terça-feira, 22 de maio de 2012

Contra-controle

O sentido da palavra controle é bem conhecido. Já o vocábulo contra, nesse contexto, significa aquilo que é contrário, que se opõe. Logo: contra-controle é o mecanismo de se defender da pressão, da fiscalização exercida por outrem... é o esforço, a tentativa de driblar alguma imposição autoritária, de torná-la sem efeito ou de anulá-la simplesmente. 

Resumindo: contra-controle é o controle do controle. Uma observação, mesmo que rápida e superficial, a respeito dos comportamentos das pessoas em geral, permite perceber como esse mecanismo é largamente utilizado e das mais variadas formas: fazendo-se de surdo; de mudo; de mal-entendido quanto ao que está sendo dito; mudando de assunto no meio da conversa; entrando em casa nas pontas dos pés, para não despertar a atenção; adoecendo para escapar da opressão autoritária de alguma incumbência... estas são apenas algumas das formas mais comuns de se colocar em prática esse mecanismo de preservação do direito inalienável de se ter a própria autonomia ou liberdade. Um bom exemplo de contra-controle coletivo pode ser constatado, anos atrás, numa pequena cidade mineira em que me encontrava. Lá havia um sujeito que, apesar de um tanto limitado em suas condições pessoais, adorava falar em público. Todos o sabiam e o respeitavam nesse seu direito. Era o dia 7 de setembro. Na praça da matriz, acontecia o encerramento do desfile comemorativo da Festa da Independência. As autoridades falaram ao microfone uma a uma. Ao término da última, o tal sujeito se apresentou para falar também. O mestre de cerimônias passou-lhe o microfone sem problemas. No mesmo instante, alguém que controlava o som, abaixou totalmente o volume. O público passou a conversar livremente, parecendo entender e já estar familiarizado com o que acontecia. Quando o tal sujeito deu mostras de estar encerrando sua fala, o povo bateu palmas, da mesma forma como o tinha feito com os oradores que o haviam precedido: uma típica solução mineira para algo que, em outro lugar, poderia se constituir como um delicado problema, difícil de ser resolvido sem causar máguas. Pessoas ou instituições muito controladoras correm o risco de mobilizar, naqueles sobre os quais exerce forte poder, mecanismos de contra-controle. A rosca do parafuso espana e o parafuso não consegue ser mais apertado do que já o foi.

Por José Morelli

2 comentários:

  1. Pergunta: Será esta uma competência que passa despercebida por aqueles que estão em uma posição de liderança?

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