quinta-feira, 7 de março de 2024

Protagonismo

Essa palavra tem estado presente na minha cabeça já há alguns dias. Julgo que não é à toa que isso vem acontecendo. Protagonismo é a função de quem assume desempenhar um papel proeminente. Pode ser de um ator ou de uma atriz principal, de um lutador (militar ou militante político), de um jogador de qualquer modalidade esportiva (Pelé/Messi/Neymar/Oscar/Ortência). Mas, o que imagino tem sido o que vem influenciando, com mais força, minha ideia fixa na palavra “protagonismo” é o que tenho ouvido a respeito da maneira como o Papa Francisco vem exercendo seu papel de líder religioso.

A última notícia que ouvi a respeito dele, foi a da visita que fez a um seu amigo, o pastor evangélico Giovanni Traetino, morador na cidade de Caserta, no sul da Itália. Foi a primeira vez que um Papa viajou do Vaticano para encontrar um pastor protestante. Esta visita já vem sendo qualificada como histórica. Na ocasião, o Papa afirmou que “entre as pessoas que perseguiram os pentecostais também houve católicos: eu sou o pastor dos católicos e peço perdão por aqueles irmãos e irmãs que não compreenderam e foram tentados pelo diabo”.

Após essa conversa privada, os dois religiosos foram de carro à igreja evangélica da reconciliação de Caserta, onde fiéis curiosos aguardavam a chegada do papa. Ali, o líder católico pediu que os cristãos se unam na diversidade, dizendo: “O Espírito Santo cria diversidade na Igreja. A diversidade é bela, mas o próprio Espírito Santo também cria unidade, para que a Igreja esteja unida na diversidade: para usar uma palavra bonita, uma diversidade reconciliadora”.

Confesso que, nos meus 72 anos de vida, nunca vi um papa que protagonizasse seu papel de líder religioso católico de forma tão expressiva e positiva. Protagonismo assim, me remete a Jesus Cristo. Ele foi e é o maior de todos os protagonistas que deixou sinais que permanecem vivos até os dias de hoje. Suas ações e palavras ainda têm força, passados dois mil anos de sua passagem pelo mundo.

Postado por José Morelli

 

"Processar informações"

Quem idealizou e construiu o computador foi o cérebro humano que, inspirando-se em si mesmo, criou-o também “à sua imagem e semelhança”. Encaixando-se ou desencaixando-se, os dados nele armazenados, de acordo com os sistemas previamente programados, podem ser processados de inúmeras formas, permitindo que se chegue aos mais diferentes resultados.

Se o computador possui essa similaridade com a mente humana nada impede de que a linguagem técnica a ele atribuída também possa ser, com as devidas ressalvas, utilizada no sentido de ajudar no entendimento dos processamentos das informações, obtidas através do aparato com que somos dotados por nossa capacidade de seres inteligentes.

Neste aparato, mediante terminais avançados, são captados estímulos produzidos por imagens tridimensionais coloridas, em branco e preto ou incolores, sons, sabores, cheiros e sensações táteis, além das percepções mais sutis captadas pelo chamado sexto sentido. Todos estes estímulos são transmitidos por neurotransmissores às respectivas regiões cerebrais de onde são acionados mecanismos de decodificação e de entendimento, dependendo da maneira como cada nova informação vai se encaixando ou se desencaixando, tudo isso de acordo com um direcionamento determinado por algum tipo de programação prévia.

As informações são tantas e tão variadas se constituindo em redes que se interligam umas com as outras. Desta forma, cada uma delas pode ser acessada como que através de links.  Numa vida inteira, são incontáveis as informações que um indivíduo recebe do ambiente em que vive e que são processadas por sua mente. Um aluno de universidade, em seu curso específico, é contemplado com informações especiais, tendo em vista seu preparo para o exercício de uma profissão.  O resultado final se constitui pela materialização destas informações em atitudes concretas. O número e a qualidade das informações concorrem para o bom resultado a ser obtido ao final do curso. No entanto, mais importante do que as informações em si mesmas é o processamento que delas cada mente é capaz de realizar.

