na cama) e outros sinais são apenas sintomas, manifestações de conflitos, de problemas mal-resolvidos ou não-resolvidos. Estes não aparecem de forma visível e concreta. São desarmonias e defasagens, choques mesmo entre valores antagônicos, entre consciência e instintos, entre idéias e sentimentos, entre situações externas e internas, “quedas de braço” impostas pelas circunstâncias da vida, difíceis de serem identificadas e bem trabalhadas, para poderem ser mais bem assimiladas, isto é, transformadas em força que alimenta a vida.

O sintoma acena para o problema, é o caminho para ele. Através do sintoma, podemos chegar à sua causa. O sintoma traz em si uma mensagem. Não é à toa que ele se apresenta de uma forma e não de outra. Nele podemos encontrar a pista para desvendarmos nossos segredos íntimos.  É ele como um enigma que precisamos decifrar e entender.

A palavra desvendar significa tirar o véu, que poderia ser entendido, também, como tirar o lençol do fantasminha. Vencendo as resistências naturais à busca do auto-conhecimento, podemos encarar nossos sintomas, sem medo, perguntando-lhes o que escondem por debaixo de suas aparências e o que têm a nos dizer sobre questões importantes de nossa vida, e que tanto comprometem o nosso desempenho e desenvolvimento.

Por José Morelli

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