Postado por José Morelli

Primeira menstruação

Além dos sinônimos: regras, mênstruo, menarca, incômodo, visita, encontrados no dicionário do Aurélio, tive conhecimento de mais um, bastante sugestivo e que me chamou a atenção pela originalidade: “PAPAI NOEL DA BARBA VERMELHA”.

Foi numa conversa que se deu entre uma senhora e uma pré adolescente:

- O “Papai Noel” já veio?

- Que “Papai Noel”?

- O da barba vermelha!?...

Desta forma, a simpática senhorinha se abriu uma porta para estabelecer um importante diálogo com sua sobrinha, no sentido de prepará-la para a primeira menstruação. O resultado foi ótimo. Ela nunca mais esqueceu. E isso já faz uns bons anos, numa pequena cidade do interior de Minas Gerais. Naquele tempo os preconceitos eram ainda mais fortes e dificultavam conversas abertas entre adolescentes e adultos, fossem eles pais ou educadores.  “Papai Noel da Barba Vermelha” é uma mistura de fantasia e realidade, que bem representam a transição e o choque entre fases da infância e da adolescência.

Os fatos, as reações que acompanham a primeira menstruação, podem marcar positiva ou negativamente a vida da menina moça. Mesmo hoje em dia, com tantos avanços, tantas aberturas, o despreparo e o preconceito ainda provocam atitudes que podem provocar traumas. A maneira de reagir à notícia, aquilo que se diz e o modo como se diz, o silêncio,... tudo isso pode ser muito importante e deixar marcas consciente ou inconscientemente.

A primeira menstruação demarca o término da fase da infância e o início da fase da adolescência. È uma transição que acarreta perda de coisas muito boas: aquela vida menos responsável, mais protegida e aconchegante, os brinquedos,... vão cedendo espaço às transformações corporais e hormonais. Os ganhos dessa nova fase vêm devagar e precisam de um preparo para serem bem assimilados e aproveitados: liberdade, gradativa autonomia, mais sentido de responsabilidade, desenvolvimento corporal e psicológico.

Encontrar uma forma de entrar no assunto. Ajudar. Aproveitar da abertura para falar de outras realidades correlatas e que ampliam o horizonte da vida que está desabrochando. Ressaltar os aspectos positivos sem simplesmente esconder os da realidade mais dura é uma arte e um significativo gesto de amor.

Postado por José \Morelli

Presunção de perfeição

Ser perfeito não é prerrogativa humana; uma vez que esta qualidade é somente atribuível a Deus. Na verdade, por mais esforço e boa vontade que um ser humano tenha, ainda assim, suas ações serão sempre passíveis de alguma imperfeição. É por isso que alguns professores, no intuito de avaliarem com mais justiça os trabalhos de seus alunos, estabelecem a comparação entre eles como critério a ser adotado em seu julgamento: o trabalho que se apresenta melhor fica com a nota mais alta. Os demais são avaliados com notas intermediárias até chegar ao último, aquele considerado com o menor número de acertos. Este receberá a nota mais baixa. Ajuda a entender melhor esse tipo de julgamento avaliativo o expresso no dito popular que diz assim: “Em terra de cegos, quem tem um olho é rei”.

Na dinâmica do dia a dia, as pessoas, instantaneamente, se comparam umas com as outras. A partir do juízo que formam de si mesmas se posicionam relativamente às imagens mentais que formam dos outros. Pela lei do menor esforço, frequentemente, os julgamentos são feitos mais pelo que se observa exteriormente, do que pela consideração da realidade interior (fundamental) inerente a cada pessoa.

A realidade que envolve os humanos na vida presente é a mesma para todos e todas. Por isso, o critério avaliativo utilizado por professores também deveria ser utilizado por todos nós, cidadãos e cidadãs, em nossas considerações e tratos mútuos, bem como os juízes em seus julgamentos e o povo, em geral, na consideração e escolha daqueles e daquelas a quem desejam eleger como seus representantes, nos parlamentos e no executivo.

É preciso muito cuidado com a presunção de perfeição que pode nos levar a verdadeiras alucinações, uma vez que não é difícil que ela se volte para nós como feitiço contra o próprio feiticeiro. O que o presunçoso faz com o outro, desvalorizando-o, pode ele próprio se tornar vítima de outra pessoa, ainda mais presunçosa do que ele que, arrogantemente, o desvaloriza e o coloca debaixo de seu sapato.

Postado por José Morelli

Portas e janelas

É difícil imaginar uma casa, por mais simples que ela seja, sem pelo menos uma porta e uma janela. Para poder servir a seu objetivo, toda casa precisa isolar-se do meio em que se encontra, separando o dentro do fora. O isolamento de uma casa não pode ser total. Portas e janelas têm a finalidade de diminuir essa separação, estabelecendo passagens do interior para o exterior, permitindo-lhe que nela possam entrar ou sair.

Através das portas, as pessoas entram e saem com facilidade. As janelas possuem outra finalidade. Através delas passam a luz do sol e o ar fresco, que mantém a casa mais clara, aquecida e arejada. Trancas, grades, fechaduras e cadeados são alguns dos acessórios que podem complementar portas e janelas. Nas zonas urbanas, as casas deixaram de ser apenas proteção contra bichos, frio, chuva e intempéries e passaram a ser, principalmente, proteção contra roubos e violências, sofisticando-se os sistemas de segurança.

Todo aparato de segurança que vemos emoldurando portas e janelas é um sinal do medo que os seres humanos nutrem uns pelos outros. Se as pessoas, assim protegidas, podem se sentir mais seguras, o que acontece quando essas mesmas pessoas saem de suas casas e se encontram mais expostas nas ruas?... É preciso que elas desenvolvam mecanismos psicológicos de proteção, no sentido de se firmarem em suas seguranças, não se deixando perturbar por medos, principalmente infundados. A discussão sobre posse e uso de armas de qualquer natureza ainda divide opiniões. O problema da violência possui muitas causas e merece ser estudado em profundidade por toda a sociedade. Certamente, a repressão não é única forma de resolvê-lo. Ações que ajudam as pessoas a se desenvolverem em suas capacidades construtivas precisam ser incentivadas e colocadas em prática.

Em lugares mais afastados do interior, principalmente nas fazendas e roças, portas e janelas ainda possuem suas funções de origem, sem grandes necessidades de aparatos de segurança. Os problemas que amedrontam as cidades ainda não chegaram a esses lugares. A timidez das pessoas que vivem mais distantes das cidades se deve à forma natural e simplicidade em que vivem. Uma melhor instrução e perspectiva de desenvolvimento é o que mais poderia garantir-lhes um sentimento de maior segurança em seus relacionamentos interpessoais.

Postado por José Morelli

Nas zonas urbanas e nas zonas rurais, tanto as casas como as pessoas precisam se relacionar com o que existe fora. Trancar e trancar-se não faz bem à saúde nem das casas nem das pessoas. O sol e o ar puro, bem como o compartilhar das boas qualidades desenvolvidas pelos seres humanos existem para servir ao benefício de cada um e de todos.

 

"Porão" da mente

Em casas mais antigas podem ser encontrados porões de vários tipos, alguns com mais facilidade de acesso outros com menos. Quanto à altura, há os que são mais rasos e os que permitem de adultos não precisarem se abaixar para neles permanecerem de pé. A luminosidade vinda de fora é, geralmente, pouca ou mesmo nula. Quem, na infância, passou pela experiência de entrar em um porão, com entrada de alçapão e sem escada, tendo que soltar as mãos para deixar-se cair até atingir o chão, traz guardado na memória a sensação que essa experiência costumava proporcionar. Os porões, em geral, possuem características parecidas, O status deles não goza do mesmo prestígio do que o dos outros cômodos mais nobres das moradias. Hoje, lugares que antes eram ocupados por porões, servem como espaços destinados a garagens para os carros, em casas ou prédios.

Quanto à utilidade dos porões, eles ainda são o lugar por excelência para onde são levados todos aqueles objetos e móveis que já não possuem lugar nos principais cômodos da casa. Ali podem ser encontrados estrados de camas velhas, armários, prateleiras, livros e discos em desuso e uma infinidade de outras tralhas que ainda não foram doadas para entidades beneficentes ou mandadas para o lixo. Sinais de um passado vivido podem ser reconhecidos em cada peça neles encontrada. Se as paredes dos porões tivessem olhos e ouvidos, certamente teriam muitas e muitas histórias para contar.

Paralelamente ao que acontece com as casas, nossa mente também não deixa de ter uma espécie de porão, no qual, consciente ou inconscientemente, à semelhança de utensílios em desuso, fomos depositando um a um os registros e as lembranças de fatos vivenciados e que fizeram parte de nossa história pessoal e familiar, principalmente.

De quando em quando, os porões precisam de uma reordenação total. A quantidade de tralhas passa a incomodar a ponto de não se poder esperar mais para arregaçar as mangas e vasculhar em tudo, reavaliando um a um cada objeto encontrado. Enquanto o corpo executada essa tarefa, a mente também retorna a seu próprio porão reencontrando suas antigas lembranças. Histórias boas e ruins, agradáveis e desagradáveis, voltam à tona. As mãos tocam e sentem os objetos. A mente sugere o que seria melhor fazer com cada um deles. Alguns papéis ainda são guardados, enquanto outros são rasgados para poderem ser reciclados e terem novas vidas, servindo a outras histórias, talvez menos desafortunadas que as por nós vivenciadas.

Mesmo que deixassem de existir porões nas casas, os da mente sempre existirão. Dentro de nós, o novo e o velho necessitam manter um diálogo quase constante. Do passado sempre se pode tirar, no presente, alguma boa lição... E o futuro não pode deixar de reconhecer e agradecer por isso!     

Postado por José Morelli

  

“POR AMOR DO MEU AMOR”

Esta frase compõe um pequeno texto - oração, pedido - atribuído a Santo Agostinho. Nascido no ano de 354 desta nossa era cristã, Agostinho de Hipona foi e é considerado um dos mais importantes teólogos e filósofos do início do cristianismo. Sua mãe, Santa Mônica, rezou muito para que seu filho abandonasse o ceticismo e a degradação moral que vivia e se convertesse ao catolicismo. As duas obras, mais conhecidas e escritas por Agostinho são: “Cidade de Deus” e “Confissões”.

O pequeno texto a que me referi acima tem como interlocutor a pessoa de Jesus. A este Agostinho chama de: Senhor. O pedido que faz a Ele começa assim: “QUE EU MORRA, SENHOR...”. (Aqui, o verbo morrer é utilizado em sentido amplo: literal e simbólico. A entrega da vida vivida, no dia a dia, pode ser mais significativa do que a daquele momento em que a mesma, simplesmente, tem por terminada sua passagem neste mundo).

 O texto tem sequência com mais uma frase: “Que eu morra, Senhor, POR AMOR DO TEU AMOR...”. (Aqui, a referência a que Agostinho alude é a do amor que Jesus demostrou ao derramar seu sangue no alto da cruz – morrendo em sentido literal e não apenas simbólico - oferecendo-se pelo resgate e salvação de toda a humanidade, sem exclusão de ninguém em todos os tempos e em todos os lugares). É por este amor de Jesus - por ele e por todos - que Agostinho pede para morrer também.

Concluindo o texto, vem mais uma última frase: “Que eu morra, Senhor, por amor do teu amor, QUE POR AMOR DO MEU AMOR SE DIGNOU MORRER” (Amor este que se encontra em Agostinho e nos demais seres humanos – como capacidade gratuitamente recebida de corresponder com a mesma medida: amor se retribui com amor). Finalizando, para que possa ser saboreado em toda sua profundidade, aqui vai o texto de Santo Agostinho por inteiro, tal como ele é conhecido e recitado por muitos que o conhecem e nele encontram sentido: “QUE EU MORRA, SENHOR, POR AMOR DO TEU AMOR; QUE, POR AMOR DO MEU AMOR SE DIGNOU MORRER!”.   

Páscoa é renascimento, ressurreição. Uma celebração da vitória da vida sobre a morte, da vitória da verdade sobre a mentira, da vitória do amor sobre o ódio. Feliz Páscoa!

Postado por José Morelli